Povos não alcançados: o único e principal objetivo de missões
1. A QUESTÃO COLOCADA
A única incumbência bíblica do empreendimento missionário da Igreja é
- ganhar o maior número possível de indivíduos para Cristo antes da sua volta, ou
- ganhar alguns indivíduos (e.g. plantar uma igreja) entre todos os povos da terra antes de seu retorno?
Em outras palavras, o único objetivo de missões é
- concentrar-se nos povos mais “frutíferos” fora de nossa própria cultura (e assim ganhar mais indivíduos para Cristo), ou
- insistir cada vez mais em povos não alcançados (mesmo que eles sejam menos sensíveis do que outros grupos)?
Ou, colocando de outra maneira, uma agência de missões deveria medir o seu sucesso em cumprir a única incumbência missionária da igreja
- pelo número e qualidade de igrejas estabelecidas em outras culturas além de sua própria, ou
- pelo número de diferentes culturas não alcançadas que recebem igrejas de qualidade?
Observe que eu NÃO estou perguntando se (1) ou (2) deveria ser almejado. A questão não é se uma é ruim e a outra boa. As duas devem ser almejadas pela igreja.
O que EU ESTOU perguntando é se algum grupo ou agência em uma igreja ou denominação deveria definir a razão PRINCIPAL da sua existência o estabelecer mais e mais igrejas em povos não alcançados do que estabelecer mais e mais igrejas em qualquer povo em particular.
Uma outra maneira surpreendente de colocar a questão é concentrar-se no cerne do motivo de missões. Se dissermos que o amor por pecadores perdidos deveria ser o combustível do motor de missões, precisamos perguntar “O que o amor deseja realizar?”
Certamente (sob uma perspectiva humana comum) o amor deseja a salvação do maior número de indivíduos. O amor não diz que uma raça é mais preciosa que outra. Portanto, parece que a lógica do amor, por si só, sempre nos colocaria no “campo” ou “povos” onde o maior número de almas poderia ser salvo.
Considere uma Ilustração:
Imagine dois luxuosos navios no mar e os dois começam a afundar simultaneamente com um grande número de pessoas a bordo que não sabem nadar. E imagine que você está encarregado de uma equipe de resgate de dez pessoas divididas em dois grandes barcos.
Você chega ao local do primeiro naufrágio e fica rodeado por centenas de pessoas gritando, algumas a afogarem-se diante dos seus olhos, outras lutando por um pedaço dos destroços, outras prontas para pular na água antes que o navio acabe de afundar. Algumas centenas de metros à frente a mesma coisa está acontecendo às pessoas no outro navio.
Seu coração fica apertado pelas pessoas que estão morrendo. Você quer salvar o maior número possível, então você grita com suas duas tripulações para dar o máximo de suas energias para retirar da água o maior número possível de pessoas. Sem medo da dor! Sem poupar esforços!
Há cinco membros da equipe de resgate em cada barco e eles estão trabalhando com toda a força. Eles estão salvando muitos. Então alguém grita do outro navio: “Venha ajudar-nos!” O que faria o amor?
Não consigo pensar em nenhum motivo para o amor abandonar a sua tarefa e sair se, de fato, ele já está comprometido em salvar pessoas exatamente onde está. O amor não valoriza mais as almas que estão longe do que as que estão perto.
Na verdade, o amor poderia muito bem julgar que o tempo gasto para remar centenas de metros até o outro navio significaria parar de salvar as pessoas que já estão sendo salvas.
O amor poderia também julgar que a energia da equipe de resgate seria esgotada; o que poderia possivelmente resultar em um número menor de pessoas salvas.
Não somente isso, mas também por experiência você sabe que as pessoas naquele outro navio poderiam estar todas embriagadas a essa hora da noite e estariam menos cooperativas quanto aos seus esforços de salvamento.
Então, o amor, por si mesmo, pode muito bem recusar-se a abandonar a operação de resgate em andamento. O amor pode permanecer no seu lugar de trabalho para salvar o maior número de pessoas.
A conclusão da ilustração (mesmo artificial e imperfeita como ela é, uma vez que a força da igreja NÃO está assim totalmente engajada!) é simplesmente sugerir que o amor somente (da nossa limitada perspectiva humana, a qual geralmente tende para uma centralidade humana) pode não conceber a tarefa missionária da mesma maneira que Deus.
Deus pode ter em mente que o objetivo da operação de resgate deveria ser o resgate de pecadores salvos de todos os povos do mundo (de ambos os navios luxuosos), mesmo se alguns bem-sucedidos da equipe de resgate precisassem abandonar um frutífero campo alcançado (ou parcialmente alcançado) para trabalhar em um campo não alcançado (possivelmente menos frutífero).
A conclusão que cheguei na investigação bíblica, registada neste texto, é de que algumas agências ou grupos de qualquer igreja e denominação deveriam ver como único e primário objetivo
- NÃO meramente o ganhar o maior número de almas, ou plantar o maior número de igrejas obedientes possíveis transculturalmente,
- MAS ganhar almas e plantar igrejas obedientes no maior número possível de povos não alcançados.
A ser verdade, são grandes as implicações para o estabelecimento de metas e estratégia de missões. Cada igreja, denominação e agência certamente procuraria carregar sua carga proporcional de responsabilidade em atingir povos específicos não alcançados.
