“Sendo assim, eu me colocarei, como sentinela, sobre a torre de vigia; tomarei posição sobre a muralha; aguardarei para ver o que o Senhor, o meu Deus, me dirá e que resposta receberei aos meus questionamentos!”
Quanto mais conhecemos a alguém, mais seguros nos sentimos a respeito desta pessoa. Acredito que este princípio se aplica a tudo. A confiança e a segurança estão muito ligadas ao quanto de fato conhecemos e entendemos sobre algo ou sobre alguém. Como a fé, segundo a Palavra de Deus, é a convicção das coisas que não se podem ver (Hebreus 11.1), para chegarmos à tal convicção a respeito de algo, é necessário conhecer muito bem o objeto desta fé, a qual inspira confiança e segurança.
Podemos dizer que o profeta Habacuque foi um homem de fé. A propósito, seu nome significa “abraçar o entendimento”. Tudo o que se sabe da sua pessoa nos é comunicado pela tradição judaica e alguns documentos lendários como o relato apócrifo “Bel e o Dragão”. No registro bíblico, vemos que Habacuque foi convocado por Deus para a difícil missão de anunciar a decisão divina contra Judá. Os tempos já eram maus, e tudo se tornaria ainda muito pior com a invasão dos babilônios.
Em meio às más notícias, que ouviu da boca do próprio Deus, o profeta Habacuque tomou algumas decisões, que certamente merecem ser levadas em conta por nós. O segundo capítulo deste livro inicia com a expressão “sendo assim...”. Habacuque considerou tudo o que já havia sido dito; todos os seus clamores, suas súplicas, orações, mas principalmente considerou a resposta definitiva que o Senhor havia lhe dado “tudo irá piorar” (1.5-11).
“Sendo assim”, Habacuque decidiu tomar posição, vigiar e aguardar (2.1). Eis aqui outro princípio espiritual de grande valia para nós. Da mesma maneira como não se pode remar contra o curso do rio, não há como lutarmos contra a vontade de Deus. Nosso desejo é a cura, mas se Deus quer usar a enfermidade como o meio de trazer alguém para perto de si, o que podemos fazer? Buscamos incessantemente pela paz, mas se Deus quer se utilizar da guerra para o cumprimento do Seu propósito, o que nos resta fazer? A resposta para estas questões está neste princípio – não podemos fazer outra coisa, senão assumir nossa posição, vigiar e aguardar.
Não sabemos ao certo quanto tempo se passou entre o versículo 1 e o versículo 2 deste segundo capítulo. Mas, é maravilhoso observar que, logo após tomar posição, vigiar e aguardar, o profeta recebe sua resposta e algumas orientações da parte do Senhor (2.2). Algo assombrosamente grandioso estava para acontecer, por isto Habacuque deveria escrever a promessa do Senhor em tábuas, pois, além de um aviso, serviriam também como prova escrita para o futuro de que o Senhor cumpriu o que havia prometido.
Nesta resposta, Habacuque ouviu que toda injustiça e maldade seriam severamente punidas pelo Senhor. A expressão que aparece no texto “ai” é uma sentença de condenação terrível, e Deus executaria sua severa condenação contra todo enriquecimento ilícito (2.6-8), contra toda ganância (2.9-11), contra toda exploração, violência e crimes (2.12-14), contra toda embriaguez e imoralidade sexual (2.15-18), e também contra toda idolatria (2.19). Todavia, o cumprimento desta palavra não se daria naquele instante, mas aconteceria apenas “no tempo determinado” (2.3).
O segundo princípio espiritual presente neste capítulo nos mostra que Deus cumpre seus propósitos num tempo que Ele mesmo determinou para este fim, e pode ser que este tempo determinado por Deus seja depois que o nosso tempo aqui já tenha se esgotado. Seria realmente maravilhoso contemplar todos os cumprimentos das promessas de Deus pra nós, mas não e assim que funciona. Talvez nunca vejamos o cumprimento das promessas de Deus, e isso não significa que Deus deixará de cumpri-las, mas sim que o tempo de Deus não está preso ao nosso tempo de existência.
A carta aos Hebreus no Novo Testamento traz uma lista de servos do Senhor, que receberam a promessa de Deus, viveram aguardando o dia em que esta promessa se cumpriria, mas que morreram sem poder contemplar o cumprimento destas promessas, pois ainda não havia chegado o tempo determinado (Hebreus 11.36-40). Talvez você tenha recebido uma promessa do Senhor quanto à conversão de algum familiar; e se Deus prometeu, certamente esta conversão acontecerá. Entretanto, pode ser que este familiar se converta somente quando você já estiver diante do trono do Senhor, no céu.
Assim o justo viverá pela fé (Habacuque 2.4), pois ele conhece o Deus a quem serve. E ao conhecermos de fato o caráter de Deus, é possível assumirmos nossa posição de sentinela sobre a muralha, vigiarmos e aguardarmos o cumprimento da promessa, ainda que não vejamos a sua concretização. Quem sabe também não podemos fazer como Habacuque, escrever a promessa com clareza em grandes tábuas, para que até os que passam correndo consigam ler? “Porque a visão está para se cumprir no tempo determinado, e não falhará. Ainda que demore, esperaremos, pois certamente virá, não falhará” (2.3). Continua...
São Paulo - SP
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