Por Pr. Plínio Sousa. |
A MARCA DA BESTA
“Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis” – Apocalipse 13:18.
Dois governantes terríveis entram em cena no capítulo 13, uma a emergir do mar, e o outro a emergir da terra. O mar aqui indubitavelmente é “um símbolo da superfície agitada da humanidade não regenerada, e especialmente da caldeira fervente da vida nacional e social da qual os grandes movimentos históricos do mundo se levantam”.
“As almas dos ímpios são comparadas nas Escrituras com o mar agitado. Por enquanto Deus controla as iniquidades deles pelo seu imenso poder, como faz com as ondas enfurecidas do mar, dizendo: “Virão até aqui, mas não prosseguirão”. Mas se Deus retirasse deles seu poder refreador, seriam todos tragados por elas”.
A primeira besta, cujos chifres e diademas representam poder, recebe sua energia de Satanás: “O dragão deu à besta o seu poder, o seu trono e grande autoridade” (v.2). É quase inacreditável que toda a terra venha a adorar o dragão e a besta: “Todo o mundo ficou maravilhado e seguiu a besta. Adoraram o dragão, que tinha dado autoridade à besta, e também adoraram a besta, dizendo: Quem é como a besta? Quem pode guerrear contra ela?” (v.3 – 4). Haverá muita religião na terra, mas será sem Deus e blasfema. A primeira besta se opõe a Deus:
“Ela abriu a boca para blasfemar contra Deus (…)” (v.5 – 6); recebe sua energia de Satanás (v.2); é militarmente suprema: “Quem pode guerrear contra ela?” (v.4); possui poder de extensão mundial: “Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação” (v.7); e persegue os santos de Deus: “Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los” (v.7). Quem se atreveria a negar que o cenário da história universal está sendo rapidamente preparado por tendências que conduzirão finalmente ao governo e adoração de um tal monstro? Todos aqueles que não pertencem ao Cordeiro de Deus adorarão a besta.
“Ela abriu a boca para blasfemar contra Deus (…)” (v.5 – 6); recebe sua energia de Satanás (v.2); é militarmente suprema: “Quem pode guerrear contra ela?” (v.4); possui poder de extensão mundial: “Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação” (v.7); e persegue os santos de Deus: “Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los” (v.7). Quem se atreveria a negar que o cenário da história universal está sendo rapidamente preparado por tendências que conduzirão finalmente ao governo e adoração de um tal monstro? Todos aqueles que não pertencem ao Cordeiro de Deus adorarão a besta.
Enquanto a primeira besta é sem dúvida um poder mundial político, a segunda (v.11), como disse Lee, “é um poder mundial espiritual, o poder da ciência e do conhecimento, das idéias, do cultivo intelectual. Ambas são inferiores, ambas são bestas, e, portanto estão em íntima afiança. A sabedoria anticristã secular está a serviço do poder anticristão mundano” (pág. 671). A segunda besta reforça as ordens da primeira, e acompanha sua obra perversa com várias formas de manifestações milagrosas (v.12 – 13). O período do “tempo dos gentios” começou com a adoração imposta de uma imagem por um poderoso governante (por Nabucodonosor em Daniel 3), e este período terminará com uma semelhante adoração imposta, desta vez em escala universal.
A imagem de idolatria do anticristo será diferente de qualquer outro ídolo da história humana. A Bíblia com desdém denuncia ídolos como tendo bocas, mas incapazes de falarem (Salmos 115:5; 135:15 – 17; Isaías 46:7;
Jeremias 10:05; Hebreus 2:18, 19). Mas, em outra demonstração de seu poder para enganar, o falso profeta vai dar “fôlego à imagem da besta”, para que a imagem da besta engane de forma tal, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos de Deus (cf. Mateus 24:24).
