Jesus Transforma Água em Vinho João 2: 1-11
1. JESUS PARTICIPA DA VIDA SOCIAL.
a) Jesus é convidado para o casamento
b) Uma festa em família
c) A falta do vinho
2. JESUS TRANSFORMA ÁGUA EM VINHO.
a) Uma nova época estava se inaugurando
b) O vinho novo é o símbolo do sangue
c) A transformação de coisas comuns
3. DA ÁGUA PARA O VINHO NAS PRIORIDADES DA VIDA.
a) Da água para o vinho na relação com Deus
b) Quanto ao tratamento "mulher"
c) Quanto à ordem de Jesus de encher as talhas
4. JESUS REALIZA O MILAGRE DA PROVISÃO.
a) As talhas de pedra
b) A operação do poder criador de Jesus
c) O melhor ainda está por vir
1. JESUS PARTICIPA DA VIDA SOCIAL.
O milagre da transformação da água em vinho ilustra o propósito do Evangelho de João, a saber: despertar a fé na divindade de Cristo e em Cristo, como o Messias. João nos conta como este milagre o convenceu, juntamente com os demais discípulos, da natureza divina de Cristo (2.11), e registra o incidente para que a nossa fé também possa ser despertada e aumentada. A presença do nosso Senhor no casamento sugere as seguintes lições: Jesus aprova a vida social. Jesus não era um religioso sombrio com rosto desagradável que se esquivava do contato com as pessoas. Comia juntamente com fariseus e publicanos com sociabilidade imparcial. Não consta ter recusado a hospitalidade de quem quer que seja, a ponto de os formalistas levantarem a acusação de ser ele "glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores". Não era verdadeira a acusação, mas pelo menos ressaltou a verdade de que Cristo não aborrecia o convívio de grupos sociais, e que gostava de estar com pessoas. Procurava a companhia das pessoas a fim de espalhar a sua influência e doutrina, e para deixar que as pessoas o conhecessem e, por meio dele, à graça de Deus. O Senhor Jesus acreditava em "separação" tão profundamente como os próprios fariseus (que formavam o partido "da separação"); mas, enquanto estes se afastariam dos pecadores e continuavam a dar guarida ao pecado no coração (Mt 23.25-28), Jesus se conservava separado do pecado e dava as boas-vindas aos pecadores, a fim de salvá-los. Noutras palavras, ele estava interiormente separado dos pecadores, enquanto mantinha com eles contato exterior. Devemos seguir seu exemplo nesta matéria. Somos o sal da terra, mas, a fim de sermos eficazes, precisamos entrar 'em contato com aquilo que precisa ser salgado; para sermos pescadores dos homens, devemos ir para onde estão os peixes; para sermos luz do mundo, devemos aparecer e brilhar.
João comenta que com este milagre começaram os sinais, que iriam manifestar a glória de Jesus, seu poder salvífico e sua divindade. E seus discípulos haveriam de acreditar n'Ele. Pois, através deles, Jesus se revela o Salvador. Aquele que traz ao seu povo os bens messiânicos prometidos, o pão da vida e a luz do mundo. Jesus continua na historia operando sinais para conduzir os homens à salvação e atrair para Ele novos discípulos. Mas, para enxerga-los é preciso abertura às realidades que estão acima de nossa razão e de nosso mundo. É preciso disponibilidade para acolher, na fé, uma mensagem que não é desta terra. É necessária a humildade para crer. Crer sem ver. Crer não porque somos levados a isto por um raciocínio humano. Mas, porque o poder de Deus se manifesta em nós e nos deixamos arrastar por ele. Porque não lhe opomos obstáculos. Se não cremos, dobremos os joelhos e exclamemos: Senhor, se existes, dá-me a força de crer.
