Pastor, livre-se do pragmatismo!
Olá, sou Jeramie. E sou um pastor pragmático em recuperação.
Graduei-me do seminário dezessete anos atrás e me tornei o pastor titular da South Shore Baptist Church em Hingham, Massachusetts cerca de dois anos depois. O seminário me deu uma fundação teológica sólida, boas ferramentas exegéticas e um firme apego à historicidade bíblica. Essa educação abastece meu ministério até hoje.
Porém, a despeito do meu aprendizado, lancei-me para o trabalho pastoral deficiente de algo crítico: uma abordagem bíblica do ministério de igreja local. Não tive o que Tim Keller chama de visão teológica: essa filosofia de ministério que conecta as crenças doutrinárias de alguém com as suas práticas diárias de ministério.#1
Bem, isso não é exatamente verdade. Eu realmente tinha uma visão teológica, embora inconscientemente. Era a mesma filosofia ministerial que serve como configuração padrão para muitos pastores. Eu era um pragmático.
Pragmatismo em prática
Deixe-me definir o que quero dizer por “pragmático”. É a abordagem que diz que uma igreja pode usar métodos efetivos para ganhar pessoas para Jesus, para fazer discípulos, para crescer como igreja ou para edificar o reino. Uma igreja pode adotar qualquer estrutura, programa ou estratégia que “funciona” para alcançar pessoas para Cristo, contanto que a iniciativa não seja obviamente pecaminosa.
Então isso significa que nada de ministério de homens open bar e nada de esquemas de pirâmide para custear a viagem missionária dos jovens. Porém, apesar de programas duvidosos como esse, um ministério eclesiástico é somente limitado pela sua criatividade. Contanto que você concorde com uma pequena lista de doutrinas essenciais, ou alguns propósitos bíblicos úteis, a real forma de um ministério evangélico está por sua conta.
Pragmatismo tem provérbios como: “Os métodos da igreja mudam, mas sua mensagem continua a mesma” e “Não há forma certa ou errada de se fazer uma igreja”. Como a maioria dos provérbios, esses ditos contêm uma semente de verdade. Mas para o pragmatismo, esses são os clamores mobilizadores das formas empreendedoras, orientadas a um resultado, custe o que custar, de “se fazer igreja”.
O pragmatismo serviu como o sistema operacional para os primeiros sete anos do meu ministério. Usei diferentes aplicativos de ministério: teatro, um terceiro culto de adoração no domingo, cafeterias e, é claro, várias e várias programações. Se alguém tivesse uma ideia de ministério e energia para lidera-lo, eu tenderia a aderi-lo porque poderia funcionar! Não estou sugerindo que todas essas iniciativas foram ruins, ou que igrejas deveriam jogar fora essas ideias, ou que não deveríamos estar apaixonados por alcançar pessoas. Mas a mistureba de programações que se formou na igreja foi indicadora de uma visão teológica pragmática.
Durante esses primeiros sete anos de ministério, a igreja cresceu estavelmente em número. Pessoas vieram a fé e se envolveram. O que quer que estivéssemos fazendo, parecia ter sucesso. E era isso que importava. Correto? Porém, mesmo com a igreja crescendo, alguma coisa estava crescendo no meu coração: um descontentamento persistente e uma desilusão sobre como estávamos fazendo a igreja.
Igreja cheia, pastor vazio
A despeito do aparente sucesso da nossa igreja, o pragmatismo me deixou vazio e desorientado. Esse modelo de ministério de igreja se apresentou crescentemente vazio. Em retrospecto, parecia haver várias razões para minha resposta, decorrente da fraqueza herdada do pragmatismo:
Pragmatismo é exaustante
Primeiro, o pragmatismo é exaustante. Dá muito trabalho ser pragmático. Você tem que permanecer informado das últimas tendências ministeriais, ler os livros sobre “como fazer” mais recentes e comparecer a conferências na maioria das igrejas bem-sucedidas.
Você deve também manter seus dedos no pulso das pessoas dentro e fora da igreja para discernir o que irá alcança-las. E nem vamos falar sobre o quão esgotante é mudar os paradigmas da igreja a cada dois anos. O pastor pragmático deve ser em parte um guru de mudança organizacional, em parte um analista e futurista cultural, em parte um homem de negócios e em parte um especialista em inovações. Isso tudo me deixou com a alma desgastada.
