Para aprofundar este assunto, pondere ler os artigos:
As industrias farmacêuticas têm sido profícuas na transmissão da ideia (ilusória): “Basta tomar a medicação, tal como prescrita e a droga fará o resto por si”. Estas atividades de marketing têm tido um profundo impacto no diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais um pouco por todo o mundo. Mais pessoas que nunca estão sendo diagnosticadas com depressão, e mais pessoas que nunca estão a ser alvo de prescrição de medicamentos para a depressão. Poucas pessoas estão recebendo terapia porque as drogas antidepressivas são prontamente disponibilizadas. Acresce o facto de a terapia psicológica não ser uma opção de tratamento no Sistema Nacional de Saúde (isto em Portugal).

MITO 6: A DEPRESSÃO É ALGO QUE VOCÊ “APANHA”

É tentador falar da depressão como algo que você “apanha”, tal como se tratasse de uma constipação. Dizer que você tem uma constipação, sugere que a constipação lhe infligiu uns quantos sintomas sem que necessariamente fosse culpa sua. Na verdade é quase impossível proteger-nos totalmente de apanhar uma constipação, devido às inúmeras possibilidade de sermos expostos aos organismos infecciosos. Muitas são as vezes que algumas pessoas falam acerca da depressão de uma forma muito similar, como se fosse algo que se apanha de forma misteriosa, como se algo vindo do céu descesse na pessoa e  a afectasse.  Isto implicava que não existisse qualquer relação entre a situação de vida da pessoa, as suas estratégias de resposta  (lidar com as situações), e o desenvolvimento da depressão.
Se isto fosse verdadeiro, a pessoa deprimida nunca teria qualquer responsabilidade sobre o seu estado, adotaria uma posição passiva e de vítima, tal como uma pessoa que apanha uma constipação na grande maioria das vezes não é responsável. Esta é uma forte razão para que a explicação biológica e genética da depressão seja tão popular. Foi criada a ideia que você é vítima da depressão e consequentemente não é da sua responsabilidade, sendo que à luz desta concepção a única possibilidade de tratamento é através da medicação.  Mais uma vez puro engano.

Na grande maioria das vezes em reação a uma determinada situação de vida, a pessoa começa a alterar alguns dos seus comportamentos do dia-a-dia, e sem tomar plena consciência começa pouco a pouco a manifestar alguns dos sintomas da depressão. Pode ser difícil para a pessoa perceber o efeito a longo prazo desta sua mudança comportamental, pois a atitude adotada parece-lhe ser a melhor. Por isso, não é uma escolha consciente que as pessoas fazem, elas não sabem que estão a comportar-se de uma forma que pode contribuir para o desenvolvimento da depressão. No desenrolar da vida diária, estas escolhas simplesmente acontecem, elas parecem ser inocentes e bem intencionadas para o momento que a pessoa está a viver.

No entanto, o que importa perceber, é que, quer seja de forma consciente ou menos consciente, o aparecimento dos sintomas da depressão estabelecem sempre uma relação com as coisas que a pessoa passou a fazer ou deixou de fazer.
Uma forma mais clara de explicar o desenvolvimento da depressão é que tem a ver com dois tipos de evitamento:
  • Evitam-se sentimentos potencialmente desagradáveis
  • Evita-se a situação que faz disparar esses sentimentos desagradáveis
Quando estes dois tipos de evitamento acontecem a maior parte dos dias, na maior parte das vezes durante a maior parte do tempo, você fica com depressão.

depressãoESCLARECIMENTO

A ideia que gira em torno de que os comportamentos que temos podem produzir a depressão, é uma ideia nova para a grande maioria das pessoas, mas existe uma profunda razão para que eu queira transmitir-lhe esta informação. 

Eu quero encorajá-lo a olhar esta ideia por aquilo que ela é: Uma tentativa de transmitir-lhe uma nova forma de olhar a depressão como ela é. Não pretendo passar-lhe a ideia de culpa-se a si mesmo por ter depressão. Quero sim, passar-lhe a informação e a esperança de que existe uma forma eficaz de superar a depressão, e que essa forma de superar a depressão está ao seu alcance e depende de si, está sobre o seu controlo.

Assim que você perceba a depressão por aquilo que ela é, sem equívocos, ao invés de uma forma deturpada e manipulada por uma máquina colossal que tem por objetivo gerar fortunas, você ficará numa posição mais capacitada para começar a fazer alguma coisa para ultrapassa-la. Aquilo que a depressão parece ser é um conjunto de sintomas físicos, emocionais e mentais  que podem ser esmagadores se não forem levados em consideração como um todo. Na verdade, a depressão tem a ver com um conjunto de experiências que o informam que algo está fora de equilíbrio relativamente à forma como você se relaciona com a sua vida. A depressão não pode considerar-se um acidente da natureza, foi “desenhada” ao longo da evolução da humanidade para dizer-nos algo importante acerca de como a nossa vida se desenrola.

Ao invés de olhar para a sua depressão como uma assombração, você pode aprender a aceitar o seu momento de vida e perceber a depressão como uma consequência natural da sua situação de vida, dos momentos difíceis que atravessa e da forma como lhes está a responder.
Neste preciso momento, aqui mesmo, você pode deixar de massacrar-se por estar deprimido e olhar para si com compaixão. Direccione a energia que ainda lhe resta para resolver o dilema que o mantém agarrado e preso à desmobilização de vida.

Você pode fazer algo por si, você tem a possibilidade de superar a depressão olhando para ela como ela realmente é: Uma forma de você relacionar-se consigo, com os outros e com o mundo.
 Abraço,

AUTOR 

É também preparador mental de atletas e equipas desportivas,
 treinador de atletismo e formador na área do rendimento desportivo