xmlns:b='http://www.google.com/2005/gml/b'xmlns:data='http://www.google.com/2005/gml/data' xmlns:expr='http://www.google.com/2005/gml/expr'> Vida Cristã: Ensinando Todo o Conselho de Deus.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Ensinando Todo o Conselho de Deus.

Posted by Marco Arrifano. in Uncategorized
























Ensinando Todo o Conselho de Deus.

No decorrer dos séculos, a Igreja sempre enfrentou problemas com a qualidade de seus membros – e quando eu digo qualidade, eu estou falando de santificação, a maturidade espiritual e a sabedoria prática de seus membros. A constante batalha contra o pecado (santificação) e pela expansão do Reino de Deus (sabedoria) sempre impôs exigências e expectativas altas; e frequentemente a Igreja lidou com isso de maneira inadequada. Às vezes, seus membros se recusaram a lidar com o pecado, em si mesmos e naqueles que estavam ao seu redor. Outras vezes, a Igreja permaneceu passiva e escapista, ignorando a ordem clara da Grande Comissão. E, em outras ocasiões, a Igreja foi afligida pelo pecado e se tornou completamente inconsciente de sua tarefa no mundo. No último século, o mesmo problema persistiu e está até se tornando mais agudo e visível.
Como eu comentei em um outro artigo, a Igreja moderna adotou a retórica de “fazer discípulos” com a esperança de que isso possa resolver os problemas que eu descrevi. Esta retórica virou algum tipo de moda; produziu inúmeros livros, artigos, seminários, conferências e sermões. Fez até com que fosse criada a “teologia do discipulado” e todo um Movimento de Discipulado. Pastores e teólogos sustentam que a principal missão da Igreja não é a de ensinar as nações (com a Grande Comissão realmente diz), mas é “fazer discípulos”, e com isso querendo indicar discípulos individuais (como diz a interpretação moderna errônea da Grande Comissão). Não existe qualquer pista sobre como é que este “fazer discípulos” difere do processo normal de converter e ensinar ou porque isso resolveria o problema da Igreja moderna. Além disso, como eu demonstrei, a retórica de “fazer discípulos” como sendo algo mais especial do que simplesmente converter e ensinar as pessoas não pode ser sustentado pela mensagem bíblica. E é perigosa. É perigosa porque (1) É baseada em uma leitura individualista e petista da Bíblia, não em uma interpretação pactual; (2) Legitima a distinção anti-bíblica entre um “convertido” e um “discípulo”; (3) Sua filosofia é o behaviorismo e não a santificação; (4) A ênfase é no método de treinamento e não no conteúdo do que é ensinado.
A solução bíblica não é baseada na retórica emprestada de uma interpretação errada. Também não é baseada em um método de treinamento. É baseada no conteúdo do ensino que a Igreja hoje está dando para as nações. Obcecados com a retórica da moda sobre “fazer discípulos”, nossas celebridades eclesiásticas modernas estão deixando passar outras partes da Grande Comissão; por exemplo, “É me dado todo o poder no céu e na terra” e “Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”. (Mt 28.18,20) . A Igreja hoje não consegue produzir crentes de boa qualidade porque seu ensinamento e sua pregação estão truncados; limita o Evangelho a poucas proposições sobre a salvação e piedade individual. Não transmite um Evangelho abrangente, um que abrange todas as áreas da vida, que ensina indivíduos, famílias, igrejas e nações a viver segundo a Palavra de Deus. A ausência de instruções bíblicas claras e consistentes em tantas áreas da vida conduz a uma teologia falsa e uma teologia que não ensina essas coisas é uma falsa teologia em si mesma, não importa quão correto seja a visão sobre a salvação pessoal. A menos que a Igreja mude o conteúdo de sua pregação, continuará a fracassar; e não haverá “discipulado” que possa salvá-la.