2. DEFINIÇÕES
Fundamentarei minha definição de “povo” e “povo não alcançado” em Mateus 24:14 e na estratégia missionária de Paulo definida em Romanos 15 (discutida na seção 3.5).
No discurso das Oliveiras Jesus disse,
E este Evangelho do reino será pregado em todo o mundo, como testemunho a todas as nações.
Pego nisso para implicar que para um povo a ser alcançado deve haver dentro dele um compreensível (cf. Romanos 15:21) “testemunho” da verdade de Cristo. Este testemunho deve estar bem enraizado para sobreviver na ausência de missionários, uma vez que Deus quer que o testemunho continue onde quer que tenha raízes (ou seja, ele quer que a igreja venha a existir em cada povo).
Os parâmetros de um “povo” serão determinados pelas capacidades naturais de entender este “testemunho”. Apocalipse 5:9 – “procedem de toda tribo, língua, povo e nação” – sugere que os obstáculos ao apreender o testemunho pode resultar a partir de um conjunto de fatores étnicos, linguísticos, culturais e políticos. Isso faz com que a definição precisa de “povo” seja virtualmente impossível.
A dificuldade é ilustrada pelas diferentes estimativas que David Barrett, Patrick Johnstone e Ralph Winter fazem.
Na World Christian Encyclopedia (Enciclopédia Cristã Mundial, Oxford, 1982) David Barrett faz referência a 8.990 grupos de povos etno-linguísticos no mundo (p. 110). Ele diz: “Em nossa definição, os únicos grupos de povos que podem corretamente ser chamados de não alcançados são uns 1.000 e poucos cuja população, de cada uma delas, tem menos de 20 por cento das pessoas evangelizadas” (p. 19). Mais especificamente, ele diz que há 636 grupos de povos que “não têm um número significativo de igrejas evangelizadoras e encontram-se em países com uma minúscula presença cristã” (p. 19).
Em Operation World (Operação Mundo, William Carey Library, 1986) Patrick Johnstone diz:
Todos os diferentes grupos etno-linguísticos com um carácter suficientemente distinto dentro de cada nação, para que a plantação de igrejas possa ser necessária, formam um total de 12017. É possível que quase 9.000 destes já tenham uma igreja viável dentro da sua cultura e, portanto, estão minimamente alcançados. Restam pouco mais de 3000 para os quais ministérios transculturais de plantação de igrejas sejam iniciados ou terão de ser se todas as raças, tribos, povos e línguas (Apocalipse 7:9-10) têm de ser representados diante do trono do Cordeiro (p.32).
Em seu artigo, “Povos Não Alcançados: O desenvolvimento do conceito” (“International Journal of Frontier Missions”, 1/2, 1984, pp 129-61), Ralph Winter faz seu palpite inicial que 16750 a 17000 dos povos são não alcançados, para deixar mais claro que é um palpite. “Neste momento da história, é muito ruim que ninguém possa fazer melhor do que adivinhar números. Isso é o que faz a MARC … Todo mundo está adivinhando. Estamos pedindo ajuda “(p. 147).
Ele explica a discrepância entre sua estimativa de 24.000 povos no total em todo o mundo e a estimativa de Barrett de 8.990 com uma ilustração. Tradutores da instituição Wycliffe, por exemplo, vão para o sul do Sudão e contam quantas línguas existem lá para saber em quantas línguas a Bíblia deve ser traduzida para alcançar todos com a Palavra escrita. Eles chegam ao número de 50. A Gospel Recordings também vai para o sul do Sudão e contam o número de idiomas que vai exigir diferentes traduções orais. Eles chegam ao número de 130. A proporção entre 50 e 130 é quase idêntica à proporção entre 8.990 de Barrett e os 24.000 de Winter.
Parece-me que cada agência missionária terá de decidir qual a definição de “grupo de pessoas” e “povos não alcançados” eles devem usar e, em seguida, trabalhar suas estratégias nessas definições. Essa decisão não é meu objetivo aqui.
A minha é mais básica: a saber, todo esse conceito de almejar povos é bíblico? É a tarefa única e primordial do esforço missionário da Igreja visar alcançar mais e mais grupos de pessoas ou, simplesmente, ganhar mais e mais pessoas?
A resposta a esta questão terá um peso significativo na estratégia de missão, independentemente de como os grupos são contados.
3. EXPOSIÇÃO BIBLICA
A Grande Comissão de Mateus 28:18-20 ainda está comprometendo a igreja como um todo (e não limitada somente aos onze apóstolos que a ouviram, v. 16) porque a promessa agregada (v. 20) é válida para levar a missão até o fim dos séculos.
“E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.”
O “convosco” inclui as pessoas da consumação do século. Portanto, a ordem mantida por esta promessa pertence às pessoas até a consumação do século. Se queremos a promessa da presença de Cristo agora, temos de possuir o dever da sua ordem agora.
Mas nesta ordem crucial, o que se entende por matheteusate panta ta ethne – “fazer discípulos de todas as nações”?
É uma questão conhecida. Comecemos simplesmente por colocar os dados linguísticos para panta ta ethne sobre a mesa para exame. Salvo disposição em contrário, as declarações que se seguem baseiam-se apenas no uso do Novo Testamento. Cada instância de ethnos foi examinada.
O singular ethnos (“nações”) nunca se refere a um indivíduo. Este é um fato marcante.
