PSICOTERAPIA, MEDICAÇÃO OU AMBOS?
DE ACORDO COM IRVING KIRSH, AUTOR DO LIVRO: THE EMPEROR´S NEW DRUGS, A PSICOTERAPIA TEM ALGUMAS VANTAGENS SIGNIFICATIVAS SOBRE A MEDICAÇÃO, E QUE EU CONCORDO EM ABSOLUTO. VEJAMOS:
- A vantagem mais óbvia é que não é uma droga, o que quer dizer que não tem os efeitos secundários ou outros riscos que estão associados com a toma de drogas.
- A segunda vantagem é que pode ser usada de forma segura para tratar a depressão em crianças, adolescentes e jovens adultos, comparativamente os antidepressivos aumentam o risco de suicido nesta população tão específica.
- A terceira vantagem é que as pessoas tendem a abandonar menos a psicoterapia prematuramente do que param a toma de antidepressivos, e isto é ainda mais verdadeiro para quem sofre de níveis severos de depressão.
- Mas a maior vantagem de todas da psicoterapia sobre a medicação é que diminui a probabilidade de recaída depois das pessoas terem melhorado.
Porque razão a psicoterapia, seja de forma isolada ou em combinação com os antidepressivos, tem melhores resultados e mais duradouros que só com a medicação?
Se você tomar medicamentos e ficar melhor, irá atribuir a sua melhoria à medicação. Então quando você pára de tomar, irá certamente “esperar” vir a ficar pior novamente. Ao invés de interpretar as normais mudanças de humor que se fazem sentir numa situação de stress e problemas de vida, estes podem ser interpretados como um indicador que a depressão está a voltar, entrando num ciclo vicioso, em que as expetativas de uma possível recaída alimentam os sintomas da depressão, conduzindo a pessoa a uma eventual recaída.
Quando a pessoa recupera da depressão através da psicoterapia, as suas atribuições acerca da sua recuperação parecem ser diferentes do que aquelas pessoas que foram tratadas com medicação.
A psicoterapia é uma experiência de aprendizagem. A melhoria não é produzida por uma substancia externa, mas por mudanças que ocorreram na própria pessoa. É como aprender a ler, andar de bicicleta ou escrever, uma vez aprendido fica com você. Acrescento ainda que, parte daquilo que a pessoa possa aprender na terapia leva em consideração os recuos no seu humor e assim interpretá-los como parte normal da sua vida, ao invés de como indicadores de uma desordem subjacente e iminente de poder atormentar de novo a vida da pessoa.
PODE A DEPRESSÃO SER TRATADA COM ÊXITO?
Deve a depressão ser tratada tal como as outras doenças? Depende. Algumas formas de depressão leve a moderada e até mesmo severa são claramente respostas conjunturais, estabelecem uma forte relação com o stress, trauma, perda e outros eventos de vida. Estes problemas de adaptação chamados episódios depressivos ou até mesmo os principais podem ser completamente recuperados na maioria dos casos com tratamento adequado, especialmente psicoterapia. A depressão crónica e a depressão profunda, como distimia, transtorno depressivo recorrente grave, transtorno ciclotímico e transtorno bipolar necessitam de tratamento intensivo durante períodos prolongados de tempo.
Mas mesmo nessas condições aparentemente e relativamente intratáveis, com um programa de psicoterapia combinada com a farmacologia pode reduzir a gravidade e a frequência de sintomas depressivos e/ou episódios de hipomania ou mania. Através da abordagem psicológica e com a aplicação de psicoterapia promove-se a melhoria da recorrência de episódios da pessoa, a frequência e a gravidade dos episódios futuros pode ser diminuída.
Mas, enquanto o uso de medicamentos tem por objetivo a diminuição dos sintomas, exigindo doses crescentes e vários tipos de drogas para controlar as suas manifestações, a psicoterapia de abordagem cognitivo-comportamental (a que eu recomendo e pratico), pode realmente reduzir e até eliminar a dependência da medicação psicotrópica, assim como as distorções cognitivas e causas psicológicas incapacitantes.
Assim sendo: Eu diria que a depressão não é uma doença e que não deve ser tratada da mesma maneira como a diabetes. A depressão é uma síndrome biopsicossocial que exige muito mais do que a intervenção farmacológica. O que é lamentável é que a psicoterapia mais contemporânea, incluindo a Terapia Cognitivo-comportamental, não ofereça ainda uma abordagem totalmente eficaz para o tratamento da depressão mais severa e a depressão bipolar. Existe ainda a necessidade de avançar para uma psicoterapia mais eficaz, ao invés de se tentar provar e promover uma causa biológica. A procura desta causa biológica é motivada pelos elevados lucros que as companhias farmacêuticas ganham, fazendo passar a mensagem que: “sem os nossos medicamentos o seu problema não melhora”.
TOME CUIDADO NÃO SE DEIXE ENGANAR, ESCLAREÇA-SE
APRESENTO ALGUMAS QUESTÕES QUE O PODEM ELUCIDAR E AJUDAR A DECIDIR QUE RUMO TOMAR NO CAMINHO PARA A MELHORIA DA DEPRESSÃO:
- A depressão tem de ser uma doença porque é incapacitante e aversiva. Sim, a depressão é algo horrível e indesejado e está associado a deficiências mentais. Muitas doenças verdadeiramente reais são indesejadas e estão associadas a deficiências. No entanto, por algo ser mau não quer dizer necessariamente que seja uma doença. Febre, tosse e dor são desagradáveis e indesejáveis, mas estão longe de serem doenças, estas respostas são realmente de protecção da nossa saúde (sem capacidade para a dor, você está propenso a ficar gravemente ferido ou a morrer!). Portanto, este é um argumento falso.