Aqui estão as principais áreas em que os ensinamentos da Igreja hoje – os ensinamentos de todos os pastores, pregadores, teólogos e outras celebridades – estão deficientes:
1. A Soberania de Deus
Uma verdade muito esquecida pela Igreja moderna é que a doutrina fundamental da Escritura não é sobre a salvação do homem ou sobre qualquer coisa sobre o homem, mas é a Soberania de Deus. Nada mais na Bíblia faz sentido se não compreendermos esta doutrina fundamental. Esta doutrina é o princípio e fim de nossa fé. Não há nada de “natural” no universo, no sentido de que existem por conta própria; tudo existe em Deus, em Seu plano para o universo. Também não há história e eventos acontecendo por conta própria, fora da Providência e Predestinação de Deus. Não Deus simplesmente “prevê” o futuro olhando para uma bola de cristal para descobrir o que vai acontecer. Ele conhece de antemão porque Ele mesmo fez acontecer e está constantemente, a todo minuto, controlando cada aspecto de Sua criação e história, nos mínimos detalhes.
Evidentemente, a maior oposição contra essa ideia da Soberania de Deus é o pelagianismo e semi-pelagianismo, a ideia de que o homem, por seu próprio esforço e vontade – livre-arbítrio – é capaz de alcançar um nível que lhe concederá a salvação. A versão inicial – pelagianismo – defendia que o homem é completamente capaz de atingir a perfeição por conta própria. A Igreja Primitiva, e especialmente o gigante teológico da Igreja Primitiva, Agostinho, refutou a heresia que muito depois reapareceu na igreja romana. Lutero escreveu seu melhor tratado sobre o assunto, Nascido Escravo, ao compreender que a questão da Soberania de Deus era o assunto central da Reforma. A doutrina reapareceu em igrejas Protestantes com Armínio e Wesley, mas não se popularizou tanto até o início do século XX. Somente nos últimos 100 anos que as igrejas Protestantes e Evangélicas abraçaram em larga escala o semi-pelagianismo e rejeitaram a herança da Reforma ao adotar doutrinas de Roma em relação à salvação.
O impacto do semi-pelagianismo sobre a qualidade dos crentes não deve ser subestimada. As consequências práticas de uma teologia que diz que o esforço do homem em tomar uma decisão para ser salvo é crucial são raramente discutidas em círculos teológicos, mas o resultado depois de um século de domínio Arminiano no Evangelicalismo está em todo lugar. Um cristão que é ensinado que por sua decisão ele pode ganhar a salvação é necessariamente também ensinado que ele pode perdê-la por sua decisão. A promessa de que ele está seguro nas mãos de Deus somente se aplica condicionalmente; à medida que ele toma a decisão de ficar lá. Mas as decisões procedem do coração e “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas”. (Jr 17.9) A vida de um crente assim se torna introvertida, uma luta constante para manter o coração enganoso no lado correto do muro naquela decisão de salvação. A maior parte de sua energia não é gasta obedecendo e glorificando a Deus, mas examinando seu próprio coração diariamente. No fim das contas, o semi-pelagianismo não é capaz de produzir uma cultura, sociedade ou qualquer tipo de conhecimento compreensivo porque desperdiça todas as energias lutando contra a coisa mais enganosa.
Mas seria um erro imaginar que as igrejas que alegam ser “Reformadas” estão livres desta doença. Ainda que sua visão sobre a salvação e os esforços do homem esteja teologicamente correta, a maioria substituiu a ênfase na Soberania de Deus pela ênfase na graça de Deus. As “doutrinas da graça” são exaltadas como as “mais importantes doutrinas” da Reforma e da fé Cristã. Um autor Reformado chegou a dizer que nada é tão ofensivo para um incrédulo quanto às doutrinas da graça. Evidentemente, isso não faz qualquer sentido e não pode ser provado. Os incrédulos não tem qualquer problema com presentes de graça. O que eles odeiam mesmo é a Soberania de Deus, a ideia de que os homens não são o centro do universo. Um bom amigo sob a influência desta ênfase na graça perguntou recentemente no status do Facebook: “Você, como cristão, está demonstrando a graça de Deus para o mundo?” Eu fui tentado a responder que temos que começar demonstrando a Soberania de Deus antes de Sua graça.