a) Jesus é convidado para o casamento
Cristo aprova o casamento. Nenhum relacionamento humano tipifica um mistério espiritual tão profundo (Jo 3.2; Mt 9.15; 22.1-14; 25.10; Ap 19.7; 22.17; 2 Co 11). É digno, portanto, da mais elevada honra. Cristo previu, também, que surgiriam na igreja aqueles que menos prezariam o casamento (1Tm 4.3), ou que não perceberiam toda i a dignidade e honra da faIn11ia cristã. Lição prática: a presença de Cristo é essencial ao casamento feliz. Cristo aprova a alegria inocente. Embora nosso Senhor fosse homem de dores, carregando, lá no íntimo, o fardo do pecado e da tristeza do mundo inteiro, parece que era o lado alegre da sua natureza que ele apresentava às pessoas. Seu nascimento foi anunciado como boas-novas de grande alegria. Uma das suas exortações favoritas era: "Tende bom ânimo"; a palavra "alegria" ocupava um lugar de honra no seu vocabulário. Não há dúvida de que Ele dirigia os pensamentos dos homens às realidades solenes da vida, mas, ao mesmo tempo, oferecia-lhes gozo inefável e cheio de glória. Uma ilustração do Reino dos céus que Ele freqüentemente citava era a de um banquete de casamento, e quando os discípulos de João queriam saber por que os de Jesus não jejuavam, empregou a mesma ilustração: "Então chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão" (Mt 9.14,15). O texto que temos diante de nós é muito conhecido. Isso pode ser bom por que pisamos um terreno que nos é familiar. Por outro lado, pode ser prejudicial, pois em virtude de já estarmos acostumados com ele corremos o risco de perder de vista a riqueza dos detalhes a sua tessitura, sua organização, sua contextura.
O texto, às vezes se parece com um quadro antigo, é preciso remover-lhe a poeira para que possamos vê-lo em todas as suas nuances. Para enxergar bem um texto é preciso, retirar a poeira das camadas de interpretações que o tempo legou para não fazer uma leitura condicionada do texto. Nesse texto, já tão familiar, consigo enxergar nas atitudes de Jesus e no fato em si, sinais de subversão. Aliás, a palavra subversão, precisa ser resgatada de uma conotação puramente negativa. A subversão de Jesus é positiva. Ele está confrontando a velha ordem de uma religiosidade mecânica e escravizante para estabelecer uma nova cheia de vida, liberdade e espontaneidade.
Por isso, quero convidá-los acompanhar comigo alguns dos aspectos desse episódio em que Jesus quebra as nossas expectativas triunfalistas e espetaculares para, subvertendo a ordem realizar o incomum e o extraordinário, em meio às coisas comuns, simples e cotidianas.
b) Uma festa em família
Jesus está presente nos eventos simples da nossa vida comum. O primeiro milagre de Jesus Cristo não é em um culto. Nem no Templo. É significativo que o primeiro milagre de Cristo acontece em um evento social de uma pequena aldeia. Nós costumamos associar a presença de Cristo ao culto, ao templo, a reuniões de orações. E tudo isso é verdadeiro e é de profunda importância para a vida do Crente. Jesus tinha pouco tempo para realizar o seu ministério, mas ele não considerou perda de tempo atender a um convite para ir a um casamento. Não podemos aqui, nos esquecer que uma festa de casamento podia durar até uma semana.
Se enquanto aqui na terra Jesus participava de eventos da vida cotidiana, também é verdadeiro que hoje, ressurreto, ele está presente nos eventos da nossa vida comum. Ele vai conosco aos estádios de futebol, ele está presente em nossas festas de aniversários, no nosso veraneio, quando namoramos, quando vamos ao cinema.
Quando vamos a igreja não vamos nos encontrar com o Senhor; vamos nos encontrar com os irmãos para adora-lo, pois ele estava conosco em casa, estava conosco quando chegamos e estará conosco quando sairmos.
A dicotomia, culto-vida, é perigosa, pois nos leva a uma religiosidade e uma ética de ocasião.
c) A falta do vinho
Jesus está presente nos eventos de gente comum. Não há menção do nome dos noivos, da sua posição, é gente comum. Com certeza os seus nomes nem estavam presentes nas colunas sociais de Israel. Não era ninguém da alta sociedade, não estavam muito preocupados se a roupa era fashion ou era básica; os convidados não tinham comprado roupa na "Daslu", talvez na Riachuelo ou até mesmo em uma loja mais popular. Jesus estava ali, aquele que criou todas as coisas e que sem ele nada do que foi feito se fez, não se impressiona com títulos de nobreza, com saldo da conta bancária, com posições sociais ou eclesiásticas. Mas, se convidado e quando as portas se abrem ele vai na casa dos simples, como este casal de noivos, ou quando lhe convém na casa dos rejeitados como a de Zaqueu. Pode ser que o prefeito não visite a sua casa, e muito menos o governador ou o presidente. Mas Jesus, não se escusa de estar lá.