(v.16 – 17) O capítulo conclui com uma profecia do que poderia ser chamado de ditadura econômica. O texto não diz que os homens não poderão comer se não tiverem a marca (…) da besta, mas não poderão negociar sem esse sinal. Adicione a essa necessidade desesperada do mundo, em meio à carnificina da Grande Tribulação. Após seu imenso sucesso em todo o mundo e depois de deixar sua fachada de bondade, o falso profeta vai causar a morte em tantos quantos não adorarem a imagem da besta. Tal como no caso à imagem de Nabucodonosor (cf. Daniel 3:6), a morte sentença será decretada para aqueles que se recusarem a adorar a imagem do anticristo.
(v.18) O versículo que conclui este capítulo, no qual o número da besta é revelado como 666, tem dado lugar a uma multidão de interpretações, e a vasta literatura. Livros inteiros têm sido escritos sobre este único texto. Lutero errou em pensar que fosse uma declaração cronológica. Acrescentando 666 ao ano 1000 ele obteve naturalmente, como resultado 1666 A.D., ano em que nada de significância profética aconteceu. Muitos têm tentado identificar esta pessoa descobrindo nomes cuja soma numérica das letras perfaz 666. Em nossa língua, por exemplo, X é igual a 10, L igual a 50 e C igual a 100. Há equivalentes semelhantes para as letras no hebraico, grego e latim. Alguns têm crido, então, que este número assim traduzido refere-se a Nero, o César do primeiro século, outros como Lateinos, significando, “o Latino” (atribuiu ao vocábulo Lateinos (latino) partindo de que: Lambida = 30, alfa = 1, Tau = 300, épsilon = 5, iota = 10, Nu = 50, Ómicron = 70, Sigma = 200, cuja soma confere a 666).
A partir daí, querem, os estudiosos anticlericais deduzir que se tratando um homem latino, seria o Papa, sob a errada alegação de que seria o “Vicarius Filii Deis” (atribui em algarismo romano da seguinte forma: V = 5; I = 1; C = 50; A= 0; R = 0; I = 1; U = 5; S = 0 – Vicarius; F = 0; I = 1; L = 100; I = 1; I = 1 – Filii; D = 500; E = 0; I = 1; S = 0 – Deis,
(Vigário do Filho de Deus) ou “Dux cleri” (Chefe do clero) que em numeração latina dar-se-ia em uma soma igual ou correspondente a 666. Ora, tais premissas esbarram-se que em momento algum o Papa é assim chamado, apesar de ser o seu título oficial, e, sim, de Romano Pontífice, Bispo de Roma, Santidade, Chefe ou Líder da Igreja Católica, Santidade, Chefe visível da Igreja, até mesmo Papa (Pai), ou como prefere alguns: Pedro Apóstolo, Príncipe dos Apóstolos, e, ainda, uma numeração latina, quando o original é em grego. E, se é o Papa o anticristo, qual deles seria? Obrigatoriamente, deve ser o Papa Francisco, pois, do contrário, muitos papas morreram e Jesus Cristo ainda não voltou.
(v.18) Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois ê número de homem. Ora, este número é seiscentos e sessenta e seis. João dá o nome da besta de maneira simbólica, usando um esquema conhecido no mundo antigo como gematria¹. Nem a língua grega nem a hebraica tinham um sistema numérico. Usavam as letras do alfabeto em lugar de números; por exemplo: A = 1, B = 2, C = 3, etc. Assim um nome podia ser transliterado no número correspondente. Deissmann íala de uns rabiscos num muro de Pompéia que dizem: “Eu amo a que tem o número 545”. Nos Oráculos sibilinos encontramos uma ilustração importante de gematria. Swete alude a uma passagem onde o valor numérico do nome Jesus é dado como sendo 888 (1 = 10, H = 8, I = 200, 0 =
70, Y = 400, 1 = 200). João diz que é preciso sabedoria para calcular o nome da besta do seu número, e acrescenta que é um número humano, igual a 666. A interpretação mais comum entre os estudiosos preteristas é que o número se refere ao imperador Nero (Neron Kaisar). Só que no grego o total numérico de “Neron Kaisar” não é 666, mas 1005. O problema se resolve transliterando “Neron Kaisar” para o hebraico, o que dá então 666. O resultado só é obtido, todavia, alterando um pouquinho a palavra hebraica para César. Além disto, ninguém explicou por que João, escrevendo a um público que falava grego, teria elaborado um simbolismo de gematria com a forma hebraica do Nome, e não a grega. Também é significativo que nenhum dos intérpretes antigos do Apocalipse reconheceu esta solução. Nosso primeiro intérprete, Irineu, sugeriu que 666 poderiam significar “euanthas”, “teitan” ou “lateinos” (o Império Latino).