Não há nada de errado com a graça de Deus, sabemos que somos salvos pela graça. Mas quando a graça se torna o centro do ensinamento Cristão, isso transfere o centro de Deus para o homem. A função principal de Deus se torna nos conceder graça aos homens e salvar os homens. Assim, o Evangelho é truncado para significar exclusivamente a salvação do homem e não o estabelecimento do Reino de Cristo. A Soberania de Deus em todas as áreas da vida e os direitos régios de Cristo em todas as áreas da vida são coisas tratadas como “triunfalismo” e somente a salvação do homem e sua piedade são exaltados como o principal propósito desta vida. Eu já falei sobre essa ênfase na graça em um artigo anterior então não repetirei todos os argumentos aqui. É suficiente dizer que uma ênfase assim na necessidade do homem ser salvo ao mesmo tempo em que a Soberania de Deus é ignorada, é tão semi-pelagiana e humanista quanto o Arminianismo e, portanto, levará ao mesmo resultado.
 2. O Mandato de Domínio (Cultural)
O Cristianismo moderno, em contraste flagrante com o Cristianismo de séculos anteriores, é culturalmente passivo. Os puritanos na Inglaterra, sendo somente uma pequena parcela da população, exerceram enorme influência pelo entusiasmo imparável de fazer com que toda a cultura se submetesse a Cristo. A própria Europa, apesar de ser somente uma pequena porção do mundo em termos de recursos, território e população, mudou a cultura e a civilização do mundo por causa da Cristandade, a ideia de uma cultura construída para exibir a glória de Deus. O dualismo moderno que separa piedade pessoal do envolvimento cultural sempre foi estranho para cristãos do passado. Não havia separação entre os dois.
Em contraste, o Cristianismo moderno, longe de ser uma fé que conquista o mundo e seus reinos, é uma religião da espera passiva. Celebridades Evangélicas e Reformadas insistem que a Igreja não deve sequer tentar mudar a cultura; não existem coisas como uma cultura cristã – um governo, arte, ciência ou qualquer outra coisa. Estas são áreas que não estão de baixo do mandato do homem para conquistas. O único propósito do homem é ser salvo; como vimos no último ponto, o Evangelho é limitado à salvação do homem. Dentro dessa perspectiva, seja a pessoa amilenista ou pre-milenista, tudo o que ela pode fazer é esperar pelo último dia na história ou de sua vida para então “chegar em casa”. A jornada do Cristão neste mundo tem sido descrita como um “choro constante junto aos rios da Babilônia”, “sendo realezas exiladas”, “sendo uma fiel testemunha em uma cultura que perece” ou qualquer outra descrição bíblica linda, mas incorretamente aplicada cujo único objetivo é declarar que não temos muito a fazer aqui como Cristãos, não importa o quanto a gente tente. Por mais belas que sejam essas descrições, são uma teologia falsa, pois vão diretamente contra a mensagem e o espírito da Palavra de Deus.
A doutrina bíblica do homem é que o homem foi criado com um propósito na terra e na história: dominar a terra (Gn 1.26-28). Teólogos chamam isso de Mandado de Domínio ou Mandato Cultural. O homem deve trazer a ordem de Deus para cada canto da criação e construir cada aspecto de sua cultura ou sociedade conforme os requerimentos de Deus. Essa foi a tarefa principal que o homem recebeu quando foi colocado no Jardim; não “cultuar”, não ociosamente aproveitar a beleza do Jardim, não discutir detalhes teológicos obscuros. Seu verdadeiro culto, sua verdadeira alegria na criação de Deus, seu verdadeiro conhecimento e compreensão de teologia ou Deus viria de seu trabalho cultivando o Jardim ou posteriormente, cultivando o mundo inteiro e sua própria cultura. Esse mandato não foi destruído com a Queda; o pecado do homem simplesmente o dificultou. Mas Deus repetiu o mesmo mandato para Noé. No Novo Testamento, Jesus declarou que Ele recebeu toda autoridade no céu e na terra (Mt 28.18) e fez disso a base da Grande Comissão. E Paulo declarou aos cristãos em termos fortes: “Tudo é vosso… seja o mundo, ou a vida, ou a morte; sejam as coisas presentes, ou as vindouras, tudo é vosso”. (I Co 3.21-22) Que o mundo pertence aos cristãos é só a restauração do mandamento original, “dominai”. E tudo no mundo pertence aos Cristãos, então eles têm a responsabilidade de cultivar o mundo no Mandato Cultural concedido por Deus.