2. JESUS TRANSFORMA ÁGUA EM VINHO.
a) Uma nova época estava se inaugurando
Naquela época não era diferente, aliás, era muito mais levado em conta por causa da cultura da hospitalidade que até hoje é muito forte naquela região. O convidado tem que ser bem tratado. Agora vocês imaginem uma festa de casamento, no meio da festa faltou o vinho. Para os rabinos o vinho era o símbolo da alegria, não podia faltar em uma festa judaica, ainda menos, em um casamento. O primeiro milagre de Jesus atende a um problema comum a todos nós sobrou convidado, faltou refrigerante na festa. Creio que esse episódio tem o condão de nos ensinar que Jesus está preocupado com os pequenos problemas da nossa vida. Ele é o Deus a quem recorremos na mais profunda angústia, mas é o Deus a quem recorremos, também, nos aspectos de nossa vida cotidiana. Há um conceito errôneo de que não devemos incomodar a Deus com coisas pequenas, como se Deus fosse como nós que nos aborrecemos e nos impacientamos às vezes até exageradamente. Como um Deus amoroso ele nos entende e nos acolhe até mesmo nas pequenas coisas da nossa vida.
b) O vinho novo é o símbolo do sangue
Jesus usou objetos dos rituais religiosos para um propósito aparentemente comum. Aqueles potes eram para purificação ritual, Jesus os transforma em objetos da promoção do lúdico, do festivo. Não é por acaso que João coloca o episódio da purificação do templo logo após a festa de casamento, há um contraste intencional por parte do evangelista.
Durante muito tempo, por força de uma tradição que não defluia da Bíblia, o culto tinha uma imagem soturna e triste. Era pesado e cheio de algemas. Não pode se mexer, não pode levantar a mão, não pode sair do canto, não pode cumprimentar o irmão. Reverência, parecia sinônimo de triste, funesto. Algumas igrejas, até colocavam como ameaça: "O Senhor está no seu santo templo, cale-se diante dele..." Se é pra levar para o literal ninguém podia cantar, nem orar, nem pregar. A igreja tinha que ser composta de mudos. Reverência não era sinal de respeito, de percepção da majestade e da grandeza de Deus. Mas imobilidade, mumificação. Tudo era programado e robotizado. Penso que era para espantar a espontaneidade e a alegria. A liturgia era tão rígida e fechada que não tinha lugar nem para o Espírito Santo. Era a ditadura, o despotismo do ritualismo. No tempo de Jesus não era diferente, o que era um meio, virou um fim em si mesmo. Jesus rompe com os conceitos de sacralização da época. Ele profaniza o sagrado e sacraliza o profano.
Sagrado para Jesus não é o que o homem estabelece, mas, aquilo que Deus assim o considera.É por isso que Ele disse aos escribas e fariseus: "vocês me honram inutilmente ensinando doutrinas e preceitos que são de homens e não de Deus". Quantas divisões de igreja, quanta dissensão entre irmãos, ditas em nome de Jesus, por causa de questões insignificantes que na verdade eram idiossincrasias e manias de certos crentes.