- Mas os cientistas não descobriram já as áreas do cérebro que são responsáveis pela depressão? Esta é de fácil resposta. Embora não haja pesquisas que correlacionem padrões de estrutura cerebral ou função para os sintomas da depressão, quase nenhuma evidência, estabelece que um qualquer padrão cerebral é a causa da depressão, ao contrário de ser apenas um efeito da depressão (ou seja, sentir-se triste o tempo todo, altera as funções cerebrais. Isto parece-lhe interessante ou surpresa?). De facto, não existem nenhuns testes laboratoriais de espécie nenhuma, incluindo imagens cerebrais, que possam verdadeiramente diagnosticar a depressão. Um metáfora comum que é usada para suportar a ideia de que a depressão é uma doença, é que é como a diabetes. Deixando no ar a ideia de que uma pessoa deprimida necessita de antidepressivos (exemplo, de prozac) tal como o diabético precisa de insulina.Um problema com a metáfora é que, diferentemente da diabetes (e outras doenças físicas), não existem testes de diagnóstico ou até mesmo sinais mensuráveis da depressão que sejam independentes da descrição de sintomas da própria pessoa.
- Mas não é aceite que a depressão é genética? Se assim for, não é apenas uma questão de tempo até que os investigadores descubram os genes da doença? Sim, há evidências de que a depressão pode ter um determinado cariz hereditário. Mas isso não significa que a depressão é uma doença. Inteligência, extroversão, criatividade, e quaisquer outros traços são apenas características que tem sido estudadas podendo ser substancialmente hereditárias, mas acredito que concorde que a hereditariedade ligada à inteligência, extroversão e criatividade não faz desses traços doenças! Por outras palavras, só porque uma coisa é hereditária (ou seja, está relacionada à variação genética), isso não significa que seja uma doença. Quanto à busca por “genes da doença” específicos para a depressão, esta especulação não está indo muito bem. Talvez o gene candidato mais célebre para a depressão foi o ‘”gene transportador da serotonina”. No entanto, as evidências científicas que procuravam uma relação entre o gene transportador de serotonina e a depressão estão quase completamente desvendados. A maioria dos especialistas em genética comportamental não acham que venha a ser descoberto qualquer gene de grande efeito que explique a vulnerabilidade à depressão.
- E sobre a eficácia dos medicamentos antidepressivos? Não conquistaram a ideia de que a depressão é uma doença? Sim, os antidepressivos são eficazes na redução dos sintomas da depressão para a maioria dos portadores de depressão. Isto é uma coisa boa, mas a que preço? Assim sendo, isto não pode ser considerado um argumento decisivo forte.
- Primeiro, porque a eficácia dos antidepressivos está de certa forma exagerada.
- Segundo, estes medicamentos por si só parecem não ter nenhum tipo de eficácia para a melhoria da depressão. Eles são usados para uma variedade de tratamemtos de problemas clínicos diferentes incluindo o transtorno-obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares e dor neuropática. A não ser que estas condições tão diferentes sejam a mesma doença, o mais provável é que essas drogas não tratem qualquer dessas doenças ou processo específico por si.
- Terceiro, é sensato supor que um medicamento sempre nos transmite algo sobre a causa da doença para a qual é prescrito. Você concorda que seria absurdo argumentar que, porque a aspirina é útil para tratar uma dor de cabeça, quererá dizer que a dor de cabeça é causada pela falta de aspirina? Quão diferente é o argumento de que o Prozac e outros antidepressivos, por serem úteis no alívio de alguns sintomas da depressão, a depressão seja causada pela falta de um qualquer químico? Caso queira esclarecer-se melhor acerca deste tópico pondere ler o nosso artigo: Quebrando o mito dos antidepressivos.
RESUMINDO
Ponto 1: Gostaria que ficasse bem claro que não estou de forma alguma contra o modelo biomédico, nunca poderia estar, sem ele a humanidade estaria muito mais pobre e com imenso sofrimento. O que pretendi transmitir foi que este modelo não é o mais apropriado para o tratamento de algumas desordens, tal como a depressão.
Ponto 2: Para além de não ser apropriado, existem uma série de equívocos à sombra dos quais as pessoas que são afectas pela debilidade da depressão estão a ser alvo, prejudicando ainda mais um problema incapacitante para a sua vida.
Ponto 3: Como referi no artigo, quebrando o mito dos antidepressivos: Acresce aos pontos anteriores, o diagnóstico exacerbado de casos de depressão a pessoas que efetivamente não o estão (podendo eventualmente ter outros problemas não diagnosticados). A agravar ainda mais esta situação, muitas pessoas são na grande maioria das vezes mal diagnosticadas, se o diagnóstico fosse feito levando em consideração o DSM-IV (Manual de diagnóstico e estatística das desordens mentais), elas não cumprem os critérios de diagnóstico para a depressão, ainda assim este trilho negativo continua com um encaminhamento para um tratamento baseado na premissa que existe um desequilíbrio químico no cérebro responsável pela “doença”. Não existindo na verdade evidências científicas que suportem esta teoria. Caros leitores, estamos perante este cenário com um problema de saúde pública. Mantenham-se atentos.
Leituras complementares recomendadas:
- A Depressão não é uma doença, de Carlos M. Lopes Pires
- Manufacturing Depression, by Gary Greenberg
- The Emperor’s New Drugs: Exploding the Antidepressant Myth, by Irving Kirsh
QUAL A SUA OPINIÃO?
Será a depressão realmente uma doença? Participe com os seus comentários e as suas opiniões, neste debate sobre a depressão e a melhor forma de lidar com ela. Comente!
Abraço
Nenhum comentário:
Postar um comentário