Isso era uma verdade aceita por teólogos Reformados até a década de 50. Somente na última geração que surgiu uma nova teologia Reformada declarando que o Mandato Cultural do homem foi anulado e destruído, ou que somente é válida para uma sociedade agrícola. Ou, que os cristãos não podem mudar a cultura, pois não existe cultura cristã. Teólogos neo-Reformados como Al Mohler e Michael Horton defendem tal coisa e ainda dizem que o envolvimento cultural do cristão não é uma tarefa primária, mas somente um subproduto da “presença fiel” (seja o que for que isso significa) do cristão em uma cultura decadente. Eles acreditam que a vida e ação cristã precisam ser centralizadas em si mesmo e na igreja e, seja qual for a influência cultural, será somente acidental. E, é claro, nenhuma influência cultural pode produzir um impacto cultural forte o suficiente para construir uma cultura cristã porque não pode haver uma cultura cristã, ponto.
Se a tarefa do homem na terra é exercer domínio sobre a terra – em todos os aspectos de sua vida, individual e cultural – então, substituir esta tarefa por uma religião introvertida que somente olha para a cultura como um subproduto da vida cristã, produzirá cristãos de baixa qualidade.
3. A Lei de Deus como uma Ferramenta de Domínio
Deus é soberano. O homem recebe o Mandato de Domínio (Cultural) sobre a terra. Quando combinamos essas duas verdades bíblicas com a crença de que Deus revelou a Si mesmo e Sua vontade em Sua Palavra, nós podemos responder a pergunta com facilidade: Quais regras foram estabelecidas por Deus para o homem em Seu Mandato Cultural? Evidentemente, estas regras para domínio precisam ser encontradas na mesma Palavra que Deus nos revela.
Essas regras são a Lei de Deus. A Lei de Deus foi dada para o homem obedecer. O homem recebeu domínio, mas não como um soberano, pois está sujeito a Deus. E o homem, como criatura, tem a obrigação de obedecer a Lei de Deus em todos os aspectos do Mandato Cultural. Qual é a extensão disso? Inclui tudo que o homem faz, tanto em sua vida pessoal quanto em sua vida cultural. Não há nada na terra que possa permanecer fora do Mandato Cultural do homem e, portanto, não há nada que se encontra fora dos requerimentos da Lei de Deus. A Lei de Deus precisa ser ensinada para indivíduos, famílias, igrejas e nações, porque é somente a Lei de Deus que dá as ferramentas para obedecer a Deus na tarefa que Ele deu ao homem. Quando o fundamento da soberania de Deus é lançado e o Mandato do Domínio é tido como a principal tarefa do homem na terra, há uma única conclusão lógica: A Lei de Deus é Lei, em tudo o que o homem faz, individualmente ou culturalmente.
A Lei, evidentemente, é revelada na Bíblia. É resumida nos Dez Mandamentos e as aplicações casuísticas são dadas no código legal apelidado de Lei Mosaica porque foi dada por meio de Moisés. No resto da Bíblia nós vemos aplicações práticas da Lei sendo explicadas e praticadas pela Igreja do Antigo Testamento e pelas nações ao redor de Israel, e também pela Igreja do Novo Testamento. Sem a Lei de Deus, não há qualquer noção do que seja praticar a justiça e a santificação.
Esta verdade nunca foi desafiada em círculos ortodoxos até há cerca de 100 anos. No decorrer dos séculos a Igreja no ocidente cometeu erros em relação à interpretação e aplicação da Lei de Deus; às vezes as antigas leis pagãs eram usadas para interpretar a Lei Bíblica, às vezes o sentido era obscurecido pelo pecado e corrupção na Igreja. Mas, incessantemente, quando teólogos eram interrogados sobre conselhos práticos para indivíduos, comunidades e governantes, eles iam diretamente para a Lei de Deus. O processo de aprender e compreender a Lei durou séculos; mas a direção estava clara.