c) A transformação de coisas comuns
Há muita esquisitice, muita tresvaria, muita loucura, muito delírio sendo cometido em nome de Jesus. As talhas eram para purificação? Não tem problemas, Jesus as usa para fazer o vinho da festa. A velha ordem ritualística perde o seu sentido. Ele acaba como o fetichismo dos objetos. Santo é Ele. Santo é o que ele santifica. O Sábado foi feito para o homem. O homem foi feito para ser servo de Deus não escravo de ritos humanos. Deus não está restrito às paredes de um templo. Nem o universo pode conte-lo. Mas Ele faz do homem a sua habitação. Jesus usa objetos da purificação para fazer a festa na casa e purifica o templo com um chicote. Na festa Ele faz milagre, no Templo Ele se revolta. Às vezes queremos ensinar a Deus o que é santo e o que é profano. Pedro viveu essa experiência no episódio do lençol conforme está no livro de Atos dos Apóstolos Capítulo 11. Chegou ao conhecimento dos apóstolos e dos irmãos que estavam na Judéia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus. Quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram da circuncisão o argüiram, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles. Então, Pedro passou a fazer-lhes uma exposição por ordem, dizendo: Eu estava na cidade de Jope orando e, num êxtase, tive uma visão em que observei descer um objeto como se fosse um grande lençol baixado do céu pelas quatro pontas e vindo até perto de mim. E, fitando para dentro dele os olhos, vi quadrúpedes da terra, feras, répteis e aves do céu. Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Ao que eu respondi: de modo nenhum, Senhor; porque jamais entrou em minha boca qualquer coisa comum ou imunda. Segunda vez, falou a voz do céu: Ao que Deus purificou não consideres comum. Isto sucedeu por três vezes, e, de novo, tudo se recolheu para o céu. E eis que, na mesma hora, pararam junto da casa em que estávamos três homens enviados de Cesaréia para se encontrarem comigo.
3. DA ÁGUA PARA O VINHO NAS PRIORIDADES DA VIDA.
Creio que esse episódio nos ensina a não querermos tomar o lugar de Deus colocando sobre os outros, fardos inúteis e desnecessários, usos e costumes que não refletem o desejo do coração de Deus, mas, os nossos gostos e as nossas vontades. Deus não tem predileção por calça comprida ou saia. Uma não é mais sagrada do que a outra. A palavra de Deus condena a exposição do corpo, a roupa sensual, a vaidade. Não foi Deus que instituiu o paletó e a gravata. Embora os use não me considero mais santo ou menos pecador por estar usando. Talvez, mais elegante, apesar da protuberância abdominal. Não foi Deus quem estabeleceu que o órgão é mais santo do que a bateria, fomos nós.
a) Da água para o vinho na relação com Deus
Jesus, não está preso às convenções humanas, conceitos ou preconceitos. Ele está sempre destruindo essa perigosa e sutil forma de idolatria. Os grandes eventos da vida de Cristo acontecem em lugares simples, até rústicos. Jesus nasce em uma estrebaria é posto numa manjedoura, junto com animais; inicia o seu ministério com um milagre numa humilde casa de uma pequena aldeia e morre em uma rude cruz fora da cidade... Deus não se impressiona com os vitrais das grandes catedrais. Com os diplomas das grandes universidades, com a pompa das grandes festas. Deus ri da tolice e da vaidade humana. Não é no templo de Jerusalém o centro da vida econômica que Jesus nasce e exerce o seu ministério. Grande parte do seu ministério. Jerusalém, é na verdade o lugar do confronto. Ele é morto e sepultado fora dela. Deus não se impressiona com as estatísticas evangelísticas, nem tem compromisso com os títulos ministeriais, ou com as grifes da fé. Muitas vezes o seu poder se manifesta nas congregações acanhadas das periferias; os seus milagres acontecem em pequenas reuniões de gente simples e desconhecida, pois a glória só pertence a Ele. Ele não atende aos cartazes que anunciam os seus milagres. Visto que Ele não foi consultado e Ele não obedece a nossa agenda. Ele é livre e soberano. A nossa época é a época do espetacular, do mega, dos grandes números das grandes estatísticas. Achamos que as coisas grandes é que são importantes, que as coisas de muito valor é que são importantes. Jesus, porém, vem nos ensinar a buscá-lo e a experimentá-lo nas coisas da nossa vida cotidiana. Lavando a louça, passando a roupa, lavando o carro, brincando com os filhos e com os netos. Sorrindo com os amigos, passeando no shopping, conversando com os vizinhos, visitando os irmãos. O Jesus do culto está conosco a cada instante. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus (1Coríntios 1. 25).