Muitos intérpretes sentiram que esta última sugestão de Irineu foi a melhor. Com uma manipulação inteligente pode-se fazer quase tudo com estes números. Se A = 100, B = 101, C = 102, etc., o número de Hitler é 666. Ê possível que o número queira ser algo simbólico. Se o número do Messias, (IHSOUS), totaliza 888, e sete é o número perfeito, pode ser que a intenção seja que 666 seja o símbolo para o que o homem é capaz de fazer de melhor, impossibilitado de alcançar a perfeição. Este pode ser o significado da frase “é número de homem”. O máximo que podemos dizer é que se o número da besta é uma profecia de uma situação futura, ninguém ainda foi capaz de resolver o seu significado, mas quando vier à hora o significado será evidente. (cf. NOTA).
NOTA¹: O que é Gematria? Em hebraico, grego e latim as letras do alfabeto também funcionavam como números. As nove primeiras letras correspondiam de um a nove, o nove seguinte significava dez por noventa, e assim por diante. Gematria usava essas equivalências como um jogo de palavras codificadas, em que as palavras e os nomes eram representados pela soma de seus equivalentes numéricos. Um exemplo popular é um granito de Pompéia, “Eu amo cujo número é 545”. O número 318 para o servo de Abraão (Gênesis 14:14), foi decifrado como Eliezer numa tradição rabínica (Aune , 1998, p. 771), porém, o trabalho de apenas um número total prova ser um enigma com uma gama de possibilidades. Adivinhar pode ser a habilidade mais útil na interpretação de tais números.
O autor do Apocalipse não buscou devaneios fantasiosos e preconceituosos, tinha, sim, a intenção de transmitir aos fiéis de língua grega, uma mensagem de consolação e esperança, reconfortando-os com a Revelação de Cristo. Acho que não precisamos ir mais adiante do que reconhecer que seis é o número do homem decaído e, portanto o número da imperfeição, e que 666 é a trindade do seis. Até mesmo nesta passagem há uma trindade demoníaca – Satanás, a besta a emergir da terra (Anticristo – v.11) e a besta a emergir do mar (o falso profeta – v.1).
“Não vemos hoje em dia que esta imagem já está sendo edificada, em nação após nação na terra, pelo poder da propaganda e com mentiras? (…). Já não ouvimos a voz rouca da besta clamando e gritando no rádio? Não temos lido suas vanglórias e ameaças nas páginas da imprensa mundial? Tudo o que pode ser feito sem Jesus Cristo é um caminho para a incredulidade, é dar forma à maldade, ao orgulho e ao egoísmo humano (…). O tempo todo o mal latente no mundo está estabelecendo sua imagem e deixando suas impressões sobre as pessoas e mentes e atos dos homens” (pág. 86 – 89).
Observe que estes dois governantes mundiais são designados bestas. Nicholas Berdyaev, o filósofo russo, escrevendo sobre a bestialidade do homem moderno, diz:
“O movimento em prol da super-humanidade, do super- homem, e dos poderes sobre-humanos, com muita frequência nada mais são que a bestialização do homem. O moderno anti-humanismo toma a forma do bestialismo.