Foi somente nos últimos 100 anos que este consenso sobre a validade da Lei de Deus foi rejeitado pela Igreja. Previsivelmente, se a Soberania de Deus é substituída pela soberania do homem e se o Mandato Cultural abrangente é substituído por uma necessidade limitada de salvação para o homem, a Lei de Deus deixa de ser necessária. Se tudo o que o homem remido precisa fazer é chegar ao céu, e se ele não precisa construir uma cultura remida na terra, então ele não precisa de uma lei para esta cultura. A cultura é abandonada para o ímpio, como diversos teólogos neo-Reformados insistem, e seja qual for a lei que exista, esta precisa ser uma lei criada por homens, ou até mesmo uma “lei natural” vaga e sem definição. No fim das contas, como Cornelius Van Til corretamente identificou, há somente duas opções, Teonomia (a Lei de Deus) ou autonomia (a lei de si mesmo). Quando pastores, teólogos e outras celebridades focam no homem e na salvação do homem, então a lei do homem, não a Lei de Deus, inevitavelmente controlará a cultura.
O problema com isso é que um cristão instruído em uma teologia assim não tem força e é ignorante sobre o que ele deve fazer no mundo fora da Igreja. Como eu já mencionei, Al Mahler chama atenção para a incompetência de cristãos no âmbito da política e governo civil. Ele não precisa procurar muito para descobrir quem é o responsável por essa incompetência: ele mesmo e sua rejeição da Lei de Deus como a única Lei para o homem e sua cultura. Sem a Lei de Deus não há padrão para a justiça na vida e no comportamento. Com Greg Bahnsen escreveu em seu excelente livro, Teonomia na Ética Cristã, “… grande parte da Igreja hoje sucumbiu à ideia de que a Lei de Deus é estranha, não somente para a moralidade pessoal, mas para questões do estado e do governo civil. Os teólogos deste século não tem oferecido qualquer alternativa séria ao mundo e com isso dão a impressão de que o sal deixou de salgar”.
De fato, quando não existe padrão para a justiça prática no ensinamento da Igreja, a qualidade dos crentes se torna previsivelmente baixa.
4. As Sanções Pactuais de Deus na História
“Enquanto isso, a ordem da graça comum precisa seguir o seu curso dentro das incertezas de princípios de condicionamento mutuo de graça comum e maldição comum. A prosperidade e a adversidade são, em grande parte, experimentadas de maneira imprevisível por causa da soberania insondável da Divina vontade que as distribui de maneira misteriosa”. (Dr. Meredith Kline)
Dr. Meredith Kline escreveu estas palavras em 1978. Quando elas foram escritas, ele morava em uma sociedade pacífica, segura e próspera, na qual ele podia ter sua própria casa e seu próprio carro, e sua família era livre de perseguições por convicções religiosas. Ele tinha um emprego seguro que lhe pagava pelo menos 16 vezes mais – em pura equivalência monetária – do que seus antepassados somente 150 anos antes. (O historiador econômico Deirdre McClocke salientou que, em relação a qualidade dos bens e serviços disponíveis, o aumento não é de 16 vezes, mas de cerca de 100 vezes). Sua cidade nunca foi bombardeada e ele tinha liberdade e justiça em um sistema legal e político que valorizava o indivíduo muito mais do que outras épocas na história. Sua nação, os Estados Unidos da América, a nação mais cristã do mundo – em relação a outras nações, eu quero dizer – era o líder incontestável do mundo, economicamente, militarmente, tecnologicamente, socialmente, etc.
As circunstâncias eram o produto direto, ainda que historicamente gradual, de uma civilização cristã que começou como um bando pequeno e desorganizado de 11 discípulos. Durante a maior parte de sua história, a Cristandade foi inferior aos seus rivais, economicamente, demograficamente e militarmente. E, ainda assim, emergiu vitorioso para conquistar o mundo.