b) Quanto ao tratamento "mulher"
"E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho". O esgotamento do suprimento de vinho pode ter surgido por três razões: o número inesperado dos discípulos de Cristo, o prolongamento da festa por sete dias, segundo o costume ou as dificuldades financeiras do noivo e da noiva. A sugestão ansiosa. Maria, decerto, tem íntima conexão com a família que celebrava o casamento, como se percebe do seu conhecimento da falta de vinho e das ordens que deu aos serventes. A falta de vinho em tal ocasião seria uma desonra para o hospedeiro e para o casamento que estava sendo festejado. Assim, Maria sussurrou, ansiosamente, a informação: "Não têm vinho". Lembrando-se das declarações proféticas feitas acerca da grandeza do seu Filho (Lc 1.30-35), ela acreditava ter ele poderes suficientes para suprir a necessidade e tirar o hospedeiro do embaraço. Maria, vendo o seu Filho cercado pelos seus discípulos, sente a esperança secreta que nutria em silêncio durante tantos anos irromper em ardor flamejante, e volta-se a ele, demonstrando uma bela fé em seu poder para ajudar, mesmo na pequena necessidade do momento. Será que ela já presenciara alguma manifestação do seu poder miraculoso? Leia o versículo 11. A firme ressalva. "Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? ainda não é chegada a minha hora". Tal linguagem não dá a entender nenhuma falta de respeito porque a palavra "mulher", equivalente a "senhora", foi a mesma que Jesus dirigiu a ela nos momentos finais de sua vida terrestre: "Mulher, eis aí o teu filho" (Jo 19.26). Era um termo de respeito que se empregava até quando se dirigia a uma rainha.
Mesmo assim, a linguagem dá a entender uma mudança j de relacionamento entre Jesus e Maria. Ela já não era "mãe", e sim "mulher". O período de sujeição a Maria chegou ao fim. Ele agora é o Messias, o Servo do Senhor, e seu relacionamento são o de Messias e discípulo (At 1.14).
Jesus, por assim dizer, indicava: "É verdade que o relacionamento natural entre nós é o de mãe e filho; lembre-se, porém, de que a minha vida é vivida na esfera de um relacionamento mais alto (Lc 2.48,49). Como Filho de Deus, devo doravante agir e trabalhar segundo o tempo e a maneira que meu Pai manda. O tempo e a maneira do meu ministério dependem de considerações mais altas do que as de carne e sangue" (Mt 12.46-50).
Muitas vezes acontece que uma mãe chega ao reconhecimento, talvez doloroso, de que quem foi seu "menino" entrou numa esfera de vida mais ampla, além de influência e controle, da qual ela não pode participar.
c) Quanto à ordem de Jesus de encher as talhas
A humilde aquiescência. Maria rapidamente entendeu a situação e aceitou-a com doçura e humildade; em seguida, disse aos serventes: "Fazei tudo quanto ele vos disser". Sua fé lançou mão daquela pequena centelha de esperança "ainda não" (v. 4) - e fê-la transformar-se em chama viva. Com firme confiança, apesar da suave chamada de atenção recebida, Maria deixou tudo nas mãos de Jesus. Nós também devemos nos submeter a Ele, confiando que atenderá às nossas petições, e isto como e quando lhe convier. O Suprimento Milagroso (João 2.6-10). "E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus para lavarem-se cerimonialmente. Disse-lhes Jesus: Encham d'água essas talhas. E encheram-nas totalmente". A realidade. As circunstâncias do milagre dissipam qualquer dúvida quanto à sua realidade: as talhas eram especificamente para água, não havendo a possibilidade de se sugerir a presença de sedimentos no fundo que emprestassem o gosto de vinho à água; sua presença ali era normal, e não premeditada, de acordo com o costume dos judeus de lavagem (Mt 15.2; Mc 7.2-4; Lc 11.38); a quantidade era enorme, muito mais do que se poderia ter trazido secretamente; as talhas estavam vazias, e os empregados sabiam que foi com água que passaram a enchê-las. O mistério. O processo pelo qual a água foi transformada em vinho era divino; nenhuma palavra foi escrita sobre o método da operação do milagre, nem sequer se menciona que o milagre foi operado; simplesmente nos é informado o que aconteceu antes e depois do milagre. Jesus não enunciou qualquer palavra de ordem, nem empregou qualquer meio: bastava o silencioso exercício da sua vontade para que a matéria se transformasse segundo o seu beneplácito. A operação do poder criador do Senhor Jesus foi feita mediante sua simples vontade íntima.
