O filho cristão comum
R. C. Sproul Jr. Maio de 2016 - Vida Cristã
Ficou bastante na moda, em alguns círculos estes dias, condenar a ascensão na igreja do que chamamos de “culto à personalidade”, e com razão. Um grupo cada vez maior, consumido pelo consumo de ensino teológico e bíblico através de meios de comunicação diversos, enfrentará a tentação de elevar certas vozes, tomar partido, defender bandeiras e oferecer lealdade cega a uma marca cuidadosamente elaborada. Nós escolhemos nossos líderes de culto talvez por gostarmos de sua perspectiva teológica, talvez por gostarmos de seu estilo de ensino. Pode ser que nosso líder defenda nossa causa favorita. Ou pode ser simplesmente seu encanto. Por sermos fábricas de ídolos, cercamo-nos deles.
Esse problema, é claro, não é novo. O Novo Testamento não apenas conheceu sua cota de autoproclamados “superapóstolos”, como ainda tinha alguns homens perfeitamente humildes e piedosos que as pessoas colocavam em um pedestal: “Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas” (cf. 1Coríntios 1.12) não é um julgamento sobre Paulo, Apolo ou Pedro, mas sobre aqueles que fizeram deles ídolos. Suspeito que o problema permaneça conosco hoje porque cair nele, na verdade, traz um parentesco próximo com algo para o qual a Bíblia realmente nos chama: seguir o exemplo daqueles que são nossos superiores espirituais. Paulo, afinal, nos chama a imitá-lo como ele imita a Cristo (1Coríntios 11.1).
O verdadeiro problema é que nossos padrões estão desregulados. Embora não haja nada de errado em ter uma perspectiva teológica sadia ou estilo de ensino agradável, em defender causas importantes ou mesmo em ter algum encanto, estas não são razões boas e bíblicas para erguer um homem como exemplo para nós. A Bíblia nos dá uma lista do que procurar nos homens a quem devemos admirar. Essas coisas podem ser encontradas na primeira carta de Paulo a Timóteo (3.1-7), ou em sua carta a Tito (1.5-9), onde ele descreve as qualidades de um bispo (ou presbítero). Os padrões aqui não são tão glamorosos. Um presbítero é o marido de uma só mulher. Ele não é dado a muito vinho. Ele é sóbrio, não violento. Ele governa a bem a sua própria casa.
Muitos anos atrás, o Ministério Highlands, assim como o Ligonier antes dele, costumava acolher estudantes para longos períodos de estudo. Esses estudantes muitas vezes ficavam em minha casa. Eu suspeito que muitos dos jovens que se inscreveram pensavam algo do tipo: “Eu não fui convidado para estudar com o meu herói, R. C. Sproul. Mas eu posso estudar com alguém que tem o mesmo herói, que viveu e estudou com ele: R. C. Sproul Jr.”. Eu suspeito que muitos destes jovens se viam no caminho da grandeza. Então, eu jogava com isso.
Quando nos encontrávamos pela primeira vez, eu lhes perguntava: “Você quer fazer uma diferença no reino? Você quer ter um impacto duradouro, por várias gerações? Você quer fazer grandes coisas para fazer avançar a causa de Cristo?”. A esta altura, eles já estavam na beirada da cadeira, acreditando que estavam prestes a ouvir o segredo que vieram descobrir.
“Tudo bem”, eu dizia, “vou lhe dizer como fazer isso. Está vendo aquela mulher lá dentro?”. Eu apontava para a cozinha, onde minha amada esposa estava trabalhando duro. “Sim, sim, vejo”, eles respondiam. “Eis o que você precisa fazer”, eu dizia. “Encontre uma mulher piedosa assim, case-se com ela, e então crie filhos piedosos”. Eles ficavam ainda mais ansiosos, esperando o truque final; e eu me recostava de volta em minha cadeira, já tendo finalizado.
É um truísmo dizer que quanto mais você se anima com algo, mais disso você terá. Quando derramamos elogios sobre os homens por sua genialidade, suas realizações acadêmicas e suas apresentações hábeis, então devemos esperar obter mais genialidade, realizações acadêmicas e apresentações hábeis. Mas o que aconteceria se nos animássemos com aquilo que Paulo se animava? E se crêssemos em Deus o suficiente para acreditar que o poder está no comum: em maridos que amam suas esposas como Cristo ama a Igreja, em pais que educam os filhos na disciplina e admoestação do Senhor? Não teríamos mais disso?
Quando me perguntam, como acontece com frequência, ‘Como foi ter R. C. Sproul como pai”, minha suposição é que as pessoas estão curiosas sobre o impacto em mim de ter um pai que é teologicamente sadio, um bom comunicador, apoiador de causas bíblicas e, verdade seja dita, encantador. Meu pai é todas essas coisas, e não há nada de errado nisso. Mas o mundo e a eternidade foram transformados porque ele, juntamente com a minha mãe, criou minha irmã e eu na disciplina e admoestação do Senhor. O mundo foi mudado porque meus pais buscaram primeiro o reino de Deus e a sua justiça de maneiras comuns, em um lar comum, como pais comuns, criando filhos comuns.
Não precisamos de habilidades especiais ou oportunidades especiais para fazer coisas extraordinárias para o reino. Precisamos apenas servir ao nosso Senhor extraordinário de maneira comum. E ele abençoa, e abençoará, esse serviço. Não precisamos de outro herói. Nós mudamos o mundo, uma fralda de cada vez. Porque dos tais é o reino de Deus.
Tradução: João Paulo Aragão da Guia Oliveira
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