“Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda. É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel” (Salmo 121.3,4).
É imprescindível a leitura do livro de Ester para a plena compreensão deste texto.
O extraordinário poder do comum
Pode ser uma tarefa difícil para nós enxergar o agir de Deus por meio das causas secundárias e dos seres humanos frágeis e pecadores. Porém, o que torna a soberania de Deus tão maravilhosa quanto misteriosa é exatamente essa capacidade divina de organizar as inúmeras ações humanas para o cumprimento do Seu propósito.
Nenhum cristão que acredita na Bíblia tem qualquer dificuldade em crer que Deus pode fazer e fez milagres. Entretanto, acreditar na soberania de Deus quando não é possível enxergar Sua “intervenção direta” é ainda mais importante que crer nos milagres que ele realizou ou pode realizar, pois essa é a forma mais comum de Deus agir em nosso meio.
É realmente incrível vivenciar algo extraordinário e ver o desfecho do propósito de Deus. Mas, precisamos entender que Deus é capaz de ordenar as ações humanas mais comuns do dia a dia de maneira a cumprir Seu propósito sem qualquer milagre. Neste texto, quero mostrar um dos exemplos bíblicos mais chocantes a respeito do agir de Deus no comum. A intenção é reafirmar que o Senhor se faz presente em cada detalhe da nossa vida, e que todas as coisas (até os mínimos detalhes) contribuem para o cumprimento do Seu propósito.
Uma das coisas mais espantosas sobre o livro de Ester é que o nome de Deus sequer é mencionado. Todavia, o leitor observador enxerga a mão de Deus em cada circunstância, trazendo livramento para Seu povo da mesma maneira que Ele, séculos antes, livrou o Seu povo do Egito por meio de poderosos milagres. Assim como Deus agiu (libertação do povo) através de grandes eventos sobrenaturais na época de Moises, Ele agiu (libertação do povo) através de circunstâncias comuns na época de Ester.
O clímax do livro de Ester é o capítulo 6. Antes dos eventos daquela noite (registrados neste capítulo), a vida de todos os judeus corria perigo devido a um plano maligno de um homem perverso chamado Hamã, que havia sido recentemente elevado a uma posição de destaque entre os nobres no reino Persa.
Porém, ao acompanharmos a narrativa do capítulo 6, vemos que os eventos começam a mudar completamente, chegando, por fim, à queda e morte do perverso Hamã, à salvação física dos judeus e à promoção de Mordecai (o herói da história) para a segunda posição mais elevada do reino. Uma vez que esta série de eventos, registrados no capítulo 6 de Ester, revela a maneira extraordinária de como Deus agiu através das circunstâncias mais comuns do dia a dia para realizar Seu propósito, vamos olhar para tais circunstâncias mais detalhadamente.
Naquela noite, o rei Assuero não conseguia dormir, então ele ordenou que o livro das crônicas do seu reinado fosse trazido e lido para ele. Durante a leitura, ele descobriu que Mordecai (que corria o risco de ser enforcado na manhã seguinte) havia, numa ocasião anterior, delatado uma conspiração para assassinar o rei. Assuero então perguntou que recompensa havia sido dada a Mordecai e descobriu que nada havia sido feito. Então, naquele mesmo instante, o rei resolveu honrar Mordecai e, acabou que Hamã (o próprio homem que estava determinado a enforcá-lo) foi quem teve de cumprir a ordem real de honrar publicamente a Mordecai.
Agora, considere comigo o que precisou acontecer para que Mordecai fosse livre da forca. Por que o rei não conseguiu dormir naquela noite? Por que ele escolheu a leitura das crônicas, em lugar de uma música suave que lhe ajudasse a dormir? Quando o livro foi lido, por que o leitor leu exatamente o trecho específico onde estavam registradas as ações de Mordecai? Qual era a probabilidade do leitor ter escolhido outra porção dos anais do império para ler?
O rei ouviu sobre os serviços prestados por Mordecai e perguntou como ele havia sido recompensado. Mas, por qual razão o rei não recompensou Mordecai no momento em que ele delatou a conspiração? Por que o rei resolveu fazer algo a respeito repentinamente? Por que Hamã apareceu justamente naquele momento para pedir permissão ao rei para enforcar Mordecai? Por qual motivo o rei Assuero perguntou a Hamã o que deveria ser feito para honrar o homem de forma a ocultar o objeto de seu favor, fazendo Hamã pensar que ele era a pessoa que seria honrada?
A resposta para todas essas perguntas não é outra senão que Deus estava agindo soberanamente através dos eventos mais comuns daquela noite para salvar o Seu povo. Cada detalhe da história, bem como cada ação individual contribuiu para o cumprimento do propósito do Senhor. Não houve milagre, nem sinais extraordinários. Contudo, os judeus foram livres pelo extraordinário poder de Deus, que age através do comum.
Será que Deus também sempre orquestra os eventos da minha vida para o meu bem? De acordo com Romanos 8.28 a resposta é um convicto “sim”. Esta segurança de que Deus trabalha em todos os eventos da nossa vida é que fornece sentido à exortação de Paulo: “Em tudo daí graças” (1 Tessalonicenses 5.18). Pois, como poderíamos dar graças a Deus por todas as circunstâncias de nossas vidas, se Ele não estivesse operando em cada uma delas para o nosso bem? Quão maravilhoso é enxergar o extraordinário poder de Deus no comum.
Texto baseado nos ensinamentos da obra de Jerry Bridges: Trusting God – Even When Life Hurts
São Paulo - SP
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