Usa o trágico e infeliz Nietzsche como uma espécie superior de justificação para a desumanização e bestialização (…). Uma crueldade bestial para com o homem é a característica de nosso século, e torna-se mais estarrecedor por se exibir no cume do refinamento humano, onde os conceitos modernos de simpatia, ao que parece, tomaram impossíveis as antigas formas bárbaras da crueldade. (…) Aqui os instintos atávicos e bárbaros são filtrados através do prisma da civilização e, portanto têm um caráter patológico. O bestialismo é um fenômeno do mundo humano, mas já civilizado” (The Fate of Man in the Modern World, pág. 26 – 29. Para uma discussão completa deste capítulo, veja meu livro, This Atomic Age and the Word of God, págs. 193 – 221).
A passagem principal na Bíblia que menciona a “marca da besta” é Apocalipse 13:15 – 18. Outras referências podem ser encontradas em Apocalipse 14:9, 11; 15:2; 16:2; 17:11; 19:20; 20:4. Essa marca age como um “selo” para os seguidores do anticristo e o falso profeta que é o porta-voz do anticristo. O falso profeta (a segunda besta) é aquele que leva as pessoas a aceitarem essa marca. Essa marca é literalmente colocada na mão ou na testa, e não é apenas um cartão que alguém carrega. Os progressos recentes em tecnologias médicas para implantar chips têm aumentado o interesse na “marca da besta”, a qual é mencionada em Apocalipse capítulo 13. É provável que a tecnologia que hoje vemos representa os primeiros passos do que pode eventualmente se tornar a “marca da besta”. É importante que saibamos que um chip médico implantado não é a marca da besta. A marca da besta será algo dado apenas àqueles que louvam o anticristo. Ter um microchip médico ou financeiro inserido na sua mão direita ou testa não é a marca da besta. A marca da besta vai ser uma “marca” exigida no fim dos tempos pelo anticristo para comprar ou vender e será dada apenas àqueles que adoram ao anticristo.
Muitos expositores bons do livro de Apocalipse têm tido opiniões bastante diferentes sobre o que exatamente a marca da besta é. Além da opinião de uma “carteira de identidade”, outros têm especulado que é um microchip, um código de barras que é tatuado na pele, ou simplesmente uma marca que identifica alguém como sendo fiel ao reino do anticristo. Essa última opinião exige menos especulação, já que não adiciona mais informação ao que a Bíblia nos diz. Em outras palavras, qualquer uma dessas idéias é possível, mas ao mesmo tempo são apenas especulações, então teremos que esperar e ver o que acontece. Não devemos perder muito tempo especulando sobre detalhes que vão além do que a Bíblia diz.
O significado de 666 também é um mistério. Recentemente, muitas pessoas especularam que havia uma conexão 6 de junho de 2006 – 06/06/06. No entanto, de acordo com Apocalipse capítulo 13, o número 666 identifica uma pessoa, não uma data. Apocalipse 13:18 nos diz: “Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis”. De alguma forma, o número 666 vai identificar o anticristo. Por séculos, intérpretes da Bíblia têm tentado identificar certos indivíduos com 666. Nada é conclusivo. Por isso Apocalipse 13:18 diz que o número requer sabedoria. Quando o anticristo for revelado 2 Tessalonicenses 2:3 – 4), vai ser claro quem ele é e como o número 666 o identifica.
No livro do Apocalipse, há uma referência ao número do anticristo, que é 666, (Apocalipse 13:18). Na numerologia bíblica, 6 é o número do homem, inferior, menor que a perfeição, uma vez que sete é o número da perfeição. Então, 666 referem-se ao centro da natureza humanista. O livro do Apocalipse nos conta que o número 666, ou a marca do anticristo, será estampado sobre a mão, e a testa de todas as pessoas no mundo durante o reinado do anticristo. A testa representa nossos desejos, nossa volição, enquanto as mãos representam nossas atividades. De alguma forma, o anticristo deixará sua marca em pessoas em todos os lugares, levando-as a servi-lo. Não é uma utopia pensar que o anticristo poderia impor controle populacional por algum meio global. (Apocalipse 13:16 – 17).