Gálatas 2:14 parece ser uma exceção no texto em português, “Se tu, sendo judeu, vives como um gentio e não como um judeu, como podes obrigar os gentios a viverem como judeus?” Mas a palavra grega aqui não é ethnos, mas o advérbio ethnikos, que significa ter os padrões de vida dos gentios.
Toda vez que o singular ethnos ocorre, refere-se a um grupo de pessoas ou “nação” – muitas vezes a nação judaica.
A seguir estão todos os usos no singular no Novo Testamento:
- Mateus 21:43; 24:7 (= Macos 13:8 = Lucas 21:10)
- Lucas 7:5; 23:2 (ambas referências para a nação judaica!!)
- Atos 2:5 (“Judeus de todas as nações”); 7:7; 8:9; 10:22 (“toda nação judaica”), 35; 17:26; 24:2, 10, 17; 26:4; 28:19 (as últimas 5 referências são para a nação judaica).
- João 11:48, 50, 51, 52; 18:35 (Todas em referência à nação judaica! Estas são os únicos empregos de ethnos no evangelho de João e nas epístolas).
- Apocalipse 5:9; 13:7; 14;6
- 1 Pedro 2:9
- Paulo nunca emprega o singular
O plural de ethnos nem sempre se refere a nações ou “grupos de pessoas.” Às vezes, simplesmente se refere a uma pluralidade de pessoas não-judias. Há dezenas de exemplos que são ambíguos e podem se referir tanto a “grupos de pessoas” ou a uma pluralidade geral de não-judeus, assim só vou dar alguns exemplos que inegavelmente se referem aos não-judeus, em geral, e, definitivamente, não se referem a “grupos de pessoas”.
- Atos 13:48 – Quando Paulo se volta para os gentios em Antioquia, após ter sido rejeitado pelos judeus, Lucas nos diz: “E quando os gentiosouviram isto, alegravam-se e glorificavam a Palavra de Deus.” Esta é uma referência não às nações, mas a um grupo de não-judeus que ouviu Paulo na sinagoga.
- 1 Coríntios 12:2 – “Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos…” O “éreis” refere-se aos convertidos não-judeus em Corinto. Não faria sentido dizer: “Quando éreis nações …”
- Efésios 3:6 – O mistério de Cristo é “como os gentios são co-herdeiros , membros do mesmo corpo…” Não faria sentido dizer que nações são co-herdeiras e membros (uma definitiva referência a indivíduos) do mesmo corpo. A concepção de Paulo é que o corpo tem vários indivíduosmembros que são gentios.
Esses argumentos são, talvez, suficientes para mostrar que o plural de ethnosnão tem que significar nação ou “grupo de pessoas”. Esse fato faz com que seja mais difícil decidir com certeza em textos onde ambos os sentidos (grupo de indivíduos não-judeus vs. um etnicamente distinto “grupo de pessoas”) fariam muito sentido.
No entanto, o fato de o singular ethnos nunca se referir a um indivíduo mas sempre a um grupo deveria, talvez nos inclinar a aceitar o significado de grupo de pessoas a não ser que o contexto nos leve a pensar o contrário. Isso será ainda mais correcto se colocarmos o contexto do Velho Testamento e o impacto que ele teve nos escritos de João e Paulo (discutidos abaixo). Mas primeiramente devemos examinar como a frase panta ta ethne é empregada no Novo Testamento.
Nossa preocupação imediata é o significado de panta ta ethne em Mateus 28:19. Seguem-se todos os lugares onde a combinação de pas (todas) e ethnos(nações/gentios) ocorrem no Novo Testamento, tanto no singular (“toda nação”) como no plural (“todas as nações/gentios”).
Mateus
- 24:9 – “Sereis odiados de pantaon ton ethnon por causa do meu nome.”
- 24:14 (cf. Marcos 13:10) – “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a pasin tois ethnesin. Então, virá o fim”.
- 25:32 – “E panta ta ethne serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas…”
- 28:19 – “Ide, portanto, fazei discípulos de panta ta ethne.”
Marcos
- 11:17 – “A minha casa será chamada casa de oração para pasin tols ethnesin? (cf. Isaías 56:17)
Lucas
- 12:30 – “Porque os panta ta ethne mundo é que procuram estas coisas”.
- 21:24 – “Cairão a fio de espada e serão levados cativos para ta ethne panta.”
- 24:47 – “E que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a panta ta ethne, começando em Jerusalém.
Atos
- 2:5 – “Ora, habitavam em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de pantos ethnous debaixo do céu.”
- 10:35 – “Pelo contrário, em panti ethnei, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.
- 14:16 – “O qual, nas gerações passadas, permitiu que panta ta ethneandassem nos seus próprios caminhos.”
- 15:17 – “…para que os demais homens busquem o Senhor, e também panta ta ethne sobre os quais tem sido invocado o meu nome.”
- 17:26 – “De um só fez pan ethnos humana para habitar sobre toda a face da terra…”
Romanos
- 1:5 – “Por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre pasin tois ethnesin.”
Gálatas
- 3:8 – “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados panta ta ethne.” (cf. Gênesis 12:3)
2 Timóteo
- 4:17 – “Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e panta ta ethne a ouvissem…”
Apocalipse
- 12:5 – “Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger panta ta ethnecom cetro de ferro.” (cf. Salmo 2:8)
- 15:4 – “…por isso, Panta ta ethne virão e adorarão diante de ti…”
Tomando esses textos sozinhos (fora de um contexto bíblico mais amplo) alguns deles poderiam ser interpretados como referência a uma multidão global de indivíduos não-judeus ao invés de “nações”, mas mesmo fora de contexto, Atos 2:5, 10:35, 17:26, Gálatas 3:8 e Apocalipse 12:5 são, com grande probabilidade, referências a “nações”. Todos os outros PODEM ser – embora Atos 15:17 seja difícil de ser entendido como “nações”. Será melhor suspender o juízo até que façamos um estudo contextualizado mais amplo.
