Sal da terra e luz do mundo
Ao terminar as bem-aventuranças (Mateus 5.1-12) no sermão da montanha, Jesus descreve a atitude do mundo para com os crentes (5.11-12). E logo em seguida mostra a influência dos verdadeiros discípulos sobre o mundo, dizendo: “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” (5.14-16).
Mas, o que é ser sal da terra e luz do mundo? Jesus apresenta duas pressuposições ao se utilizar dessas figuras. A primeira delas, quando usa a figura do sal com sua propriedade de conservar, se refere ao fato de que o mundo não possui força própria para preservar a si mesmo. A humanidade é autofágica, autodestrutiva. Basta observar como sempre temos a impressão de que ontem havia menos violência, menos corrupção, menos maldade do que vemos hoje. É sempre possível se surpreender com um mal maior. A segunda, ao utilizar a figura da luz, se refere ao fato de que o mundo não possui luz própria. A luz nas figuras bíblicas representa o pleno conhecimento de Deus, a sabedoria, a justiça, verdadeira felicidade e direção. O mundo não tem nada disso. Está em trevas no sentido da depravação e da ausência de direção, como quem corre atrás do vento.Diante desse quadro, Jesus faz duas afirmações desafiadoras.
A primeira delas, ao dizer que nós somos o sal da terra, ele está afirmando que nós somos o método de Deus. Jesus fez seu discurso longe de estruturas institucionais, longe das cidades, templos e sinagogas, longe das estruturas políticas e econômicas. Ele estava deixando claro que nossas estruturas eclesiásticas, nossas placas, bandeiras e manuais não são o Sal da terra. Nossos templos, métodos, estratégias litúrgicas, influencia na mídia, não são sal da Terra. Homens crentes é que o são. Os discípulos são o método de Deus para levar transformação ao mundo. Mas, “constantemente nos esforçamos por criar novos métodos, novos planos, para garantir eficiência da Igreja e nos esquecemos que o homem é o método de Deus. A Igreja procura métodos melhores. Deus procura homens melhores.” (Bounds).
A segunda, ao dizer que somos a luz do mundo, ele afirma que somos os refletores do brilho do evangelho de Cristo. A fonte da luz verdadeira é o próprio Jesus. Ele é a Estrela da manhã e a luz do mundo original. Nós somos o método escolhido por Deus para refletir essa luz no mundo (Jo 1.4, 8). Mas, isso requer exposição constante à luz (Jo 15.4-5). Não seremos luz do mundo sem comunhão íntima e profunda com Deus. Sem relacionamento com ele, a luz permanecerá oculta. É por isso que Jesus afirma que uma cidade construída no topo de um monte não pode ficar escondida por causa das luzes que brilham em todos os cantos. Quem possui a luz de Cristo não consegue escondê-la porque é luz de Cristo.
Nós somos o sal da terra e a luz do mundo: o método de Deus e o reflexo do brilho da luz de Cristo no mundo. Por isso, a pergunta que fica é como a luz de Cristo tem brilhado em sua vida a cada dia? Vale lembrar a advertência de um filósofo ateu: “Os cristãos deviam brilhar mais; então eu acreditaria no salvador deles. Nem todos os que se chamam cristãos são luzes. Uma vela ainda não é uma luz, a menos que esteja acesa” (Friedrich Nietzsche).
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