E não havia nada de “misterioso” ou “imprevisível” sobre isso. Cristãos do passado tinham esperança, aguardavam com ansiedade e previram que aconteceria. Não havia esses mistérios ocultos na história. A história pertence a Deus e, como tudo que é de Deus, Deus usa a história para revelar a Si mesmo e Sua vitória sobre Seus inimigos. Ele recompensaria Seu povo pela obediência e castigaria os ímpios pela desobediência. Deuteronômios 28, como os sermões de Calvino sobre este capítulo deixam claro, era considerado como tendo aplicação para nós tanto quanto tinha para Israel no Antigo Testamento. Uma nação, ou uma cultura que era obediente a Deus poderia esperar bênçãos temporais, prosperidade, paz, liberdade, liberdade, justiça, segurança – como aquelas que Meredith Kline experimentou durante sua vida. Uma nação ou uma cultura que era desobediente à Deus poderia esperar maldições temporais e juízo – como o que esta acontecendo com nações não-cristãs hoje e já aconteceu na história. Jesus Cristo é o Senhor da história e Seu cetro de ferro governa as nações.
As palavras de Kline oficializaram uma mudança de paradigma que vinha acontecendo em círculos reformados há cerca de uma geração antes dele. O foco dessa mudança de paradigma era o de separar a história do Pacto de Deus com o homem; fazer com que a história fosse independente, imprevisível e moralmente neutra. A mudança de paradigma está no fundamento do movimento neo-Reformado e sua escatologia amilenista. É o seu desenvolvimento lógico: a Soberania de Deus é negada, o Mandato Cultural do homem é negado; a validade da Lei de Deus é negada; o próximo passo lógico é negar as sanções pactuais de Deus na história. A história é divorciada da revelação de Deus e entregue somente à Divina vontade “misteriosa” e “inescrutável”. Não importa o quanto olhamos para a história, sob nossa perspectiva moderna, não há qualquer sentido ou direção reconhecível.
Mas, esta mudança de paradigma tem o seu preço. Se a história não tem qualquer sentido ou direção reconhecível, então a vida individual de um crente – uma parte da própria história – também não tem qualquer sentido ou direção. A vida pessoal do cristão é inseparável do contexto histórico no qual a Divina Providência o colocou (Atos 13.36). Se o propósito e a direção deste contexto histórico são ocultos e imprevisíveis, o propósito e a direção da vida do crente seriam ocultos e imprevisíveis. A afirmação de Kline, se aplicada na história de forma abrangente, acaba sendo aplicada à indivíduos também. Se a obra do Espírito Santo é invisível na história, será invisível na vida de um homem também.
Qualquer crente que é ensinado assim ficará completamente confuso sobre o propósito e sentido de sua vida. Seres humanos individuais vivem na história e servem ao propósito de Deus especificamente em sua própria geração. Precisam compreender o que Deus está fazendo na história; caso contrário, não podem compreender o lugar que ocupam. Se a Igreja não ensina as sanções pactuais na história como o fundamento para entender a história, a Igreja irá produzir crentes imaturos, de baixa qualidade, confusos sobre si mesmos e sobre suas vidas, sem estabilidade no compromisso e obediência a Deus. E nenhuma técnica de “fazer discípulos” poderá resolver isso.
5. A Vitória do Evangelho na História
O Cristianismo, quando entrou na arena do mundo, chocou o mundo com uma visão completamente diferente da história. Todas as religiões pagãs – incluindo o Judaísmo depois de 70 AD e o Islã – são essencialmente pessimistas sobre a história; e todas as religiões pagãs focam no passado e imaginam uma Era de Ouro no passado. O futuro era uma ameaça para todas elas; o passado tinha que ser preservado e perpetuado; o presente era uma ação preventiva contra qualquer mudança.  Qualquer mudança seria para o pior, uma ameaça à estabilidade do mundo.
As palavras de Paulo em I Coríntios 3.21-22 (“seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso”) e Filipenses 3.13 (“esquecendo-me das coisas que atrás ficam”; baseado em Isaías 43.18) introduziu uma visão completamente nova da história. O futuro não era mais uma ameaça; um cristão poderia olhar para frente com segurança, esquecer o que ficava para trás, porque o futuro pertencia a ele, a Igreja, a Cristandade. Atanásio de Alexandria e Agostinho expressam em seus escritos as expectativas vitoriosas que cristãos tinham da história; a própria história exibiria a vitória de Cristo. O mundo pagão não tinha nada comparável; em seu auge, a ideologia oficial do Império Romano não era capaz de oferecer nem o mínimo de otimismo sobre o futuro; nem as diferentes seitas, ou mitologias; nem as heresias dualistas que assolavam a Igreja.