Minha conclusão, do uso de ethnos em geral e o uso de sua combinação com pas em particular, é que o termo panta ta ethne POR SI MESMO não é prova de que nações ou grupos de pessoas estejam no foco de Mateus 28:19, mas nossa conclusão acima sobre 4.12 nos inclinaria a presumir o significado como grupo de pessoas, a não ser que o contexto o proíba. Será melhor estudar o contexto mais amplo dos mandamentos missionários e expectativas do Velho e Novo Testamentos para determinar o papel de povos ao invés de sustentar nossa visão em meras possibilidades linguísticas para panta ta ethne.
Retornaremos para Mateus 28:19 quando tivermos a visão de contexto mais amplo do Novo Testamento. Voltemos agora para aqueles textos que mais claramente ensinam ou inferem que o único objetivo de missões é alcançar mais e mais grupos de pessoas ao invés de ganhar mais e mais pessoas de qualquer grupo de pessoas.
O conceito de tarefa missionária implícito no livro do Apocalipse está claramente relacionado com grupos de pessoas.
Apocalipse 5:9-10
Os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos… entoavam novo cântico, dizendo: “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.”
Doutrinariamente, essa é uma poderosa declaração de redenção particular e do seu significado missionário histórico – Cristo não tem resgatado todos os homens; ele tem resgatado “muitos” (Marcos 10:45) de todos os povos. O resgate não é meramente potencial, é efetivo e certo: o resgatado irá reinar!
No âmbito missiológico, esta é uma declaração poderosa em que a tarefa da igreja é reunir os resgatados de todos os povos. Todos os povos devem ser alcançados porque os missionários encontrarão almas resgatadas em todos os povos. O projeto da expiação prescreve a concepção da estratégia de missão. E o projeto da expiação (resgate de Cristo, Apocalipse 5:9) é universal no sentido de que ele se estende a todos os povos (embora não efetivamente a cada indivíduo).
Portanto, o projeto da estratégia de missão deve ser o de pregar o evangelho de Jesus Cristo a todos os povos, pois “não há salvação em nenhum outro, pois não há outro nome debaixo do céu, dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12). Os resgatados devem ser salvos. Mas eles serão salvos somente através do evangelho de Jesus Cristo. Portanto, as missões DEVEM atingir “toda tribo, língua, povo e nação.”
Apocalipse 7:9-10
“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.”
A menos que você restrinja essa multidão aos convertidos da grande tribulação e disser que o propósito missionário de Deus no passado é diferente do actual, é clara a implicação do propósito mundial de Deus: Ele pretende ser adorado por convertidos de todas as nações, tribos, povos e línguas.
Apocalipse 14:6-7
“Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.”
Mais uma vez, a intenção é que o evangelho seja proclamado não só a mais e mais pessoas, mas a “toda nação, tribo, língua e povo.”
Apocalipse 15:4
“Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações (panta ta ethne) virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos.”
No contexto do Apocalipse com o seu uso repetido de ethnos em referência a “nações” (pelo menos 10 vezes) e não a pessoas, panta ta ethne, em 15:4, sem dúvida, refere-se a grupos de pessoas e não a uma massa de indivíduos não-judeus. Portanto, o que João prevê como o objetivo da redenção é uma multidão de adoradores de santos de todos os povos do mundo.
Apocalipse 21:3
“Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos (laoi), de Deus, e Deus mesmo estará com eles.”
A maioria dos comentaristas contemporâneos reconhecem que laoi (povos) e não laos (pessoas) é a leitura original. Portanto, João (registrando a voz angelical) mudou o singular do Antigo Testamento (por exemplo, Levítico 26:17 laos) para fazer parecer muito óbvio que o objetivo final de Deus na redenção não é para apagar as distinções das pessoas, mas para reunir todos eles em uma diversidade, porém unificada assembleia dos “povos”.
Podemos concluir dessa pesquisa do livro de Apocalipse que a concepção de João do objetivo único de missões é, certamente, alcançar mais e mais grupos de pessoas até que haja convertidos de “toda tribo, língua, povo e nação.”
Como mencionado anteriormente (seção 2), é provavelmente impossível definir os limites precisos de um “grupo de pessoas”. A questão de João parece ser que há grupos étnicos, políticos, linguísticos e culturais da humanidade, nenhum dos quais deve ser excluído de ouvir uma sedutora proclamação do evangelho.
O fato de que não podemos ser mais precisos sobre o que significa um “grupo de pessoas” não nos deve cegar para o fato de que João quis dizer alguma coisa quando ele diz: “toda tribo, língua, povo e nação.” Só porque podemos duvidar se os leprosos Malinke na Guiné são um grupo de pessoas ou não, não podemos ficar cegos para o fato de que existem 700 mil Malinke sem uma igreja!
Estou assumindo que o mesmo João que escreveu o Apocalipse (1:1) também escreveu o Evangelho de João. Será útil ver alguns textos missionários do Evangelho de João sob este prisma.
