O motivo da oração. (Habacuque 3)
O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar em lugares altos” (Habacuque 3.19).
Você já se perguntou o que motiva as suas orações? Recentemente, numa conversa com um dos presbíteros aqui da igreja, comentei que tenho observado os pedidos apresentados pelos irmãos em nossas reuniões de oração. Percebi que, basicamente, todas as orações estão repletas de motivos pessoais. Não é errado apresentar a Deus os desejos e anseios do nosso coração. Inclusive, a quem mais apresentaremos? Não há outro Deus. Nem nos lugares mais distantes e improváveis, não há outro a quem nossa alma possa recorrer (Salmo 75.6).
Mas as reuniões de oração deveriam ser muito mais que a simples apresentação dos nossos anseios ao Senhor. Ele conhece nosso coração. Ele sabe de tudo aquilo que nós precisamos. Cada vez mais tenho sentido a necessidade de mudarmos esta prática em nossas reuniões chamadas “de oração”, e passarmos para um nível muito mais profundo, no qual passaremos a expressar a Deus não os nossos pedidos, mas nossa rendição e compreensão da Sua vontade sobre nós.
Após passar por toda aquela experiência de angustia e tribulação, vista nos dois primeiros capítulos deste livro, o profeta Habacuque se lança completamente no que se tornou para mim um dos mais belos exemplos bíblicos de oração. O terceiro e último capítulo do livro de Habacuque é o impressionante registro daquilo que havia em seu coração após compreender que a vontade de Deus era totalmente diferente daquilo que ele mais desejava.
O texto sagrado nos traz a informação de que toda a sua oração foi proferida e elevada a Deus sob a forma de canto (Habacuque 3.1). Você consegue se imaginar num momento a sós com o Senhor, ou até mesmo junto de outros irmãos, em que a sua expressão de oração seja cantada? Sem dúvidas, deve ter sido um momento muito especial. Esta oração também expõe diversos princípios espirituais, que servem para nossa maior compreensão a respeito de Deus, dos quais quero ressaltar três.
O primeiro princípio está no verso dois: “eu ouvi falar da tua fama e tremo diante dos teus atos, Senhor! Realiza de novo, em nossos dias, as mesmas obras maravilhosas que fizeste no passado; faze-as conhecidas por todos também em nossa época...”. Apesar de não ver a transformação das circunstâncias em sua época, Habacuque louva ao Senhor pelas grandes intervenções divinas em épocas passadas.
Se pararmos para observar aquilo que temos registrado do que o Senhor já fez no mundo, em diversas épocas, certamente encontraremos motivos de louvor em qualquer situação. Talvez, nem precisemos ir tão longe. Basta nos lembrarmos do que Deus já fez por nós em alguns anos atrás, ou até mesmo daquilo que Ele já realizou na vida das pessoas que nos cercam. O fato é que não necessitamos de experimentar a ação de Deus em nossas circunstâncias do presente, para termos a convicção e Ele é tão maravilhoso quanto poderoso, pois certamente sua fama se estende por todos os lugares e gerações.
O segundo princípio está no verso dezesseis: “Assim que eu ouvi tudo isso, as minhas entranhas se comoveram, meus lábios tremeram; meus ossos desfaleceram; minhas pernas vacilaram. Pois em silêncio devo esperar o dia da angústia, que virá contra o povo que nos acomete”. Imagem só o sentimento do profeta, que após tanto clamor e tanta oração, descobriu que o que ele deveria fazer era esperar em silêncio.
Em alguns momentos, é necessário fazermos calar as inquietações do nosso coração, para ouvirmos o que o Senhor tem a nos dizer. Se no início do livro é possível ouvir os constantes gritos de socorro do profeta, tudo o que se ouve agora é o canto de alguém que compreendeu o valor do silêncio. O profeta Jeremias também nos ensina sobre o valor do silêncio diante da soberania de Deus: “bom é aguardar a salvação do Senhor, e isso em silêncio” (Lamentações 3.26).
Desde criança aprendi que “Deus tem três respostas: sim; não; espere”. Se há temos orado, buscado algo específico do Senhor, mas ainda não obtivemos a resposta que tanto ansiamos, não seria sábio simplesmente esperarmos em silêncio, expressando assim nossa confiança na decisão de Deus, seja ela qual for?
O terceiro princípio está contido nos versículos dezessete e dezoito. “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação”. Acredito que o cântico espontâneo de Habacuque, especialmente este trecho, foi e é reproduzido em todos os lugares em que a Palavra de Deus chegou.
Note que todos estes exemplos implicam em expectativas frustradas. Tudo o que ele mencionou envolve trabalho: frutos nas plantações, alimentos nos campos, gados nos currais. Em outras palavras, o profeta declara que, ainda que todo o seu esforço, trabalho, empenho resulte em coisa alguma, e ainda que todas as suas expectativas por resultados satisfatórios sejam frustradas, seu coração estará firmado em quem Deus é.
Para mim, este é um dos livros bíblicos mais profundos sobre oração. Pois revela-nos que os sonhos, as necessidades, as expectativas não podem ser aquilo que nos motiva a nos relacionar com Deus através da oração. Após compreendermos toda esta experiência de Habacuque, desde o inicio do primeiro capítulo até este ultimo verso, e decidirmos aplicar tais princípios em nossa vida, as circunstâncias ao nosso redor continuarão as mesmas. Entretanto, nossa visão acerca de tudo ao nosso redor, nunca mais será igual.
São Paulo - SP
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