E, de fato, um verdadeiro cristão é treinado somente quando há um alvo adiante para ser alcançado, como Paulo explicou em Fp 3.13. Nossas convicções sobre nosso futuro determinam nossas ações no presente. A maturidade cristã se desenvolve quando cristãos aplicam a sabedoria bíblica nas circunstâncias hoje com o objetivo de atingir resultados amanhã. Isso se aplica a tudo: atividades missionárias e evangelísticas, plantação e construção de igrejas, criação e educação de filhos no Senhor, administração política e econômica, atividades científicas, ou qualquer outra coisa. Não existe qualquer maneira de definir a sabedoria prática, exceto pela compreensão das consequências das ações com base na Bíblia. E, é claro, se um cristão não tem certeza que a obediência espiritual – individual ou coletiva – será abençoada por Deus, então tal cristão não tem qualquer motivação para obediência. E, ainda que ele tenha essa motivação, não há nada para ele alcançar, a menos que exista uma fé firme em um futuro sendo mudado pelos esforços de homens piedosos como ele.
Esta visão é anatematizada como “triunfalista” por muitas celebridades da igreja moderna. Em seu lugar, oferecem uma visão da história que segue o pessimismo das religiões pagãs que a Igreja Primitiva encontrou. A Igreja nunca foi tão passiva quanto quando essa característica tão incomparável de sua doutrina – o otimismo histórico – foi lançado fora e substituído por uma visão pessimista que diz que não devemos esperar qualquer bom desenvolvimento na história. De fato, alguns professores neo-Reformados dizem que podemos ver algumas melhoras aqui e ali, mas, de forma geral, não há qualquer garantia de uma vitória abrangente e de grandes proporções na história. Esta visão pessimista do Reino de Deus estabelecido na primeira vinda de Jesus Cristo é vestida com jargão teológico, o principal é “já, mas ainda não”. O foco, evidentemente, é no “ainda não”, o que significa que não temos base legal para esperar a vitória do Evangelho como descrita pela Grande Comissão: ensinai as nações.
E, de fato, a grande questão é: a Grande Comissão será cumprida pela Igreja na história? Ou será que a Igreja, mesmo tendo o Espírito Santo e a presença de seu Senhor e Rei, irá fracassar? A promessa de vitória produz soldados dispostos a pagar o preço pela causa. A promessa de derrota produzirá fracotes que permanecem passivos e nunca crescem na fé e na maturidade espiritual. No último século, a Igreja produziu principalmente fracotes. Não é de se espantar.

Conclusão: Estes cinco elementos da doutrina cristã são essenciais para produzir cristãos verdadeiramente convertidos, de boa qualidade e maturidade espiritual:

1. A Soberania de Deus
2. O Mandato de Domínio (Cultural)
3. A Lei de Deus
4. As Sanções Pactuais de Deus na História
5. A Vitória do Evangelho na História

Sem estas coisas como o fundamento de todo ensinamento e pregação cristã, a Igreja continuará a produzir convertidos fracos que não sabem o que eles devem ser e nem o que devem fazer como cristãos. Continuaremos a perder nossos filhos e continuaremos a perder até mesmo adultos para o sistema do mundo – especialmente para um sistema de mundo que adotou uma versão secularizada destes fundamentos do ensino bíblico. Nenhuma retórica sobre “fazer discípulos”, nenhum método de treinamento, nenhum seminário de discipulado ou conferência poderá suprir a falta destas questões essenciais.

A Igreja moderna, e especialmente os neo-Reformados, ao se recusarem a pregar todo o conselho de Deus para suas congregações, tem criado o problema de igrejas fracas com crentes fracos. Estão tentando resolver o problema com mais do mesmo – a retórica perigosa de “fazer discípulos”, baseado na interpretação errônea de um único verso. O que eles precisam fazer é um Evangelho abrangente que fala para todas as áreas da vida, uma cosmovisão abrangente, proclamar os direitos régios de Jesus Cristo em todas as áreas da vida. Somente ai é que teremos uma Igreja sem mácula e irrepreensível
Tradução: Frank Brito Fonte: Christendom  Restored


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