João 11:51-52
Caifás, o sumo sacerdote, parece advertir o irado conselho judeu para tirar Jesus do seu caminho, porque “é conveniente para você que um homem morra pelo povo, e que toda a nação não pereça”.
Então João comenta esta palavra de Caifás:
Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos.
Isso se encaixa perfeitamente com a concepção de João sobre missões em Apocalipse 5:9, porque lá ele diz que Cristo resgatou homens “de toda tribo, língua, povo e nação.” Em outras palavras, ambos os textos apresentam a tarefa missionária como a reunião daqueles que são resgatados por Cristo – os “filhos de Deus”.
Portanto, “dispersos” (dieskorpismena, 11:52) deve ser tomado no seu sentido mais lato: os “filhos de Deus” serão encontrados tão amplamente espalhados assim como existem povos na terra. A tarefa missionária é alcançá-los em cada tribo, povo e nação.
O mesmo conceito também está por detrás do texto missionário em João 10:16. Jesus diz:
Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz.
O “aprisco” referido é Israel. As “outras ovelhas” referem-se aos “filhos de Deus dispersos” em João 11:52. Estes são os “resgatados de todas as tribos” em Apocalipse 5:9. Portanto, o “a mim me convém” (dei me agagein) é uma forte afirmação do Senhor em como Ele vai vê o seu propósito missionário concluído, ou seja, reunir suas “ovelhas” ou “filhos de Deus” ou “resgatados” de todos os povos da terra.
Assim, o Evangelho de João dá uma força tremenda ao propósito missionário implícito em Apocalipse. Jesus tem pessoas resgatadas em todos os povos. Ele morreu para reunir estes filhos de Deus dispersos entre todos os povos e, portanto, devemos levar todas as ovelhas errantes ao seu aprisco!
Que tremenda confiança e incentivo é que o Cristo ressuscitado vai honrar e ajudar qualquer agência missionária que se junta a Ele neste grande propósito de reunir as ovelhas de todos os povos!
A expectativa de João não era novidade. O Antigo Testamento está repleto de promessas e expectativas que Deus um dia iria ser adorado por pessoas de todas as nações.
Gênesis 12:1-3
“Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Essa promessa por uma bênção universal às “famílias” da terra é essencialmente repetida em Gênesis 18:18; 22:18; 26:4 e 28:14.
Em 12:3 e 28:14 a frase em hebraico para “todas as famílias” (kol mishpahot) é traduzida na Septuaginta por pasai hai phulai. A palavra phule foi traduzida por “tribo” em Apocalipse 5:9, 7:9 e 14:06, mas miahpaha pode ser, e geralmente é, menor do que uma tribo. Por exemplo, quando Acã pecou, Israel é examinado primeiramente como tribo, seguidamente como mishpaha(família) e então como membro da família (Josué 7:14).
Assim a bênção de Abraão é destinada por Deus para chegar a grupos de pessoas razoavelmente pequenos. Mais uma vez, não precisamos definir esses grupos com precisão a fim de sentir o impacto da promessa. Agências missionárias não podem contentar-se em apenas conquistar mais pessoas nos grupos alcançados da terra. A tarefa única de missões é atingir os grupos não alcançados.
As outras três repetições desta promessa de Abraão em Gênesis usam a frase “todas as nações” (kol goiey), que a Septuaginta traduz com o familiar pantata ethne, particularmente em cada caso (18:18, 22:18, 26:4).
Isto sugere fortemente que o termo panta ta ethne em contextos missionários tem o elo de grupos de pessoas, em vez de uma massa de indivíduos não-judeus.
O Novo Testamento explicitamente cita apenas duas vezes essa particular promessa Abraâmica.
Em Atos 3:25 Pedro diz para a multidão judaica, “Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus deu a seus pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra.”
A frase em grego de Atos 3:25 é pasai hai patriai. Essa é uma tradução independente de Génesis 12:3. Não segue a Septuaginta (pasai hai Phula). Mas confirma que a promessa foi entendida em termos de sub-grupos da sociedade. Patria pode ser um subgrupo de uma tribo, ou mais geralmente, um clã ou tribo.
A outra citação do Novo Testamento da promessa Abraâmica encontra-se em Gálatas 3:6-8:
“Assim Abraão ‘creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.’ Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios (ta ethne), preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos (panta ta ethne).”
Curiosamente, todas as versões em inglês traduzem a palavra ethne de forma diferente em seus dois usos no versículo 8: no primeiro caso, “gentios” e no próximo, “nações”.
Alguém poderia tentar argumentar que o emprego que Paulo faz da promessa para sustentar a justificação dos “gentios” significa que ele não viu grupos de pessoas na promessa Abraâmica, mas somente uma massa de indivíduos não-judeus, uma vez que são os indivíduos que são justificados.
Mas isso não é de todo uma conclusão necessária. O mais provável é que Paulo reconheceu o significado do Antigo Testamento panta ta ethne em Gênesis 18:18 (o mais próximo paralelo no Antigo Testamento) e tirou a conclusão de que indivíduos “gentios” estão necessariamente implícitos. Assim, as versões em inglês estão certas em preservar o significado diferente nos dois usos de ethne em Gálatas 3:08.
O uso de Paulo da promessa nos alerta para não ficarmos demasiadamente levados a pensar em grupo de pessoas o que nos faz esquecer a verdade de que a “bênção de Abraão” é realmente vivida por indivíduos, ou por ninguém.