A Bíblia nos avisa que, se nós tivermos a marca da besta, nós compartilharemos do seu terrível destino (Apocalipse 14:11). Ninguém precisa temer se vai receber a marca da Besta “acidentalmente”, por isso envolve a “adoração” da Besta (Apocalipse 13:15), e a decisão será clara o suficiente para ser uma questão de vida ou morte. Porém, nós devemos ser sensíveis mesmo hoje, pois, se nós considerarmos a testa como centro dos desejos e as mãos como sendo simbolicamente o que nós fazemos, parece que a marca é mais do que um instrumento tecnológico. O que estou realmente falando aqui é quem permanecerá fiel.
Em um aspecto real, o espírito do anticristo já está ativo (1 João 2:18). Daremos nós, ao espírito do mundo, nossas mentes e o nosso trabalho? Se a nossa lealdade é para Deus, nós não serviremos ao anticristo, e nós não tomaremos a marca sobre nós.
A explicação teológica mais sensata e aprofundada é: O verbo muda do passado para o presente no Apocalipse 13:12-18 e propicia uma narrativa mais vívida ao acelerar seu imediatismo e ritmo.
A visão da segunda metade do capítulo 13 inicia com a fórmula familiar “Então vi” (kai eidon). A aparição é outra (allo) besta (thēriou), que é similar a e ainda assim é diferente da anterior. Apenas uma vez esta figura referia-se à besta (sem artigo) em distinção daquela “do mar” (v.2). Nesta perícope, a besta da terra é ainda identificada somente por formas do pronome “houtos” (um pronome intensivo enfatizando identidade) e verbos na terceira pessoa, porém, mais tarde é identificada como o “falso profeta” (16:13; 19:20; 20:10).
A fórmula, “que saía da terra” (anabainon – ἀναβαῖνον), está em paralelo à outra besta (v.1) “que saia do mar”, porém, uma imagem literal é mais difícil de imaginar. A conclusão pode ser que no primeiro século o surgimento da primeira besta veio do outro lado do mar, enquanto a segunda se ergueu na Ásia Menor. Ou pode ser que o território da besta da terra seja mais limitado que o da besta do mar, tanto geograficamente quanto metaforicamente, uma vez que o mar representa o caos e a casa de maus espíritos. A ideia de que este simboliza o surgimento da besta a partir de “um estilo de vida terreno e rastejante” é improvável.
Os dois chifres da besta da terra em lugar de dez (cf. 12:3; 13:1) indicam o poder e a autoridade subordinados à “besta”. Alguns compreendem o significado dos dois chifres como mimetismo das duas testemunhas, castiçais e oliveiras (11:3, 4). A sua semelhança com o cordeiro pode ser uma alusão ao carneiro de dois chifres de Daniel (8:3, 20), que simboliza a oposição ao povo de Deus nas pessoas dos reis da Média e da Pérsia.
Após a interpretação dada em Daniel (7:24), Irineu acreditava que os chifres eram reis que dividiriam o Império Romano. A comparação irônica da besta da terra com um cordeiro parodia o “Cordeiro”, cujo poder supremo é indicado por seus sete chifres (5:6). A besta da terra pode parecer um cordeiro, mas fala como dragão, revelando sua verdadeira natureza e associação a Satanás e contraste com o Cordeiro-Leão (5:5, 6). A besta do mar fala blasfêmias, mas o discurso da besta da terra é mais sutil. Ela é um “falso profeta” (16:13; 19:20; 20:10), que, como os nicolaítas (2:6, 15) e Jezabel (2:20), engana e tenta convencer a igreja a seguir o dragão. A delegação de autoridade continua enquanto a “besta” compartilha o poder que recebeu do “dragão” (13:2), mas que, em última análise, vem de Deus.
A besta da terra exercia toda a autoridade da primeira besta, em nome dela (enōpion autou – ἐνώπιον αὐτοῦ “diante dela”). Os três formam uma antitrindade satânica na qual o papel da besta da terra parodia o do Espírito Santo, que atrai as pessoas para Deus (cf. João 14:16 – 27). A frase trata de um reino muito diferente, onde “Ó céus, e os que nele habitam”.