Pragmatismo é antropocêntrico
Além disso, o pragmatismo é antropocêntrico. Descobri que isso era verdade de pelo menos duas formas. Primeira, focar nos resultados inevitavelmente significa focar no status momentâneo das pessoas. Elas estão vindo, permanecendo, dando dízimos e ofertas, participando ou servindo? Se sim, então continue fazendo o que você está fazendo porque algo está funcionando tão bem.
É claro que uma boa liderança pastoral envolve ouvir a congregação com humildade, mas o pragmatismo me impeliu para além da sensibilidade pastoral, levando-me ao temor de homens. Por outro lado, não me levou a pensar teologicamente ou ao temor de Deus.
Em segundo lugar, o ministério pragmático tende a ser humanista na forma como ele comemora os profissionais bem sucedidos. Esses pastores que decifraram o código para alcançar os baby boomers, ou os Millennials, ou os pós-modernos, ou os urbanos atraem uma multidão de pastores em busca de ajuda. Mesmo em um nível local, quando os pastores regulares ficar juntos, eles inevitavelmente querem saber duas coisas: (1) quem no grupo tem os ministérios prósperos, e (2) o que esses pastores estão fazendo que funciona tão bem.Pragmatismo é subjetivo
Finalmente, pragmatismo é subjetivo. Pragmatismo repousa em um fundamento arbitrário perturbadoramente relativista. Porque a igreja deveria seguir minhas ideias ou de outra pessoa? Só porque sou o pastor titular? Por que implementar esse modelo de igreja campeã de vendas em vez daquele outro modelo campeão de vendas? E como definimos “sucesso” ou sabemos quando algo “funciona”? Quem estabelece esses padrões e em que base? Algumas vezes tive o pensamento desastroso que estava fazendo o ministério crescer na medida que prosseguia adiante.
Bem debaixo do meu nariz
No final dos primeiros sete anos, minha igreja me garantiu generosamente três meses sabáticos. Contei aos presbíteros que planejei passar o tempo procurando pelo “modelo correto” para nossa igreja em crescimento. Meu plano era visitar uma dúzia de igrejas por todo país para encontrar o melhor modelo de ministério. Foi a suprema peregrinação pragmática.
Porém, em vez de encontrar a igreja certa para imitar, encontrei algo a mais no meu descanso sabático: a Bíblia.
Para minha surpresa, descobri que a Bíblia, na verdade, tinha muito a dizer sobre como fazer uma igreja, bem mais do que pragmáticos querem admitir. A Bíblia nos dá mais do que simplesmente algumas doutrinas essenciais ou alguns princípios de alcance ministerial. Ela dispõe uma visão teológica robusta para o ministério de igreja local, centrado no evangelho, com muitas aplicações práticas.
Então, comecei um lento processo de aprendizado de não perguntar: “Isso vai funcionar?”, mas em vez disso fazer perguntas como: “A Escritura fala disso?”. Pelos últimos sete anos, estive reprogramando a mim mesmo para pensar teologicamente acerca do ministério da igreja local.
Como uma visão bíblica e teológica parecia na prática para nós? Parecia com a pregação expositiva possuindo primazia tal que a Palavra de Deus era quem organizava nosso planejamento. Significava que nossos presbíteros estavam mudando de um modelo de conselho de diretoria para uma mentalidade de pastoreio. Parecia como dois cultos de oração adotando um único estilo misturado para refletir a unidade que vemos destacada na Bíblia. Tinha significado (para nós, pelo menos) mudar ou construir nosso projeto de uma academia para um santuário.
Minha revolução copernicana
Essa redescoberta de uma visão bíblica mudou profundamente meu ministério. Eu não mais me senti à deriva no mar do pragmatismo, mas pude traçar um curso usando a Escritura como minha bússola. As reações das pessoas não me deixam sem norte porque vejo como decisões ministeriais fluem de uma base teológica, capacitando-me para confiar em Deus mesmo quando as pessoas não estão felizes. Mas o mais satisfatório de tudo é que Deus e sua Palavra retornaram ao centro do meu ministério e à vida da nossa igreja. É tão louvável abrir a Bíblia e perguntar: “O que Deus tem a dizer sobre sua igreja?”.
#1 Tim Keller, Center Church (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2012), p. 17-19.
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