Várias outras promessas e expectativas do Antigo Testamento preparam o caminho para o entendimento de missões que vemos nos escritos de João.
O salmo 67:1-3 representa muitos salmos:
“Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto; para que se conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações (pasin ethnesia), a tua salvação. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos (laoi pantes).”
Outros textos do Antigo Testamento são citados no Novo Testamento. Talvez seria mais eficaz ler o apóstolo Paulo e ver como ele concebeu sua tarefa missionária e sua relação com a esperança do Antigo Testamento dos convertidos, os chamados de todas as nações.
Atos 13:45-47
Em Atos 13:45-47 Paulo justifica deixar a sinagoga e virar-se para “os gentios” apontando para Isaías 49:6,
“Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios (ethnon), a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra.”
É difícil saber por que as versões em inglês não preservam o sentido do Antigo Testamento de Isaías 49:6 e traduzem, “Eu te pus para ser uma luz para as nações.” A palavra hebraica em Isaías 49:6 é goim. Paulo estaria fazendo exatamente o que ele parecia fazer em Gálatas 3:8. Ele estabelecia uma referência necessária sobre os indivíduos “gentios” a partir de uma referência do Antigo Testamento para “nações “.
Mas será que Paulo concebe o seu ministério como aquele que se destina a atingir mais e mais grupos de pessoas, em vez de mais e mais gentios? Para responder a esta questão voltamos a Romanos 15.
Romanos 15
Paulo afirma o duplo propósito para a vinda de Cristo nos versículos 8 e 9:
“Digo, pois, que Cristo foi constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais; e para que os gentios (ta ethne) glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia.”
Então, para apoiar esta reivindicação do propósito mundial de Deus, Paulo reúne quatro citações do Antigo Testamento sobre a ethne, os quais no contexto do Antigo Testamento, muito provavelmente, referem-se a nações e não apenas uma massa de indivíduos não-judeus.
- Romanos 15:9 = Salmo 18:49
“Glorificar-te-ei, pois, entre os ethnesin, ó SENHOR, e cantarei louvores ao teu nome.”
- Romanos 15:10 = Deuteronômio 32:43
“Alegrai-vos, ó ethne, com o seu povo (laos).”
- Romanos 15:11 = Salmo 117:1
“Louvai ao Senhor, vós panta ta ethne, e (pantes hai laoi) o louvem.”
- Romanos 15:12 = Isaías 11:10
“A raiz de Jessé será posta por estandarte dos ethnon; à qual recorrerão as ethne.”
A partir de textos como esses, Paulo elaborou o seu conceito de comissão missionária que o Senhor ressurreto lhe havia dado (Atos 9:15; 13:45; 22:15; 25:17). Qual é esse conceito?
Romanos 15:18-21 oferece uma resposta surpreendente.
“Porque não ousarei falar de coisa alguma senão daquilo que Cristo por meu intermédio tem feito, para obediência da parte dos ethnon, por palavra e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém e arredores, até a Ilíria, tenho divulgado o evangelho de Cristo, esforçando-me, deste modo, por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio; antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado, o verão; e os que não ouviram, entenderão.”
Literalmente Paulo diz: “De Jerusalém e arredores até Ilíria tenho cumprido(peplerokenai) o evangelho.”
O que isso possivelmente pode significar?
Sabemos que havia milhares de almas que ainda seriam salvas naquela região, porque esta era a conclusão de Paulo e Pedro quando escreviam cartas às igrejas nessas regiões.
Esta é uma enorme área que se estende do sul da Palestina, ao norte da Itália, e Paulo diz ter cumprido o evangelho em toda aquela região, embora o trabalho de evangelização tenha apenas 25 anos, no máximo – e algumas das igrejas são muito mais jovens do que isso.
Sabemos que Paulo acreditava que muito trabalho da igreja ainda era necessário lá porque ele deixou Timóteo em Éfeso (1 Timóteo 1:3) e Tito em Creta (Tito 1:5) para fazer o trabalho. No entanto, ele diz que cumpriu o evangelho em toda a região.
Na verdade, ele vai tão longe a ponto de dizer em Romanos 15:23: “Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos”. Não há mais espaço para o trabalho! Isto é realmente surpreendente quando você pensa no curto espaço de tempo desde que o evangelho penetrou na Ásia, Macedônia, Grécia e Ilíria, e o quanto ainda realmente havia para ser feito nessas regiões.
Mas Paulo terminou e está indo para Espanha. O evangelho está cumprido!
O que isso significa?
Eu acho que isso significa que o conceito de Paulo sobre a tarefa missionária é não apenas a conquista de mais e mais pessoas para Cristo (que ele poderia ter feito de forma muito eficiente nessas regiões bem conhecidas), mas o alcance de mais e mais povos. Não há nenhuma indicação no ensino de Paulo de que ele teria um fútil desejo de viajar para pregar em novas áreas geográficas, mas há indicação clara de que ele foi tomado pela visão de povos não alcançados. Romanos 15:9-12 mostra como sua mente estava saturada com os textos do Antigo Testamento que se relacionam com as nações e as pessoas (ver especialmente o versículo 11, “todos os povos”).
Quando ele diz em Romanos 15:20 que o seu objetivo era o de pregar não onde Cristo fora nomeado, “a fim de que eu não construísse sobre fundamento alheio“, o que é que realmente o impelia?