A blasfêmia final da besta da terra é que ele obriga as pessoas a adorarem a primeira besta. Identificar a “besta” como aquela cujo ferimento mortal havia sido curado remete ao versículo 3, embora uma das cabeças tenham recebido a ferida.
No versículo 13, a besta da terra cumpre a advertência de um falso profeta, que levaria as pessoas a adorar outros deuses através da realização de grandes sinais (Deuteronômio 13:1, 2; Mateus 24:23 – 25; Marcos 13:21 – 23; 2 Tessalonicenses 2:9, 10), Como Elias (1 Reis 18:38; 2 Reis 1:10), ela faz “descer fogo do céu à terra, à vista dos homens”.
O fogo também foi usado pelas “duas testemunhas” (11:5), no entanto, a motivação e os resultados são diferentes. As testemunhas mediam o julgamento de Deus, enquanto a besta da terra busca intimidar as pessoas a fazer uma aliança blasfema com a “besta”. Mais tarde na narrativa, o fogo cai do céu, sinalizando o julgamento do exército em torno de Jerusalém (20:9). Uma perspectiva de alternativa interessante é que o fogo imita as línguas de fogo associadas ao dom do Espírito Santo.
(14 – 15) Os versículos 14, 15 destacam a natureza derivada da autoridade da besta da terra. A frase “foi-lhe dado poder” (“Passivo divino” – 6:1, 2), confirma a soberania de Deus na passagem do poder do “dragão” para a “besta”, para a besta da terra (13:2, 12). Por causa dos sinais que a besta da terra faz, em nome da primeira besta, ele é capaz de enganar os habitantes da terra.
“Alguns manuscritos leem “tous emous” (meus) que habitam sobre a terra. Esta leitura incluiria a igreja no engano”.
Os sinais convencem os habitantes da terra a obedecer à ordem da besta da terra (ela ordenou-lhes é o particípio legōn seguido de um dativo, ou seja, literalmente, “dizendo- lhes). As pessoas, portanto, criam uma imagem (eikona) em honra da primeira besta. A cena lembra a estátua de ouro criada pelo rei Nabucodonosor da Babilônia que ou as pessoas adoravam ou enfrentavam a morte (Daniel 3:3 – 6; cf. o “Bezerro de Ouro” – Êxodo 31:8 – 32:29). A Igreja primitiva poderia referir-se a este cenário enquanto eles eram pressionados a prestar homenagem à figura de César como ser divino, mas antes o Antigo Testamento condenava a idolatria e ordenava a destruição de ídolos (Êxodo 32:20; 34:13; Deuteronômio 7:5; 12:3; Juízes 6:25; 2 Reis 10:26, 27; 23:6). Contudo, a imagem não pode estar confinada a uma identificação histórica estreita. Ela representa a adoração de qualquer coisa idólatra que substitua Deus.
A identificação da besta como aquela que fora ferida pela espada e, contudo revivera remete ao Apocalipse 13:3 e Aqui há o detalhe adicional de que a ferida veio de uma espada. Curiosamente, Nero se matou com um punhal e alguns esperavam que ele retornasse, porém esta associação é tênue. Outras ocorrências de espada no Apocalipse são sugestivas. A dois dos cavaleiros foram dadas espadas para fazer guerra (6:4, 8). O Cristo ressuscitado é retratado com uma espada, que representa a Sua palavra (2:16), que sai de Sua boca (1:16; 2:12; 19:15, 21). O versículo 15 retorna para a natureza derivada do poder da besta da terra com a afirmação de que foi-lhe dado poder. Desta vez, o feito é dá fôlego (dounai pneuma – δοῦναι πνεῦμα “dar espírito”) à imagem da primeira besta.
