xmlns:b='http://www.google.com/2005/gml/b'xmlns:data='http://www.google.com/2005/gml/data' xmlns:expr='http://www.google.com/2005/gml/expr'> Vida Cristã: Um conto de Natal

sexta-feira, 24 de março de 2017

Um conto de Natal










                         Um conto de Natal





“Para começo de história, Cristo está vivo”.
Se Charles Dickens tivesse sido inspirado a escrever um livro do Novo Testamento, suspeito que o começo teria sido esse – pois essa verdade é o fundamento do Cristianismo: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1 Coríntios 15.17). Mas essa epígrafe é, como se sabe, uma modificação do verso de abertura de seu famoso Um conto de Natal (L&PM Pocket). Este clássico merecidamente celebrado narra a experiência apavorante, mas moralmente reformadora, de Ebenezer Scrooge, como um sovina indelicado e insensível que se pavoneava na terra. Sucessivamente assombrado por fantasmas dos natais passado, presente e futuro, os olhos de Scrooge são abertos para seu próprio egoísmo desprezível, incitando arrependimento e uma alteração dramática de seu comportamento mesquinho e desumano.
A história de Scrooge é atemporal porque é uma história espiritual. Sua transformação ecoa a de Zaqueu (Lucas 19), o contraponto do jovem monarca rico cuja incapacidade de desapegar-se das coisas deste mundo introduz o ensino de Cristo segundo o qual “é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus” (Mateus 19.24). Quando encontramos Scrooge pela primeira vez, ele é esse homem rico. Seu amor ao dinheiro quase extinguiu as faíscas de amor e alegria que crepitam convulsivamente entre as sombras aglomeradas de seu coração tenebroso. Sua condição lamentável é posta em evidência quando examinada no brilho do Natal, “uma época de gentileza, perdão, caridade e alegria”, quando corações trancafiados são abertos para deixar entrar a luz da gentileza e refleti-la de volta.
Nascimento não, morte
Apesar de sua longa associação com o natal, o conto de Dickens começa não com um nascimento, mas com uma morte – a morte do velho Marley, antigo companheiro de negócios de Scrooge. Para dizer a verdade, a morte subjaz toda história: ela projeta uma sombra sobre as memórias passadas de Scrooge; esconde-se por trás dos adornos das celebrações presentes; aguarda suas vítimas inevitáveis no futuro. Scrooge, certamente, está cônscio da morte. Ele inclusive a recomenda ao pobre como um meio de mitigar o excesso populacional. Mas fica evidente que ele jamais pensou nisso como aplicável ou relevante para si. Isso começa a mudar quando ele é confrontado pelo fantasma do finado Marley, que lhe aparece para fazê-lo aceitar a morte e suas consequências – para adverti-lo a sair da estrada funesta em que ele anda ou sofrer castigos eternos. Preso aos grilhões da morte e do tormento, ele vem para oferecer a Scrooge “uma chance e uma esperança” de escapar desse destino apavorante.
“Três espíritos virão visitar você”, Marley diz a Scrooge. Os espíritos mostram muitas coisas a ele, mas o que todos eles revelam em conjunto é a separação progressiva de Scrooge de sua humanidade. Todavia, Scrooge não está de todo perdido. Pequenos remorsos começam a lhe ocorrer logo no início de suas visitações espectrais. Os espíritos são peritos no assunto, abanando essas brasas de remorso para que se transformem em chamas de arrependimento. Mas é o terceiro espírito, de aspecto medonho, a quem Scrooge se refere como um “Fantasma”, que faz com que ele se ajoelhe e implore por uma chance de consertar seus caminhos. As visões presididas por essa aparição ameaçadora, que sequer proporciona os confortos do discurso, não são aliviadas nem pelas doçuras da lembrança nem pelos lampejos da alegria presente. Scrooge é levado a encarar a sua própria morte, sua separação final do mundo. Mas não é meramente sua morte, mas especialmente o tipo de morte que abala Scrooge: uma morte não pranteada e até mesmo comemorada; uma morte que revela o vazio e egoísmo absoluto de sua vida.
O resultado das experiências sobrenaturais de Scrooge é que ele é renascido em um homem bom. Ele começa imediatamente a melhorar, a mostrar compaixão e benevolência, a mudança em seu coração manifesta através de boas obras: “E todos concordavam em dizer que ali estava um homem que sabia celebrar o natal e manter seu espírito vivo o ano todo – se é que algum homem consegue isso”. A sombra da morte produziu vida.
O verdadeiro espírito do Natal
Quando Marley aparece pela primeira vez, Scrooge, o homem mais prático do mundo, deseja constatar que o fantasma seja de fato real, e não uma ilusão gastronomicamente inspirada. De fato, ele começa a entrevista recusando-se categoricamente a acreditar em sua realidade. Contudo, ele precisa passar a aceitar essa realidade caso queira passar por qualquer correção moral, e o fantasma insiste que ele faça isso. “Que provas deseja de que eu existo, além daquelas que seus olhos e ouvidos já lhe deram?”, Marley desafia. Mas a preocupação em estabelecer a realidade da visitação não é só do fantasma: o narrador insiste nisso. “Não há dúvida alguma de que Marley estava morto. Isso precisa ficar bem claro, ou nada de espantoso sairá dessa história”. Não só os leitores devem aceitar esse fato, nós também devemos entender que Scrooge também sabe disso: “Scrooge sabia que ele estava morto? Claro que sabia. Como não iria saber?”
Este episódio lembra a aparição de Cristo aos seus discípulos. Eles sabiam que ele estava morto, contudo viram-no agora vivo. Ele lhes apareceu não como um espírito (que é o que eles temiam), mas em corpo com “carne e ossos” (Lucas 24.37-39) – o que ele demonstrou quando comeu na frente deles. Ele convenceu até mesmo o mais obstinado dos céticos, Tomé, ao apelar para os seus sentidos: “Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente” (João 20.27). A visitação é real. Cristo ressurgiu do túmulo e apareceu a eles, não como uma sombra atormentada, mas como o senhor da morte e rei da vida.
Na história de Dickens, Scrooge reforma sua vida em relação à sua humanidade. Mas a realidade da ressurreição é muito mais poderosa. A fé em Cristo não apenas reforma, ela também transforma. Sua morte e ressurreição significam que estamos mortos para o pecado e vivos em Cristo (Romanos 6.11). Nós também temos sido visitados por um Espírito, que oferece não somente “oportunidade e esperança”, mas uma vitória segura sobre a morte espiritual. Para todos os que creem, a morte de Cristo produziu o nosso novo nascimento. Se conservarmos essa graça, manteremos o espírito do Natal vivo o ano todo.

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