Tirai a pedra 2
Texto: João 11:39
“Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque está morto há quase quatro dias”
Precisamos voltar a crer no sobrenatural, a entender que a razão é dom de Deus, mas que nunca pode reger as ações da igreja. Um livro de Enéas Tognini, que li no início de meu ministério, tinha este título: “Tirai a pedra”. Sua linha, que muitos têm seguido, é que há pedras por tirar em nossa vida para que o poder de Jesus se manifeste.
Apesar da simplicidade, não foi um escrito banal. Com habilidade, Tognini expôs seu argumento, evitando a banalidade.
Sem o brilho dele, gostaria de mostrar dois aspectos, apenas, que também me parecem relevantes.
O primeiro é a racionalidade de Marta argumentando que Lázaro estava morto há quatro dias, e que o corpo cheirava mal. Estava coberta de razão. Dava para sentir o cheiro. Jesus opõe à racionalidade de Marta sua necessidade de crer. Ela precisa crer. Isto me é particularmente instrutivo. Sou muito racionalista e custei muito a submeter a razão, por completo, ao poder de Jesus. Não que fosse incrédulo. Marta também não o era. Mas eu “colocava a razão a serviço de Cristo”, mais que submetia a razão a Cristo. São coisas diferentes.
Mas me parece que muitos de nós, crentes, igrejas e instituições temos perdido a capacidade de crer no poder transformador de Jesus, em sua infinita capacidade de mudar situações. Trocamos a fé por análises sóbrias, bem fundamentadas e racionais (talvez “racionalistas” soe melhor) da situação. Assim transformamos o evangelho em algo sem poder, sem atrativo, apenas informações sobre Deus. Tiramos sua sobrenaturalidade e colocamos a cognição em seu lugar. A vida abundante com Jesus se torna ter informações sobre Jesus. É um empobrecimento do evangelho.
O segundo é que o homem que já se decidiu trazer Lázaro do mundo dos mortos, e tinha autoridade para tal, poderia fazer a pedra desaparecer. Ou invocar anjos para arrastá-la. Mas tirar Lázaro da morte só ele pode fazer. Tirar pedras é com os homens. Uma parceria, digamos assim, para o andamento da obra de Deus. Ele faz o impossível. O possível, nós devemos fazer, crendo nele, e sob sua orientação. Se tirassem a pedra antes, nada adiantaria. Se deixassem para depois, também seria inútil. Agir sob a orientação de Jesus e crendo no seu poder.
Mas a resposta do Salvador à objeção de Marta é digna de nota: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” (v. 40). Ele não disse: “Se planejares”. Ou “Se fores bem racional”. Ou “Se usares as modernas técnicas de arrastamento de pedra”. Nem ainda “Façam um cursinho sobre como arrastar pedras”. Disse “Se creres”. Somos chamados a crer no irracional, no impossível, no que os homens não conseguem nem podem explicar.
Cuidado para não rebaixarmos o evangelho ao reino do possível ou trazer a igreja para o degrau do “Só o que foi bem planejado tem possibilidade de dar certo”. O que faz tudo dar certo é o poder de Cristo. Precisamos voltar a crer no sobrenatural, a entender que a razão é dom de Deus, mas que nunca pode reger as ações da igreja, e que nossa vocação é para sempre esperarmos dele o desconcertante.
“Verás a glória de Deus”. Nós a vemos quando cremos de todo coração que ele pode fazer o impossível. Para que aconteça conosco só o possível não precisamos dele. Mas ele é o Senhor exatamente para se glorificar na nossa impossibilidade e com nossa obediência. Creiamos.
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