Isto é uma parodia do “sopro da vida”, dado por às duas testemunhas fiéis (11:11) e é uma imitação do dom do Espírito Santo de Deus para os cristãos. A ideia de uma estátua animada não era desconhecida no primeiro século. Há uma crença popular generalizada de que os deuses habitavam as estatuas e de que, através de rituais mágicos, elas poderiam ser levadas a falar. Embora existam muitos relatos antigos a respeito de animação de estátuas, existem também contas que lhes desmascaram e explicam a engenharia de estátuas falarem, incluindo o ventriloquismo, a iluminação falsa, e vários tubos de fala (cf. Harrington, 1993, p. 143).
A morte é o destino de todos os que não adorassem a imagem (NVI). Não está claro quem iria “causar” a sua morte, pois o sujeito do verbo (aoristo subjuntivo “poiēsē”, literalmente “que isso possa causar”) não está claro. Pode ser a própria estátua ou a besta da terra agindo em nome da “besta”. Uma vez que todos compartilham o poder derivado do “dragão”, a distinção não é importante. Em Apocalipse, o martírio é sempre uma possiblidade para as testemunhas fiéis, no entanto, esta afirmação não significa necessariamente martírio universal. O texto não menciona o pleno cumprimento da ameaça. Os cristãos do primeiro século da Ásia enfrentaram a pressão para participar de manifestações públicas de lealdade de ao culto imperial, mas não era tão difundido como se acreditava.
(16 – 17) Todos (pantas – literalmente “todo mundo”) está incluído no próximo requisito. O termo abrangente é seguido pela dupla de opostos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, a fim de enfatizar a totalidade da sociedade humana em todos os estratos socioeconômicos. Todos são obrigados a receber certa marca (ocorrendo um total de sete vezes no Apocalipse 13:16, 17; 14:9, 11; 16:2; 19:20; 20:4, sempre em relação à lealdade para com a “besta”). Há pelo menos quatro possíveis conexões históricas. Porque a marca deve estar na mão direita ou na testa, esta pode parodiar os filactérios. Judeus usavam estas pequenas caixas de couro, contendo partes da Lei no braço esquerdo e na testa, como intuito de lembrá-los de seu compromisso e lealdade para com Deus (Êxodo 13:9, 16; Deuteronômio 6:8; 11:18). A inversão irônica da marca da besta na mão direita pode ser uma perversão intencional da prática.
Porque “charagma – χάραγμα” significa “imagem”, a marca pode se referir a selos imperiais, que carregam a imagem do imperador. Estes selos apareciam em certificados emitidos aos participantes nas práticas cultuais e necessários. De modo semelhante, a marca pode estar relacionada a moedas romanas utilizadas no comércio. (cf. NOTA).
NOTA: Todo contrato de compra ou venda tinha um “charagma”, um selo. Sobre este selo estava inscrito o nome do imperador reinante e a data. O selo imperial era o sinal de um contrato que se tinha celebrado e tinha sido aceito. Se conectarmos a marca com este dado, significará que aqueles que adoram a besta aceitam sua lei e autoridade. Todo o dinheiro tinha gravada a cabeça do imperador e uma inscrição com seu nome, para demonstrar que lhe pertencia. Se a marca se relacionar com isto, também significa que aqueles que a possui pertencem à besta. A marca da besta pode relacionar-se com o costume, depois de ter queimado a medida de incenso e depois render culto ao César os cidadãos recebiam um certificado onde constava que tinha completo com a lei. Esse certificado era uma espécie de seguro contra a perseguição e a morte e dava o direito de comercializar.
A marca da besta pode ser o certificado de culto que o cristão só podia obter se renegava de sua fé e de seu Senhor. Quando tinha o certificado na mão era catalogado como adorador de César e negador de Cristo. Estas últimas explicações estão diretamente relacionados à exigência da marca, a fim de comprar e vender. Eles destacam as dificuldades econômicas dos cristãos do primeiro século em uma economia permeada de práticas idólatras. Exemplos de marca do Antigo Testamento para mostrar propriedade, lealdade e proteção incluem escravos recebendo voluntariamente a perfuração da orelha, para que se tornem escravos por toda a vida (Êxodo 21:5, 6; Deuteronômio 15:16, 17).