Poder-se-ia, indelicadamente, assumir uma espécie de impulso-egocêntrico que gosta de levar todo o crédito por uma igreja e não o compartilhar com ninguém. Mas esse não é o Paulo que conhecemos pelas Escrituras, nem é o que o contexto sugere.
O versículo seguinte (Romanos 15:21) mostra o que impulsiona Paulo. É o conceito do Antigo Testamento do propósito mundial de Deus que dá a Paulo o seu impulso como um missionário pioneiro. Ele cita Isaías 52:15:
“Pois verão aquilo que não se lhes havia anunciado, e entenderão aquilo que não tinham ouvido.”
No contexto do Antigo Testamento, as linhas imediatamente anteriores são:
“Assim Ele espantará muitas nações (ethne polia); por causa dele reis taparão a boca.”
Sem dúvida que Paulo refletiu sobre o fato de que a sua comissão da parte do Senhor veio a ele com palavras semelhantes. Ele deve “levar o nome [de Cristo] diante dos gentios (ethnon) e reis (Atos 9:15).
Em outras palavras, Paulo está sendo conduzido por uma comissão pessoal do Senhor, ricamente reforçada e cheia de conteúdo por sua própria reflexão sobre o propósito de Deus no Antigo Testamento em abençoar todas as nações da terra (Gálatas 3:8), digno de ser louvado por todos os povos (Romanos 15:11), enviar a salvação até os confins da terra (Atos 13:47), fazer de Abraão o pai de muitas nações (Romanos 4:17) e ser compreendido em cada grupo onde ele não é conhecido (Romanos 15:21).
Assim, o conceito de Paulo da sua tarefa missionária singular foi a de que ele se deve esforçar para além das regiões e povos, onde Cristo está agora anunciado, em lugares como a Espanha e os povos “que nunca foram anunciados sobre ele.” Essa é a maneira como ele o afirma em 1 Coríntios 3:10:
“Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei eu como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele.”
A “graça” missionária de Deus para com Paulo era para ser um fundamento em cada vez mais lugares e povos. Este é o significado das Missões de Fronteira, tal como eu as entendo.
Romanos 1:5 e 16:26
Neste contexto, o início e fim das declarações de missão no livro de Romanos assumem um distinto colorido de Missões de Fronteira.
- Romanos 1:5
“Por intermédio de quem [Cristo] viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios (pasin tois ethnesin).”
- Romanos 16:26
“O mistério … e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações (panta ta ethne).”
Paulo viu seu chamado missionário especial de “graça e apostolado” como meios indicados por Deus para cumprir o “mandamento” que a obediência da fé seja procurada entre todas as nações.
Nossa pergunta de hoje deve ser: Quais as pessoas ou agências em várias igrejas e denominações que deveriam assumir essa singular missão Paulina? Não é o único trabalho da igreja. Missões do tipo de Timóteo são importantes. Ele foi um estrangeiro trabalhando em Éfeso dando continuidade ao que Paulo começou, mas Paulo tinha que seguir em frente porque era impulsionado por uma comissão especial: “Vai, porque eu te enviarei para longe, aos ethne.” (Atos 22:21) e por uma compreensão do propósito de Deus da missão em todo o mundo revelado no Antigo Testamento.
Não há nenhuma razão para pensar que o propósito de Deus tenha mudado hoje. Quem, então, deve assumir a tarefa missionária única do apóstolo de alcançar mais e mais povos? Será que cada denominação e igreja não deveria ter algum grupo vital e estratégico que estivesse recrutando, equipando e apoiando o envio de missionários do tipo paulino para mais e mais povos não alcançados? Ou seja, não deveriam ser as Missões de Fronteira um objetivo essencial de cada grupo de igrejas?
Perguntamos, agora, se essa concepção de Missões de Fronteira era a intenção de Jesus quando deu a seus apóstolos a sua comissão final. A concepção de Paulo da sua própria tarefa missionária, que havia recebido do Senhor ressuscitado, certamente sugerem que isto é o que o Senhor ordenou a todos os apóstolos como a única tarefa missionária da Igreja.
Mas há também evidência disso no contexto do registro de Lucas das palavras do Senhor em Lucas 24:45-47:
“Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações (panta ta ethne), começando em Jerusalém.”
O contexto aqui é crucial para nossos propósitos. Em primeiro lugar, Jesus “abre a mente deles para entender as Escrituras.” Então diz: “Assim está escrito“, i.e., no Antigo Testamento, e depois seguem (no original grego), três infinitivos coordenados dizendo o que está escrito no Antigo Testamento: primeiro, que o Cristo padeceria, em segundo lugar, que Ele deveria ressuscitar no terceiro dia, e terceiro, que o arrependimento e o perdão dos pecados deveriam ser pregados em seu nome para “todas as nações”.
Então, Jesus está dizendo que o seu mandamento para levar a mensagem de arrependimento e perdão para todas as nações “está escrito” na “Escritura” do Antigo Testamento. Essa é uma das coisas que ele abriu suas mentes para entender. Mas qual é o conceito do Antigo Testamento do propósito mundial de Deus (que vimos acima na seção 4.4)? É apenas o que Paulo viu que era – uma intenção de abençoar todas as famílias da terra e ganhar um povo adorador de “todas as nações”.
Portanto, temos fortes indícios de que o panta ta ethne em Lucas 24:47 foi concebido por Jesus não apenas em termos de uma massa de indivíduos não-judeus, mas como um conjunto de povos do mundo, que deve ouvir a mensagem de arrependimento.
