Por vezes os hinos me confundem. Eu me lembro bem, quando garoto, de ficar confuso com dois hinos populares que me pareciam totalmente contraditórios. O primeiro era “Aqui não é meu lar, um viajante sou”, e o outro era “O mundo é do meu Pai”. Se o mundo é do meu Pai, eu pensava, porque estou apenas passando por ele como viajante? Mas os hinos não eram a única coisa a confundir no negócio de relacionar-me como cristão no mundo. Esperava-se dos cristãos que justificassem tudo nas suas vidas pela sua utilidade espiritual ou evangelística. No máximo, a educação, atividades, vocações ou buscas “seculares” eram um mal necessário — para se ganhar a vida, para ter com que dar o dízimo e dar para missões. Na pior das hipóteses, distraíam da vida cristã. Agiam como a canção da Sirene seduzindo “mundaninhos” insuspeitos aos recifes da incredulidade e do afastamento de Deus. Assim, os que queriam ser empresários procuravam empregos em organizações e agências cristãs. Se descobríssemos um pequeno “Rembrandt” num jovem artista da Igreja, nós o colocávamos como responsável pelo quadro de avisos e (se ele fosse realmente bom) deixávamos que pintasse o batistério. Esperava-se dos nossos cientistas que promulgassem a causa do criacionismo — mesmo que a cosmologia ou as ciências biológicas e antropológicas não fossem suas especialidades. Dos músicos esperava-se que entrassem (ou formassem) na banda de louvor ou fizesse uma turnê pelas Igrejas do país — o tamanho da Igreja, claro, dependia do grau de talento do artista. Através dos anos, temos criado os nossos próprios guetos de artistas, super estrelas e apresentadores, com versões cristãs de tudo que há no mundo. Essas experiências, porém, não se limitam ao nosso tempo e lugar.
Evidencia-se diante esta introdução, que a Igreja, misturou-se com a cultura secular (na Bíblia consta que o Cristianismo jamais aceitou tal mistura – cf. Romanos 12:1, 2), aceitando em todo âmbito religioso e devoto a influência de um mundo caído e vazio de significados, um mundo de engano regido pelo “pai do engano” – o diabo. Deveríamos imitar o mundo? A cultura? Os costumes? Não!, temos a nossa regra de fé e prática, e esta, ordena a todos os cristãos, em todo mundo que: — “Não ameis o mundo nem o que nele existe. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” – 1 João 2:15 — cf. 1 João 4:5; 5:4, 5, 10; João 15:19; Gálatas 1:10; Efésios 2:2.
A Renascença (ou Renascimento), um período de grandes mudanças e conquistas culturais que ocorreram na Europa, entre o século XIV e o século XVI. Este período marca a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. Para a Igreja medieval, filosofia, arte, música e ciência confundiram-se tanto com a religião que não dava para distinguir uma da outra.
1 – O platonismo.
O ídolo da Renascença é Platão (427 – 347 a.C.): — artista e dialético, iniciador da ciência matemática da natureza. Ele criou um método de dividir, classificar e organizar o mundo das idéias em uma hierarquia. Ele pensava o que existe realmente é idéias, e o mundo físico é constituído das sombras de idéias, que desenvolvem em entidade substanciais. “A idéia do “Bem” está no lugar mais alto em vez de Deus”. O desenvolvimento do universo tem um propósito que é de alcançar a bondade. Note que a idéia platônica é ainda evidenciada de forma vivaz em nosso tempo, uma idéia cultural que fere a Palavra de Deus onde eleva os termos, sendo que, todas as definições de bondade procedem de Deus –, fonte de toda bondade e amor (cf. Êxodo 20; 33:19; 1 João 4:8; Salmos 23:6; 31:39; 1 Coríntios 13:14; Gálatas 5:22, 23).
Em 1404 Leonardo Bruni publicava a primeira tradução de Platão, iniciando a Renascença Platônica. Entretanto foi o Concílio de Florença (1439) que deu um impulso aos estudos platônicos e dos filósofos clássicos em geral. Vários doutores vieram para a Itália devido à queda de Constantinopla (1453). Na segunda metade do século XV surge o platonismo italiano em Florença, Marsílio Ficino era animador da academia platônica, sua atividade principal foi traduzir para o latim, Platão (1477) e Plotino (1485). Depois de Marsílio Ficino, o mais famoso platônico foi Giovanni Pico della Mirandola (1463 – 1494), autor de “De hominis dignitate oratio”.
2 – O aristotelismo.
O aristotelismo da Renascença se distingue em duas correntes principais: — a naturalista inspirando-se da escola alexandrina, cujo imanentismo é conforme o espírito renascentista e a panteísta-neoplatônica. O método dedutivo de Aristóteles era a referência durante dois mil anos. Começando para uma verdade universal, e então tenta chegar a uma conclusão concreta através da analisa desta verdade. Na idade média o pensamento geral era: — “Deus criou todas as coisas, todos os seres eram criados”, este pensamento universal não mudou desde Aristóteles até a Renascença. O mais famoso aristotélico é Pedro Pomponazzi, celebra por causa da publicação do seu opúsculo: — Sobre a Imortalidade da Alma, em Bologna (1516), onde finaliza admitindo a mortalidade da alma. Note que o pensamento aristotélico influencia uma doutrina herética, chamada de “Aniquilacionismo”, doutrina esta que contraria a sã doutrina. O Aniquilacionismo é uma doutrina escatológica minoritária que diz que as almas dos pecadores serão aniquiladas após a morte (morte da alma) de seus corpos físicos. É seguida entre outras denominações, como Adventistas (assim como eram os anabatistas) com o fundamento de que a tortura eterna aos pecadores, defendidas por outras doutrinas, é incompatível com o caráter amoroso do Deus cristão. No entanto, os aniquilacionistas afirmam que a palavra “eterno” não possui o sentido que conhecemos, mas eles nunca oferecem uma explicação realmente plausível para tal alegação. De fato, F. LaGard Smith, um advogado cristão, comentou a palavra “eterno”, dizendo: — “Em todas as suas numerosas associações, não existe uma única sugestão de tempo” (After Life, Nashville, TN: Cotswold Publishing, 2003, p. 162 – 163). A Bíblia afirma a imortalidade da alma e o castigo eterno, são doutrinas ortodoxas (cf. Mateus 25:41; Mateus 3:12; Marcos 9:43; Mateus 25:46; Daniel 12:2; Apocalipse 14:10 — Sem qualquer sombra de dúvidas a alma humana é imortal. Esse conceito é ensinado claramente em passagens do Antigo e do Novo Testamentos: — Salmos 22:26; Salmos 23:6; Salmos 49:7 – 9; Eclesiastes 12:7; Daniel 12:2, 3; Mateus 25:46; 1 Coríntios 15:12 – 19. Daniel 12:2 diz: — “E muitos dos que dormem (eufemismo – acepção mais agradável) no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” — Grifo meu.