4. JESUS REALIZA O MILAGRE DA PROVISÃO.
O propósito imediato de Jesus em operar o milagre era libertar um jovem casal do embaraço e da vergonha. O versículo II sugere o propósito superior do milagre: a revelação da glória de Cristo. "Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele". Foi esta a primeira demonstração do poder milagroso de Jesus, revelando a sua natureza divina. Irromperam-se agora, visivelmente, a divina natureza e a glória que antes se escondiam sob o véu de carne, e os discípulos viram "a sua glória, como a glória do unigênito do Pai" (1.14). O milagre revelou a operação do poder criador, cuja origem somente poderia ter sido de Deus. Aumentou-se a fé dos discípulos. "E os seus discípulos creram nele". Já tinham crido; senão, não seriam discípulos (1.50). Agora, porém, sua fé ficou mais profunda e mais forte. Acreditavam em Jesus, porém agora mais do que nunca. Nossa fé é aumentada (Lc 17.5) ao ver o Senhor operando em poder milagroso.
a) As talhas de pedra
"E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho [não sabendo donde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água], chamou o mestre-sala ao esposo, e disse-lhe: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho". O mestre-sala, dirigindo o andamento da festa, não aludia a qualquer excesso da parte das pessoas presentes naquela festa específica, porque Jesus não teria abençoado com sua presença qualquer bebedice. Simplesmente faz alusão ao costume normal, mediante o qual os hóspedes, depois de uma suficiência de vinho superior, já não poderiam discernir a inferioridade do vinho oferecido no fim da festa. Poder através da obediência. Quando Jesus mandou os serventes encherem as talhas d'água e levarem-nas até o mestre-sala para suprir a falta de vinho, estes teriam motivos justos para se recusar a fazê-lo, ou para exigir alguma explicação ou garantia de que Jesus enfrentaria as conseqüências. Obedeceram assim mesmo, e sua fé obediente fez com que se tornassem colaboradores de um milagre; ficaram sabendo que nenhuma ordem de Cristo é inútil ou sem propósito. Nós também temos que passar por experiências semelhantes para aprendermos a mesma lição.
A Palavra de Deus ordena que façamos coisas aparentemente desarrazoadas e além das nossas possibilidades. Por exemplo, temos de ser santos, embora saibamos que assim como o leopardo não pode mudar suas manchas, não podemos, por nós mesmos, purificar a nossa alma. Quase temos vontade de dizer: Como pode a substância da natureza humana, que é como a água, ser transformada em vinho digno de ser derramado como oferta no altar de Deus? Nosso papel é obedecer sem questionar ou exigir explicações. Os servos tiraram a água, levaram-na ao mestre-sala, e o Senhor fez o resto. Assim como a vontade de' Cristo permeou a água, até imbuí-Ia de novas qualidades, também é sua vontade permear a nossa alma, conformando-a ao seu propósito. "Fazei tudo quanto ele vos disser" - é este o segredo da operação de milagres. Faça-o, embora possa dar a impressão de estar gastando em vão as suas energias, ou vir ser objeto de escárnio. Faça-o, embora você não tenha em si mesmo a capacidade de realizar o seu propósito. Faça-o totalmente, como se fosse você o único obreiro, como se Deus não viesse suprir as suas faltas, de modo que qualquer falha da sua parte fosse fatal à obra. Não fique esperando que Deus o faça, porque é em você e através de você que Ele faz a sua obra entre os homens. Não podemos fazer a obra de Deus, e não é plano de Deus fazer a parte que destinou a nós.
b) A operação do poder criador de Jesus
Excelente lema para o cristão encontra-se nestas palavras: "Fazei tudo quanto ele vos disser!". A santificação da vida diária. É significativo que Cristo revelasse a glória do seu poder criador num banquete de casamento, ocasião festiva vinculada a um relacionamento humano comum. Assim ficamos sabendo que Ele não veio esmagar os sentimentos humanos: veio elevá-los ao compartilhar deles; não veio destruir relações humanas: i veio enobrecê-las mediante a sua presença; não veio acabar com os afazeres e convívios da vida coletiva: veio purificá-los; não veio abolir inocentes alegrias e recreios: velo santificá-los segundo os princípios do Reino de Deus.