Outro relato de Lucas sobre a comissão de Jesus em Atos 1:8 aponta na mesma direção. Jesus disse aos seus apóstolos pouco antes de sua ascensão:
“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.”
Esta comissão sugere que o chegar a todas as áreas não alcançadas (se não grupos de pessoas) é o objetivo das missões e não apenas ganhar o máximo de pessoas que puder, em qualquer lugar. Não só isso, a frase “confins da terra” é muitas vezes no Antigo Testamento paralelo com todos os povos da terra.
Por exemplo: Salmo 22:27:
“Todos os limites da terra se lembrarão e se converterão ao Senhor, e diante dele adorarão todas as famílias das nações.”
(Veja também Salmos 2:8; 67:5-7; 98:2-3; Isaías 52:10; Jeremias 16:19; e Zacarias 9:10.)
Quando Jesus purifica o templo em Marcos 11, ele cita Isaías 56:7:
“Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações (pasin toia ethnesin)?”
É dupla a razão pela qual isso é importante para nós: em primeiro lugar, mostra que Jesus remonta ao Antigo Testamento, como em Lucas 24:45-47, para se referir aos propósitos de Deus em todo o mundo. Em segundo lugar, cita Isaías 56:7 que em hebraico diz explicitamente: “A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos (kol ha’amim).”
A questão de Isaías não é que todo indivíduo não-judeu terá o direito de habitar na presença de Deus, mas que haverá conversões de “todos os povos” que entrarão no templo para adorar.
Que Jesus estava familiarizado com esta esperança do Antigo Testamento e até mesmo suas expectativas para todo o mundo tinham base com referência a isso no Antigo Testamento (Marcos 11:17, Lucas 24:45-47), sugere que devemos interpretar a “Grande Comissão” por esta linha – a mesma linha segundo o conceito da tarefa missionária que temos encontrado em João, no Apocalipse e em Paulo.
Com toda a probabilidade, Ele não enviou os seus apóstolos com a missão geral apenas para ganhar o maior número de pessoas que podiam, mas para chegar a todos os povos do mundo e, assim, reunir os “filhos de Deus” que estão espalhados (João 11 : 52) e chamar todos os “resgatados de toda língua, tribo, povos e nações” (Apocalipse 5:9) até que “todos os povos o louvem” (Romanos 15:11).
Assim, quando Jesus diz em Marcos 13:10 que “o evangelho deve ser primeiramente pregado a todas as nações (panta ta ethne),” não há nenhuma razão para interpretar outra coisa senão que o evangelho deve chegar a todos os povos do mundo antes do fim chegar.
Voltamos agora ao nosso esforço original para entender panta ta ethne em Mateus 28:19 (“Ide e fazei discípulos de todas as nações “).
Pode ser útil olhar primeiramente para outro texto em Mateus. O texto paralelo com Marcos 13:18 é Mateus 24:14:
“E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo (hole te oikoimene), para testemunho a todas as nações (pasin tois ethnesin). Então, virá o fim.”
O mínimo que podemos dizer aqui no que diz respeito a Missões de Fronteira é que esta palavra contém um impulso inevitável para as fronteiras dos não-alcançados. “Por todo o mundo” coloca uma pressão constante sobre a igreja para perguntar se há algum lugar onde não há claro “testemunho” da verdade de Cristo.
Assim, mesmo que o termo “todas as nações” significasse todos os indivíduos não-judeus, teria que existir algum grupo na igreja disposto a assumir a responsabilidade de se esforçar cada vez mais para alcançar os limites para além dos campos missionários, para esses lugares e povos, onde não existe um “testemunho”.
Mas a minha convicção é que, tendo em conta o conceito de missões em João, no Apocalipse, no Antigo Testamento, em Paulo, Marcos e Lucas, é muito provável que em Mateus 24:14 e 28:19 panta ta ethne se refira à grande esperança de que todos os povos do mundo serão discipulados.
4. CONCLUSÃO
A implicação desse esboço da imagem bíblica da tarefa missionária parece ser a de que deve haver em cada igreja e denominação um grupo de pessoas (uma agência de missões ou conselho), que vejam a sua tarefa única e principal
- NÃO a de ganhar tantos indivíduos para Cristo quanto possível antes do fim chegar,
- MAS a de ganhar alguns indivíduos (i.e., plantar igrejas) entre todos os povos da terra antes do fim chegar;
- NÃO se concentrarem meramente nos mais “frutíferos” povos fora de nossa própria cultura (e assim ganhar mais indivíduos para Cristo),
- MAS se esforçarem para atingir mais e mais pessoas não-alcançadas (mesmo que elas sejam menos sensíveis do que outros grupos mais-alcançados).
Em outras palavras, a medida bíblica para o sucesso de uma agência missionária é se ela está cumprindo a tarefa missionária única da igreja
- NÃO primariamente pelo número e qualidade de igrejas plantadas em outros grupos de pessoas além dela mesma,
- MAS primariamente pelo número de diferentes grupos de pessoas não alcançadas nos quais ela planta igrejas de qualidade.
Se assim for, então não deveria cada igreja, denominação e agência missionária procurar descobrir o número de povos não alcançados, comparar este número com o tamanho de seu círculo, e, em seguida, pelo menos, conduzir sua carga proporcional de responsabilidade em alcançar povos não alcançados específicosncipal objetivo de missões
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