Semelhantemente, Jesus disse que os perversos “irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”(Mateus 25:46). Com a mesma palavra grega usada para se referir a “tormento” e “vida”, é bem claro que os perversos e os justos têm uma alma eterna –, imortal.
“O Homem é uma alma que faz uso de um corpo. A alma se mantém em atividade e ultrapassa o corpo” – Santo Agostinho.
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3 – O estoicismo.
O estoicismo renascentista enaltece o homem, a vida, o mundo, contra a concepção transcendente e ascética, pensamento cristão. O estóico mais notável da Renascença foi o Belga Justo Lípsio (1547 – 1606), autor de “De Constantia, e de Manuductio ad stoicam philosophiam”. Note o antropocentrismo, hedonismo e uma perspectiva ateísta.
4 – O epicurismo.
O epicurismo condizia com o espírito humanista, imanentista [1] e mundano da Renascença, voluptuosa, artística e também na literatura e no pensamento. O mais notável dessa tendência espicurista é Lourenço Valla (1407 – 1759), autor do livro “De Voluptate ac de vero bono”.
O imanentismo é a doutrina metafísica segundo a qual a presença do divino é pressentida pelo homem, mas não pode ser objeto de qualquer conhecimento claro; este pensamento contraria a Bíblia (cf. João 5:39; 2 Timóteo 3:16, 17; Mateus 22:29; Romanos 12:1).
“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento (razão), e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” – Marcos 12:30 — Grifo meu.
5 – O ceticismo.
O ceticismo renascentista surgiu mais por fins práticos do que por motivos teoréticos. A sede do individual, da concretidade, a paixão pela observação detalhada própria do pensamento moderno, em oposição ao pensamento antigo, voltado para o universo e o abstrato. O maior expoente do ceticismo da Renascença é Michel de Montaigne (1533 – 1592), francês, é autor dos famosos lemas: — “Que sais-je?”. Note que o conceito de individualidade é negado pela Bíblia; devemos sempre nos envolver com o coletivo, a oração do Senhor, Pai Nosso, nos ensina exatamente isso; a ideia de um corpo nos ensina isso, a ideia de amar o próximo como a nós mesmos, ensina-nos isso, uma congregação de santos, nos ensina isso, um sacerdócio universal nos ensina isso, uma nação santa nos ensina isso, Cristo morrendo por “muitos”, nos ensina isso.
“Ao dizer-se “Pai nosso”, significa que Ele é o Pai de todos, razão pela qual devemos orar afetuosamente, porém, de modo especial, pelos da família da fé”.
A Reforma Protestante libertou homens e mulheres cristãos para seguir com dignidade e respeito os seus chamados divinos no mundo, sem ter que justificar a utilidade desses chamados à Igreja ou ao empreendimento missionário. A vocação era dom da criação. Até mesmo os não cristãos, como quem carrega a imagem de Deus, possuíam este chamado divino. Crente e incrédulo eram igualmente responsáveis por desenvolver seu trabalho com excelência — um reconhecendo a Deus como autor e alvo dessa excelência, e o outro servindo a Deus com seus talentos apesar de sua recusa em reconhecê-lo como doador e alvo de tudo.
CONCLUSÃO
Notamos que a cultura em todos os tempos nega de alguma forma o fundamento de toda a vida – Cristo Jesus, por esta razão devemos negar a cultura; destarte, devemos influenciá-la com o Evangelho transformador de nosso Senhor, o qual sujeitou em todos os tempos a sabedoria humana à pó. Respondendo aquilo que nenhum homem conseguiu responder e dar sentido em toda a sua sabedoria — o significado da vida e o porquê de o homem existir.
Eu sou a verdade, o caminho e a vida eterna, diz Jesus! — E o fim supremo e principal do homem e glorificar a Deus e gozá-lo para sempre” – cf. Romanos 11:36; 1 Coríntios 10:31; Salmos 73:24 – 26; João 17:22 – 24
[2] - O Cristão e a Cultura,, Ed. Cultura Cristã
[2] – Catecismo Maior de Westminster, pergunta 1.
[3] – João Calvino, As Institutas, Livro III, ed. Clássica (Latim), p. 363 – 366.
[4] – LEE, Sang Hun. Explaining Unification thought – New York: Unification Thought Institute, 1981
[2] – Catecismo Maior de Westminster, pergunta 1.
[3] – João Calvino, As Institutas, Livro III, ed. Clássica (Latim), p. 363 – 366.
[4] – LEE, Sang Hun. Explaining Unification thought – New York: Unification Thought Institute, 1981
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