Não podemos dividir nossas atividades em duas classes: a "espiritual" e a "secular". Cada esfera da vida pode e deve ser consagrada a Cristo. Se houver qualquer atividade ou aspecto da nossa vida sobre a qual não possamos invocar a sua bênção (Cl 3.17), tal atividade ou é totalmente errada, ou contém elementos que precisam ser removidos. Por mais cheios de gozo espiritual que tenham sido os anos passados de experiência cristã, o melhor ainda está no porvir. Jesus guarda seu melhor vinho até ao fim; muitas almas tristes e desiludidas vão sempre descobrindo que o mundo faz exatamente o oposto, seduzindo as pessoas para que sejam escravas do mundo, vítimas do mundo, mediante promessas deslumbrantes e deleites de curta duração que, mais cedo ou mais tarde, perdem seu brilho traiçoeiro e se tomam insossos -e muitas vezes bem amargos! "Até no riso terá dor o coração, e o fim da alegria é tristeza" (Pv 14.13). A coisa mais melancólica do mundo é a velhice vivida longe de Deus, e uma das coisas mais belas, o calmo pôr-do-sol que tantas vezes glorifica uma vida piedosa que foi repleta de coisas feitas para Jesus, e de provações suportadas com paciência, como tendo sido enviadas por Ele... Em tal carreira, o fim é melhor do que o começo. E quando a vida chegar ao fim e passarmos à nossa morada celestial, esta mesma palavra brotará de nossos lábios, com surpresa e gratidão, quando descobrirmos que tudo é muitíssimo melhor do que o melhor em nossa imaginação: "Guardaste até agora o bom vinho".
c) O melhor ainda está por vir
Chegaremos um dia a falar ao Mestre aquilo que o mestre-sala falou ao noivo: "Guardaste até agora o bom vinho" (cf. Pv 4.18). Por mais cheios de gozo espiritual que tenham sido os anos passados de experiência cristã, o melhor ainda está no porvir. Jesus guarda seu melhor vinho até ao fim; muitas almas tristes e desiludidas vão sempre descobrindo que o mundo faz exatamente o oposto, seduzindo as pessoas para que sejam escravas do mundo, vítimas do mundo, mediante promessas deslumbrantes e deleites de curta duração que, mais cedo ou mais tarde, perdem seu brilho traiçoeiro e se tomam insossos -e muitas vezes bem amargos! "Até no riso terá dor o coração, e o fim da alegria é tristeza" (Pv 14.13). A coisa mais melancólica do mundo é a velhice vivida longe de Deus, e uma das coisas mais belas, o calmo pôr-do-sol que tantas vezes glorifica uma vida piedosa que foi repleta de coisas feitas para Jesus, e de provações suportadas com paciência, como tendo sido enviadas por Ele... Em tal carreira, o fim é melhor do que o começo. E quando a vida chegar ao fim, e passarmos à nossa morada celestial, esta mesma palavra brotará de nossos lábios, com surpresa e gratidão, quando descobrirmos que tudo é muitíssimo melhor do que o melhor em nossa imaginação: "Guardaste até agora o bom vinho".
Conclusão:
A transformação de coisas comuns. O mesmo Cristo que transformou a água em vinho vermelho e cintilante pode transformar as coisas da vida em bênçãos gloriosas. Ele pode transformar a água da alegria terrestre no vinho da bem-aventurança celestial. Ele pode transformar a água amarga da tristeza no vinho de alegria. Pode lançar mão de uma série de circunstâncias da vida que nos perturbam, transformando-as em brilhantes oportunidades. Os deveres que cabem a nós, dia após dia, nos parecem cansativos e monótonos? Levemo-los a Jesus, e Ele os transfigurará mediante a sua presença. Onde está Jesus, ali há alegria.
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