William Barclay declara: Às vezes os escravos domésticos eram destacados com a marca de seu dono. Entretanto, em geral era costume praticar esta marca só se tinham escapado ou tinham cometido uma falta grave. Esta marca recebia o nome de estigma. Até o dia de hoje falamos do estigma que implica uma ação desonrosa. Se a marca se relacionar com isto significa que aqueles que rendem culto são os escravos, quer dizer, que pertencem à Às vezes os soldados se marcavam com o nome de algum chefe por quem sentiam grande respeito. Em certo sentido, é o equivalente ao costume moderno de tatuar o corpo com a imagem ou o nome de uma pessoa muito querida. Se relacionarmos a marca com isto significa que aqueles que rende culto à besta são seus fiéis
Alguns veem significado no fato de que “tāw” podem ser escrita em grego como uma cruz ou a letra “Chi”, a primeira letra de “Christos”. Isto sugere uma caricatura da prática de fazer o sinal da cruz na testa de novos cristãos. No Novo Testamento Paulo fala de suportar as marcas de Jesus em seu corpo (Gálatas 6:17). Em Apocalipse, a marca da besta parodia o selo de proteção divino de propriedade sobre os 144.000 (Apocalipse 7:2 – 4; 9:4). A antitrindade coloca sua reivindicação sobre todos os outros, prometendo isenção na guerra de Satanás contra a igreja (12:17).
A marca é enigmaticamente identificada como o nome da besta ou o seu equivalente numérico. O número da besta é dado em 13:18. A frase “pois é número de homem” (arithmos gar anthopou estin – ἀριθμὸς γὰρ ἀνθρώπου ἐστίν) pode-se referir a uma pessoa em particular ou mais genericamente para cálculo humano. O único outro uso “anarthrous” (sem artigo) de anthrōpou num contexto semelhante no Apocalipse (21:17) significa claramente cálculo humano. Se o número se refere a um indivíduo específico, o recurso ao leitor sugere que é uma figura contemporânea conhecida dos receptores originais. O desafio de calcular a partir do número 666 o nome que ele representa tem sido tentado com resultados variados, desde o segundo século, quando Irineu advertiu contra conclusões precipitadas. A gama de diferentes possibilidades é aberta por alguns manuscritos, onde o número é 616.
A mudança pode ter sido intencional, pois a forma latina para o César Nero totaliza 616, porém, César Caio (Calígula), no grego, também totaliza 616. A palavra “besta”, quando transliterada para o hebraico (trywn), produz o valor numérico 666. Todavia, o genitivo (trywn) totaliza 616 e teria significado “pertencente a besta”.
Uma vez que o número sete simboliza a perfeição divina, o número seis é um sinal óbvio de pequena queda desta perfeição. Portanto, a ênfase tripla neste número pode simbolizar o pecado e arrogância de toda a humanidade separada de Deus e a busca por usurpar o lugar de Deus, como no episódio da torre de Babel (Gênesis 11:1 – 9).
Robert L. Thomas dá uma perspectiva muito razoável:
“A melhor parte da sabedoria é estar contente que a identificação ainda não está disponível, exceto quando o futuro falso Cristo “ascender ao trono”. A pessoa a quem se aplica 666 deve ter sido futuro em tempos de João, porque João queria dizer claramente que o número seja reconhecível para alguém. Se não fosse perceptível a sua geração e aqueles imediatamente após ele, e não o era- geração a quem será perceptível deve ter ficado (e ainda está) no futuro. As gerações passadas forneceram muitos exemplos desse futuro personagem, mas todos os candidatos últimos provaram ser inadequados com realizações. Os cristãos de geração em geração pode manifestar a mesma curiosidade como os profetas antigos sobre suas próprias profecias (cf. 1 Pedro 1:11 ), mas a sua curiosidade permanecerá insatisfeita até o momento da realização chegar”.
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