Um dos melhores livros sobre santificação
Nos primeiros séculos de existência da igreja, apologistas cristãos por vezes apelavam para a vida distintamente santa de cristãos como evidência da verdade do cristianismo. Será que um apelo desse tipo seria de alguma utilidade hoje? De acordo com várias pesquisas, o comportamento de cristãos professos não é visivelmente diferente do comportamento daqueles que professam outras religiões, ou nenhuma religião. A frase que muitas vezes se ouve da boca de pagãos que observam o comportamento cristão contemporâneo é: “A igreja está cheia de hipócritas”. Não deveria ser assim. Adoramos um Deus santo que chama seu povo para ser santo e que forneceu os meios pelos quais eles podem ser santos.
O problema do cristianismo negligente e hipócrita não é novo, e um dos melhores tratamentos de todo o assunto é um clássico escrito por J. C. Ryle (1816-1900), que serviu como bispo anglicano de Liverpool por vinte anos. Ryle era um cristão evangélico profundamente compromissado, mas que não cedia a pressões. Charles Spurgeon, inclusive, referiu-se a ele como um “herói do evangelho”. Seu livro Santidade foi reimpresso diversas vezes desde sua publicação original, em 1879. Ele é merecidamente considerado um clássico cristão sobre o assunto da santificação, podendo ser classificado no mesmo nível da obra de John Owen sobre a mortificação do pecado.
Li pela primeira vez Santidade, do bispo Ryle, cerca de vinte anos atrás. O livro foi profundamente convincente e teve um impacto duradouro em meu pensamento. O trabalho de Ryle é convincente porque ele não apela para truques tolos ou outras respostas humanas para o problema do pecado. Ele apela continuamente para a Escritura, a Palavra do Deus vivo, e alcança o cerne da Palavra de Deus através de sua aplicação cuidadosa e direta. Se você é complacente com seu pecado e não quer ser incomodado na apreciação dele, não leia Ryle. Este é um livro sobre a necessidade de santificação, sobre a necessidade de santidade. Ele lida com assuntos de peso, os de maior peso, na verdade: Deus, o pecado, Jesus Cristo, o evangelho, o Espírito Santo, justificação, santificação, céu e inferno. É um livro para aqueles que querem ir além do leite e chegar à substância da Palavra.
Francamente, alguns livros cristãos mais antigos são difíceis de ler por causa do estilo de escrita que era comum em épocas anteriores. Para os leitores contemporâneos, muitas dessas obras parecem secas e prolixas, tediosas e maçantes. Eu mesmo já me deparei com muitos livros assim, mas Ryle não se enquadra nessa categoria. Sua escrita é mais comparável à de alguém como Charles Spurgeon. Ele escreve com tal intensidade e paixão que o leitor não consegue ficar entediado facilmente.
O livro em si contém vinte capítulos que tratam de diversas questões relacionadas à santidade, e um capítulo contendo citações sobre o assunto de escritores cristãos mais antigos. Na seção principal do livro, Ryle dedica capítulos inteiros para temas como o pecado, a santificação, a natureza do cristianismo como uma luta, calcular os custos, o crescimento na graça, a segurança, a igreja e o amor de Cristo. O capítulo introdutório sobre o pecado é talvez o capítulo mais importante de todo o livro, porque visões erradas da salvação e da santidade são inevitavelmente baseadas em visões erradas do pecado. Como Ryle explica: “Se um homem não percebe a natureza perigosa da doença de sua alma, não é de se admirar que ele se contente com remédios falsos ou imperfeitos”.
Um dos erros mais comuns quando se discute a santidade é cair na visão de que estamos de alguma forma justificados diante de Deus por nossa santidade. Ao longo deste livro, Ryle tem o cuidado de observar a distinção entre santificação e justificação. A justificação é pela fé somente, em Cristo somente. Mas aqueles que foram justificados produzem o fruto do Espírito e crescem em santidade. Em outras palavras, são santificados por Deus. Eles então devem amar a Cristo e as coisas que ele ama. Isso é muito fácil de esquecer em nossa época, em que ir à frente de um palco é considerado conversão, mas andar na luz é considerado opcional.
Quer você tenha sido um cristão por dez meses ou dez anos, encorajo você a ler Santidade, de Ryle. Suas palavras irão exortá-lo, convencê-lo, incentivá-lo e desafiá-lo. Seus capítulos irão conduzi-lo a cavar fundo nas Escrituras, e então você verá que a santidade não é opcional para o cristão. Devemos nos esforçar pela santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). Devemos andar pelo Espírito e não satisfazer os desejos da carne (Gl 5.16). Devemos amar o Senhor porque ele nos amou primeiro (1Jo 4.19) e amar o nosso próximo como a nós mesmos (Mt 22.39).
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