Os desafios que todo pastor enfrenta
Este texto faz parte de uma série. Para ler o texto anterior, clique aqui.
Leitura sugerida pelo autor essa semana: páginas 109 a 182.
Um dos feitos extraordinários de Marilynne Robinson em Gilead é criar, como mulher, uma voz narrativa plausível para um homem. Além disso, como uma pessoa leiga ela consegue captar, com incrível autenticidade, a vida interior de um homem que atua no ministério pastoral.
O Reverendo Ames é honesto em relação aos desafios do ministério, familiares a qualquer pastor. Ele se queixa das reuniões da igreja (“só umas poucas pessoas presentes, e não se tirou absolutamente nada de concreto” – p. 237); confessa quão difícil é amar suas ovelhas (“depois de algum tempo, cheguei a me perguntar se não gostava mais da igreja quando não havia ninguém nela” – p. 89).
Ao mesmo tempo, ele sabe que seus paroquianos o tratam de maneira diferente, respeitando-o mais do que ele merece – uma “imaginação benevolente” (p. 53) que lhe é difícil desiludir. Ele também lamenta a implacável proximidade do sermão da semana seguinte (“parece que é domingo o tempo todo, ou, então, sábado à noite. Mal acabamos de nos preparar para uma semana, já estamos na semana seguinte” – p. 281-82).
A diferença que um ministro faz
Com esses desafios inevitáveis, surgem muitas oportunidade para o ministério pessoal. As mesmas pessoas que repentinamente mudam de assunto quando veem o pastor chegando, Ames diz, “vêm ao nosso escritório e nos contam as coisas mais incríveis” (p. 12) – o rancor, o medo, a culpa e a solidão que existe sob a superfície da vida.
Em cada encontro pastoral, Ames tem procurado discernir o que o Senhor está pedindo dele “nesse momento, nessa situação” (p. 152). Ainda que ele tenha que lidar com alguém difícil, essa pessoa é um “emissário enviado pelo Senhor”, que lhe oferece “a chance de mostrar que, em algum nível, por menor que seja, participo efetivamente da graça que me salvou” (p. 152).
Durante toda a sua vida no ministério, lidando com uma grande variedade de necessidades espirituais, o Reverendo Ames aprendeu que tentar provar a existência de Deus é uma estratégia ineficiente para lidar com a dúvida espiritual. “Não se pode dizer nenhuma verdade sobre Deus a partir de uma postura defensiva” (p. 215), ele acredita. Na realidade, “a tentativa de defender a crença pode, na verdade, abalá-la”, pois “há sempre uma inadequação em argumentar a respeito das coisas últimas” (p. 217).
Ele também aprendeu como responder as perguntas que as pessoas concebem sobre o tormento do inferno, o qual, ele crê, a Bíblia caracteriza primariamente como a separação de Deus: “Se quiserem se informar sobre a existência do inferno, não tentem segurar com a mão a chama de uma vela; apenas reflitam sobre o ponto mais cruel, mais desolado da sua própria alma” (p. 253).
Ames também aprendeu o valor da amizade para o ministério. Ele é uma pessoa abençoada por ter Robert Boughton como seu amigo mais velho e querido, e colega íntimo no ministério. Tendo crescido juntos em Gilead, os dois agora atuam como pastores das principais igrejas da cidade. Eles não trabalham isolados, mas compartilham ideias, discutem seus sermões e oram pelas famílias um do outro.
Para reflexão ou discussão: Quais são os desafios mais difíceis que você enfrenta enquanto serve a Deus na igreja? Quais as lições mais importantes que você aprendeu sobre o ministério – as principais lições que você transmitiria a alguém que está começando agora? Quais as perguntas mais comuns que as pessoas fazem sobre Deus? Como você aprendeu a respondê-las, ou não respondê-las? Que padrões de relacionamento e responsabilidade sustentam o seu ministério? Que relacionamentos você ainda precisa colocar no lugar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário